Manuel Múrias
Manuel Maria Múrias Júnior (Carrazeda de Ansiães, 3 de Abril de 1900 — Anjos, Lisboa, 23 de Julho de 1960) foi um político e publicista português. BiografiaNascido em Carrazeda de Ansiães, Distrito de Bragança, a 3 de abril de 1900, foi batizado nessa localidade a 27 de maio de 1902, filho de Manuel Maria Múrias, escrivão de Direito e tabelião da Comarca de Carrazeda de Ansiães, natural de Travanca (Mogadouro), e de Emília de Jesus Moutinho, natural de Seixo de Ansiães.[1] Cedo foi para Lisboa, cidade onde se licenciou, em 1922, em filologia românica pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, enveredando pela carreira docente, atingindo o cargo de professor efectivo da Escola do Magistério Primário de Lisboa.[2] Em 1923, foi publicado em livro O Seiscentismo em Portugal, trabalho que resulta do desenvolvimento da sua tese de licenciatura, alvo de forte discussão na imprensa intelectual da época. O trabalho de Múrias foi fortemente criticado por António Sérgio, na revista Lusitânia, devido ao alegado foco excessivo no eruditismo, revisionismo histórico e antirracionalismo. Sérgio logo entrou numa polémica com António Sardinha, que defendeu o trabalho de Manuel Múrias, com nova resposta de Sérgio na Seara Nova após a morte de Sardinha. Múrias, por sua vez, respondeu criticamente a António Sérgio quando dirigia a revista Nação Portuguesa. Se, inicialmente, o pensamento de Múrias se aproxima do de António Sardinha, numa conceção universalista da vocação colonizadora portuguesa, associada à teoria hispanista defendida por Sardinha, numa fase mais avançada acaba por defender a posição de Portugal num eixo atlântico (juntamente com África e o Brasil), de vocação teleológica, com vista ao cumprimento de Portugal como nação.[3] A 23 de julho de 1925, casou em Lisboa com Aurora Joaquina Lebroto Baptista, natural de Lisboa, filha de Abílio Damásio Baptista, natural de Serpa, e de Acácia Lebroto, natural de Lisboa e batizada em Santarém.[4] Aderiu à segunda geração do Integralismo Lusitano.[5] Esteve envolvido com o grupo civil que apoiou várias das tentativas revolucionárias contra a Primeira República Portuguesa, afirmando-se que a proclamação que o general Gomes da Costa difundiu em Braga no lançamento do Golpe de 28 de Maio de 1926 foi redigida por Manuel Múrias.[6] Tem também colaboração na revista Ordem Nova[7] (1926-1927). Acabou por se desvincular do Integralismo Lusitano em 1928, juntamente com Pedro Teotónio Pereira, António Rodrigues Cavalheiro e Marcello Caetano.[3] Na década de 1930, fez-se membro do Movimento Nacional Sindicalista, cujo Grande Conselho integrou. Cedo se distinguiu como escritor e publicista, sendo uma das vozes mais ouvidas na defesa dos ideais do integralismo e da visão nacionalista que esteve na origem do Estado Novo, o qual encarava como "restauração cultural" para fazer face à crise de nacionalidade deixava pela Primeira República. Afastou-se do Movimento Nacional Sindicalista e liderou o grupo de Camisas Azuis que apoiou abertamente António de Oliveira Salazar e o não retorno à democracia após a Ditadura Nacional, sendo acompanhado nesta linha, entre outros, por José Cabral, Costa Leite e Eusébio Tamagnini. Coube-lhe dirigir o periódico ligado ao grupo, o Revolução Nacional (1934). Em 1933, afastou-se dos Camisas Azuis e passou a integrar a União Nacional.[3] A 5 de outubro de 1937, foi agraciado com o grau de Comendador da Ordem Militar de Sant'Iago da Espada.[8] Esse destaque, o seu ideário conservador e nacionalista, assente da necessidade de afirmação da "especificidade nacional" de Portugal, e o seu claro apoio às teses salazaristas levaram a fosse escolhido para dirigir, de 1943 a 1956, o Diário da Manhã, órgão oficial da União Nacional, o agrupamento político que suportava a ditadura, sendo o principal publicista do regime. Nessas funções, dirigiu as revistas A Nação Portuguesa e Ocidente e mais tarde o jornal Acção.[3] O seu trabalho de publicista levou-o a integrar diversas comissões, entre elas a Comissão Nacional das Comemorações Centenárias (1939-1940) tendo colaborado na Revista dos Centenários[9] publicada por ocasião da Exposição do Mundo Português, e secretário-geral da comissão organizadora do Congresso do Mundo Português. Para essas comissões, dedicou-se à escrita sobre temas da história da expansão portuguesa, publicando diversos estudos sobre a história portuguesa dos séculos XVI e XVII, em especial sobre questões do colonialismo português, tema sobre o qual escreveu vários artigos publicados pela Agência Geral das Colónias. Da sua obra escrita, consta um notório antissemitismo que, embora não central na sua obra, está presente em trabalhos como O Seiscentismo em Portugal e Portugal:Império.[3] Entre os seus estudos de história conta-se a colaboração com António Baião e Hernâni Cidade na edição da História da Expansão Portuguesa no Mundo, obra editada entre 1937 e 1940. Também é autor das obras Portugal: Império (1939), História Breve da Colonização Portuguesa (1940) e A Restauração e o Império Colonial Português (1942). Também se dedicou à actividade política, tendo sido deputado à Assembleia Nacional, onde foi um dos mais destacados ideólogos do regime, entre 1942 e 1957, cumprindo quatro legislaturas. Paralelamente, desempenhou diversos outros cargos e funções, entre os quais o de secretário e vogal da Junta de Educação Nacional, inspetor do ensino colonial, de director do Arquivo Histórico Ultramarino e censor da Academia Portuguesa da História.[3] Foi sócio da Academia Portuguesa da História. Publicou alguns livros, de intenção histórica e ideológica:
Morreu a 23 de julho de 1960, na freguesia dos Anjos, em Lisboa.[1][4] Notas
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