Messias (Händel) Nota: "O Messias" redireciona para este artigo. Para outros significados, veja Messias (desambiguação).
O Messias (Messiah) (HWV 56, 1741) é um oratório de Georg Friedrich Händel com 51 movimentos divididos em 3 partes, durando entre cerca 2h 15min e 2h 30min. Deve notar-se, desde já, que o tempo varia em função das diferentes interpretações (como qualquer outra composição musical que se mede por compassos e não por minutos). Embora o 44.º movimento (o célebre "Aleluia") seja reconhecível por qualquer pessoa (mesmo não sabendo a que obra pertence ou que compositor a escreveu), a obra "O Messias" não é tão conhecida na sua totalidade como merecia. A maior parte das vezes, os programas de concertos apenas escolhem alguns movimentos (recitativos, árias e corais), perdendo assim o sentido integral e unitário da obra. Se a "fama" e o grau de popularidade fossem critérios válidos de apreciação estética, considerar-se-ia a mais famosa criação de Händel. Por razões de economia de tempo e em virtude das práticas artísticas da segunda metade do século XIX e primeira do século XX, algumas edições e interpretações de "O Messias" apresentam-se divididas apenas em 2 partes e com inúmeras variantes. O oratório foi concebida como um tríptico, sublinhando simbolicamente a importância do nº 3 na cultura teológica. Da mesma forma, o número de músicos pensado pelo compositor para a sua interpretação era muito menor do que habitualmente se assiste nos grandes concertos (rondariam os 60 músicos, incluindo coro, orquestra e solistas). Existem já várias interpretações / gravações que se regem pelo rigor e respeito historicista, baseando-se em estudos multidisciplinares de forma a reproduzirem o mais fielmente possível as práticas musicais da época. Em "o Messias" assistimos a diversos relatos em torno Jesus Cristo desde a sua anunciação profética, o seu nascimento, vida, morte e ascensão. vide: céu. Assim: 1ª Parte — Apresenta a profecia e o nascimento de Jesus; 2ª Parte — Relata episódios da Paixão, culminando no coral "Aleluia"; 3ª Parte — Descreve o tema da Redenção. HistóriaEm 1741, Händel recebeu um convite do Lord Lieutenant da Irlanda para ajudar a angariar dinheiro para três instituições de caridade de Dublin através de apresentações musicais. Embora doente nessa época, Händel estava determinado a compor um novo oratório sacro para a ocasião, pedindo a Charles Jennens (libretista de Saul e Israel in Egypt) um tema apropriado. Jennens respondeu com uma criteriosa recolha de versículos e escrituras do Velho e Novo Testamentos arranjados num "argumento" em três partes (como ele o descreveu). O resultado foi o mais conhecido e amado oratório de Händel. A obra estreou-se em Dublin, no período da Páscoa, em 13 de abril de 1742. À época, o texto suscitou controvérsia com jornais ponderando sobre sua natureza "blasfema". A obra acabada, contudo, teve outra recetividade, sendo elogiada em Berlim e depois em Londres. Händel fez várias revisões subsequentes, incluindo uma versão criada em 1754 para o "Thomas Coram's Foudling Hospital" (fundação para a educação de crianças abandonadas à qual Händel passa a dedicar mais tempo a partir de 1749). Atualmente ainda é um obra muito apreciada e requisitada para os eventos natalícios, embora frequentemente apenas a 1ª Parte e o "Aleluia" (com que encerra a 2ª Parte) sejam interpretados, não respeitando a integridade do oratório. O costume de o público colocar-se de pé para ouvir o coro "Aleluia" se origina da crença de que, na estreia de Londres, o rei George II o fez, o que obrigaria a todos a permanecerem de pé. Não há evidências convincentes de que o rei estivesse presente ou que ele tenha assistido a qualquer performance subsequente de O Messias; a primeira referência da prática de permanecer em pé aparece em uma carta datada de 1756, três anos antes da morte de Handel.[1][2] Visão geralO nome do oratório foi tirado do conceito judaico e cristão de messias. Para os cristãos, o Messias é Jesus. O próprio Händel era um cristão (como, aliás, a esmagadora maioria da população da Europa Ocidental no séc. XVIII, embora as diferenças entre catolicismo e protestantismo fossem motivo de enormes cisões, guerras e orientações estéticas diferentes) devoto e a obra é uma apresentação da vida de Jesus e de seu significado de acordo com a doutrina cristã. Será necessário esclarecer esta aparente contradição entre "ter seguido a doutrina cristã" e "ter provocado acusações de blasfémia" por parte dos jornais ingleses. É importante notar que o "Messias" é uma obra religiosa mas não é sacra, isto é, trata de temas religiosos mas não é um música para ser tocada em contexto litúrgico. A Igreja, enquanto instituição, sempre foi conservadora no