Maluda

Maluda
Nascimento 15 de novembro de 1934
Goa, Goa Norte, Pangim
Morte 10 de fevereiro de 1999 (64 anos)
Lisboa
Nacionalidade Portugal Portuguesa
Ocupação Pintora
Prêmios Prémio "Gustavo Cordeiro Ramos" da Academia Nacional de Belas-Artes (1978)

Maria de Lourdes Ribeiro, conhecida por Maluda (Goa Norte, Pangim, 15 de novembro de 1934Lisboa, 10 de fevereiro de 1999) foi uma pintora portuguesa que recebeu a Ordem do Infante Henrique [1]

Sua obra se baseava principalmente em retratos, visões das cidades, nomeadamente na pintura de paisagens urbanas, janelas e vários outros elementos arquitectónicos.[2][3]

Biografia

Maluda nasceu na cidade de Pangim, no estado de Goa, no então Estado Português da Índia.[4][2] Começou na pintura como retratista autodidata ainda em Lourenço Marques (actual Maputo), onde viveu a partir de 1948. Foi lá que formou, com Garizo do Carmo, João Paulo e João Aires o grupo de pintura "Os Independentes", que expôs colectivamente em 1961, 1962 e 1963. Em 1963[5] obteve uma bolsa de estudos da Fundação Calouste Gulbenkian e viajou para Portugal, onde trabalhou com o mestre Roberto de Araújo em Lisboa.[6]

Entre 1964 e 1967 viveu em Paris, como bolseira da Gulbenkian.[2][7] Aí trabalhou na Academia de la Grande Chaumière com os mestres Jean Aujame e Michel Rodde. Durante a sua estadia em Paris conviveu com outros artistas, entre eles Maria Helena Vieira da Silva e Arpad Seznes.[8] Foi nessa altura que se interessou pelo retrato e por composições que fazem a síntese da paisagem urbana, com uma paleta de cores muito característica e uma utilização brilhante da luz, que conferem às suas obras uma identidade muito própria e inconfundível. Pintou os retratos de Ana Zanatti, Amália Rodrigues, Aquilino Ribeiro, Mário Soares, Álvaro Cunhal, entre outros. [9][10][6]

Em 1969 realizou a sua primeira exposição individual na galeria do Diário de Notícias, em Lisboa. [7] Em 1973 realizou uma grande exposição individual na Fundação Gulbenkian, que obteve grande sucesso, registando cerca de 15.000 visitantes e lhe deu grande notoriedade a partir de então.[11] Entre os anos de 1976 e 1978 foi novamente bolseira da Fundação Gulbenkian, estudando em Londres e na Suíça. A partir de 1978 dedicou-se também à temática das janelas, procurando utilizá-las como metáfora da composição público-privado. Em 1979 recebeu o "Prémio de Pintura" da Academia Nacional de Belas Artes de Lisboa.[2] Nesse ano realizou ainda uma exposição na Fundação Gulbenkian em Paris.[4]

O seu livro “Maluda” com préfacio de Maria Helena Vieira da Silva é publicado em 1981. [12][13][6]

A partir de 1985, Maluda foi convidada para fazer várias séries de selos para os CTT. Dois selos da sua autoria ganharam, na World Government Stamp Printers Conference, em Washington, D.C., em 1987 e em Périgueux (França), em 1989, o "Prémio mundial" para o melhor selo. [14][15][16][2][17]

Em 1994 recebeu o prestigiado "Prémio Bordalo Pinheiro", atribuído pela Casa da Imprensa.[18] No âmbito da "Lisboa Capital da Cultura", realizou uma exposição individual no Centro Cultural de Belém em Lisboa.[4]

A 13 de outubro de 1998 foi agraciada pelo Presidente da República Jorge Sampaio com o grau de Grande-Oficial da Ordem do Infante D. Henrique, ao mesmo tempo que realizou a sua última exposição individual, "Os selos de Maluda", patrocinada pelos CTT. [19]

Maluda morreu em Lisboa a 10 de fevereiro de 1999, aos 64 anos, vítima de cancro do pâncreas. O seu corpo foi enterrado no Talhão dos Artistas do Cemitério dos Prazeres, em Lisboa. [20][4]

Em testamento, a artista instituiu o "Prémio Maluda de Pintura" que, durante alguns anos, foi atribuído pela Sociedade Nacional de Belas-Artes. [21] Receberam este prémio as pintoras Ana Vidigal (1999), Cristina Valadas (2000), Fátima Mendonça (2001). [21][22]

Em 2001, o crítico de arte português, José-Augusto França elegeu seu quadro "Portel" (de 1986) como um dos "100 Quadros Portugueses do Século XX".[23]

Em 2007, a Rua 1 bairro da Quinta do Grafanil em Lisboa passou a se chamar Rua Maluda em sua homenagem.[23]

Em 2009 foi publicado um livro que assinala a passagem do décimo aniversário da sua morte, reunindo a quase totalidade da sua vasta obra e que contou com o Alto Patrocínio do Presidente da República portuguesa. [24] No mesmo ano, a Assembleia da República, em Lisboa, homenageou-a com uma grande exposição retrospectiva.[25]

Prêmios

Obra

Embora experimentando vários géneros, incluindo retratos, serigrafias, tapeçarias, cartazes, painéis murais, ilustrações e selos de correio. [7] O cerne principal da pintura de Maluda está muito voltado para a síntese da paisagem urbana, no que a sua arte, segundo Pamplona, segue, conceptualmente, Paul Cézanne (1839-1906), o mestre do Impressionismo. Ou, como escreveu Fernando Pernes, a sua arte representa «um sistemático decantamento da experiência cezanneana». [26][6]