que respeita à liturgia, e esta não era concebida como um espectáculo. Daí a diferenciação que tem que ser efectuada entre a "ópera" enquanto género musical e o "oratório". Por outro lado, as tradições musicais do sul da Europa (católico) e o norte (protestante) eram bastante diferentes. No sul, o barroco mostrava-se mais "espectacular" e "operático", enquanto no norte, particularmente na Inglaterra, a simplicidade e depuração estilística constituíam a regra em termos litúrgicos. Mesmo dentro da Igreja, as opiniões divergiam no que respeitava ao "oratório". Mesmo que não houvesse lugar à encenação, a Igreja mais conservadora repudiava a prática do oratório, porque, afinal de contas, eram utilizadas escrituras sagradas para efeitos cénicos e espectáculo público. Foi em torno destas questões que alguns jornais ingleses mais conservadores consideraram a obra blasfémica. À parte destas questões, o "Messias" é, acima de tudo, uma obra imersa em espiritualidade. Para os crentes e fiéis é uma prova da mais fervorosa devoção e reforço na fé. Para os não-crentes, para além do desafio intelectual, o "Messias" condensa várias emoções espirituais, consideradas mais na esfera da humanidade que na da divindade. Para uns e outros, Händel almejou com a seu oratório um objecto imaterial de profundo e enorme prazer estético. O Messias é a obra mais famosa de Händel (talvez seguida pela Música aquática), pela suite instrumental "Music for the Royal Fireworks" e pelo denominado "Largo de Händel" (a 1ª ária da ópera Xerxes ou Serses — Ombra mai fu), continuando imensamente popular entre todos os ouvintes de concertos, particularmente anglófonos. Apesar de Händel ter intitulado o seu oratório simplesmente de Messias (sem o "O"), a obra é amplamente conhecida erroneamente por O Messias. Este título popular é tão comum que alguns leigos consideram errada a versão correta. Apesar da obra ter sido concebida para a Páscoa e nela ter sido apresentada pela primeira vez, após a morte de Händel tornou-se tradição executar o oratório durante o Advento, o período preparatório para as festas do Natal, mais do que na Páscoa. Os concertos de Natal quase sempre apresentam apenas a primeira parte do Messias junto ao coro "Aleluia", no entanto algumas montagens apresentam toda a obra como um concerto de Natal. A obra é também executada no domingo de Páscoa e partes contendo temas da ressurreição são frequentemente incluídos nos serviços de Páscoa. A ária soprano "Sei que vive meu Redentor" é também frequentemente ouvida em funerais. ComposiçãoO "Messias" divide-se em três partes. Assim, após a "Sinfonia" de abertura (um andamento com indicação de tempo em "Allegro"), temos: 1ª Parte — Apresenta a profecia e o nascimento de Jesus; 2ª Parte — Relata episódios da Paixão, culminando no coral "Aleluia"; 3ª Parte — Descreve o tema da Redenção. O oratório é composto por 51 movimentos que, após a Sinfonia de abertura (Allegro) dá lugar a um Recitativo com votos de esperança aos servos do Messias ("Comfort ye my people") passando logo em seguida para profecias apocalípticas ("Thus saith the Lord") oriundas de profetas do Velho Testamento ("And the glory of the Lord") e chegando à anunciação da vinda (Behold, a virgin) e ao nascimento do Messias (For unto us a child). Seguidamente, a vida do Messias começa a ser desvendada (exemplo: "His yoke is easy") e sua morte profetizada passa a ser anunciada ("Behold the lamb"). Em Surely he hath borne há uma dramatização baseada no martírio de Jesus Cristo. Após 41 movimentos e no final da 2ª Parte, é apresentado o mundialmente conhecido coral Aleluia, onde, em tese, se demonstra toda a alegria pela vitória do Messias sobre a morte e o pecado, após a concretização das profecias enunciadas na 1ª Parte. O coro, apoiado principalmente no agudo das vozes femininas (soprano, altos, etc), demonstra felicidade da vitória do Messias e tal também apoiada na repetição contínua de certas expressões como Hallelujah e esta é repetida, próximo ao final desse movimento, após uma breve pausa de 3 segundos, termina a ser cantada extensivamente por aproximadamente 12 segundos: ... / For the lord God omnipotent reigneth / Hallelujah hallelujah hallelujah hallelujah ... / And He shall reign forever and ever ... / King of kings forever and ever / And Lord of lords / hallelujah hallelujah ... / Forever and ever and ever and ever / (King of kings and Lord of lords) ... / Hallelujah hallelujah / hallelujah hallelujah / Hallelujah O tempo total da obra é de aproximadamente duas horas e vinte e cinco minutos (2h25m14s), mas pode variar de acordo com a versão e os intérpretes.
ReferênciasBibliografia
Ligações externasControle de autoridade
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