Os quadros que pintava eram baseados principalmente nas cidades, nomeadamente na pintura de paisagens urbanas, janelas e vários outros elementos arquitectónicos.[27] [28] A notoriedade das suas obras pictóricas aparentemente mais simples (algumas utilizadas em selos oficiais por encomenda dos Correios portugueses), ao mesmo tempo que a promovia a uma das mais populares pintoras portuguesas das últimas décadas do século XX artístico português, também teve o efeito negativo de encobrir uma vasta obra de criação gráfica mais complexa. Na sua carreira, Maluda efectuou 24 exposições individuais e está representada em vários museus, entre os quais os da Fundação Calouste Gulbenkian e do Centro Cultural de Belém mas também em várias colecções particulares em Portugal e noutros países. [29]

Referências

  1. «- Página Oficial das Ordens Honoríficas Portuguesas». www.ordens.presidencia.pt. Consultado em 3 de junho de 2020 
  2. a b c d e Catalão, Rui. «O falso espelho de Maluda». PÚBLICO. Consultado em 3 de junho de 2020 
  3. ncultura. «As janelas lisboetas de Maluda». ncultura. Consultado em 1 de dezembro de 2020 
  4. a b c d «Maluda». CNAP - Centro Nacional de Artes Plásticas. Consultado em 3 de junho de 2020 
  5. «As janelas de Maluda». VortexMag. 11 de março de 2015. Consultado em 1 de dezembro de 2020 
  6. a b c d Tavares, Cristina Azevedo (2001). «Algumas reflexões acerca da herança do naturalismo na pintura de João Hogan, Maluda e Noronha da Costa». Nº 2 (2001): 174–183 
  7. a b c «Restos de Colecção: Maluda». Restos de Colecção. 17 de novembro de 2010. Consultado em 3 de junho de 2020 
  8. «Artista: MALUDA | Dados biográficos». vart.pt. Consultado em 3 de junho de 2020 
  9. «RTP2 - Separador MALUDA: figuras públicas pintadas por ela.». SAPO Vídeos. Consultado em 3 de junho de 2020 
  10. «Portal do Fado - Amália, Maluda e Moçambique». www.portaldofado.net. Consultado em 3 de junho de 2020 
  11. «Inauguração de exposição de Maluda na Gulbenkian». Consultado em 3 de junho de 2020 
  12. «Biblioteca Nacional de Portugal». catalogo.bn.pt. Consultado em 3 de junho de 2020 
  13. «São Mamede - Galeria de Arte». www.saomamede.com. Consultado em 3 de junho de 2020 
  14. Moreira, Ana Sofia Santos (2015). Estudo do design do selo postal português: proposta para aplicação de Realidade Aumentada. Aveiro: Universidade de Aveiro. 34 páginas 
  15. Correia, Armando (2015). As representações do desporto no universo da filatelia portuguesa e algumas reflexões sobre o seu valor estético - período 1853-2015. Porto: Faculdade do Desporto da Universidade do Porto. 16 páginas 
  16. «Os correios no registo de um país». catalogo.bn.pt. Museu das Comunicações. Consultado em 3 de junho de 2020 
  17. «Maluda (visual gráfico) - Exposição na Galeria de Arte dos CTT, em Janeiro 1989». catalogo.bn.pt. CTT. Consultado em 3 de junho de 2020 
  18. «Prémios Bordalo • Sindicato dos Jornalistas». Sindicato dos Jornalistas. 22 de janeiro de 2002 
  19. «ENTIDADES NACIONAIS AGRACIADAS COM ORDENS PORTUGUESAS - Página Oficial das Ordens Honoríficas Portuguesas». www.ordens.presidencia.pt. Consultado em 3 de junho de 2020 
  20. «Morreu a pintora Maluda». Arquivo RTP. Consultado em 3 de junho de 2020 
  21. a b Rato, Vanessa. «Prémio Maluda de Pintura para Fátima Mendonça». PÚBLICO. Consultado em 3 de junho de 2020 
  22. «Ana Vidigal». Museu Calouste Gulbenkian. Consultado em 3 de junho de 2020 
  23. a b «A Rua da pintora Maluda que é nome de fado». Toponímia de Lisboa. 15 de novembro de 2017. Consultado em 1 de dezembro de 2020 
  24. Ribeiro, Carlos (2008). «Maluda: A Busca da Harmonia Perfeita». Ianus. Consultado em 3 de junho de 2020 
  25. «Exposição "MALUDA – Retrospectiva"». www.parlamento.pt. Consultado em 3 de junho de 2020 
  26. Quadrogiz (2015). «quadrogiz: "Maluda: A cidade e o silêncio" - Crónica de Fernando Pernes». quadrogiz. Consultado em 3 de junho de 2020 
  27. «Maluda – Life & Soul! | Vida e Alma!». Life & Soul! | Vida e Alma! (em inglês). Consultado em 3 de junho de 2020 
  28. «Biografia e catálogo sobre Maluda - JN». www.jn.pt. Consultado em 3 de junho de 2020 
  29. «Maluda - Maria de Lourdes Ribeiro». Museu Calouste Gulbenkian. Consultado em 3 de junho de 2020 

Ligações externas