Madraça de Nadir Divambegui
A Madraça de Nadir Divambegui ou Madraça Nadir Divan-begi (em usbeque: Nodir devonbegi madrasasi) é uma madraça no centro histórico de Bucara, um sítio classificado como Património Mundial pela UNESCO no Usbequistão.[1] Juntamente com a Madraça Kukeldash e o Khanqah de Nadir Divambegui forma o conjunto monumental Lyab-i Hauz. O monumento situa-se na parte oriental do Lyab-i Hauz. Foi construído na mesma época da Khanqah de Nadir Divambegui, entre 1619 e 1623, pelo vizir Nadir Divambegui, tio materno de Imã Culi Cã (Imam Quli Khan ou Imomqulixon) o monarca do Canato de Bucara entre 1611 e 1641.[2] DescriçãoA planta do edifício é aproximadamente um quadrado com 70 metros de perímetro, os lados orientados nas direções leste-oeste e norte-sul, com o ângulo sudoeste mais a sul do que o ângulo sudeste. A fachada principal, virada para oeste, tem um ivã (portal monumental) com um pishtaq a meio, flanqueado em cada um dos lados por três pares verticais de arcadas pontiagudas com dois andares. Essas arcadas dão acesso a hujras (celas para alojamento de estudantes). Ao lado dessas arcadas, nos cantos da fachada, há torres semicirculares da mesma altura das arcadas. Toda a fachada é decorada com mosaicos multicoloridos. Nos tímpanos do pishtaq, além dos motivos decorativos usuais de padrões geométricos, florais e caligráficos, com trechos do Alcorão, há figuras animais e um sol com rosto humano.[3] A planta do edifício é intrigante, pois assemelha-se muito a um caravançarai (uma combinação de armazém comercial e de pousada para caravanas). Uma evidência disso é o facto da entrada principal abrir-se diretamente para o pátio interior, quando o que é usual em madraças é haver uma parede que impede que o interior seja visível do exterior. Outra evidência é não existir um ivã na extremidade oriental do pátio, no lado oposto à entrada principal, ao contrário do que acontece com todas as outras madraças de Bucara. Além disso, o edifício não tem uma mesquita nem salas de aula nos cantos, outra caraterística presente na generalidade das madraças.[2] A inexistência de salas de aula significa que o edifício era usado apenas para alojamento e não como uma escola.[3] Para explicar esta discrepância em relação às outras madraças há duas teorias, as quais não se excluem mutuamente. Uma teoria é que, por engano,[2] o cã declarou o edifício uma madraça quando o inaugurou, obrigando o seu vizir a converter o edifício em madraça apressadamente, adicionando hujras (celas para alojamento de estudantes), torres nos cantos[4] (guldastas) e uma entrada monumental. Dado que a palavra do cã era inquestionável, ninguém, nem sequer o vizir, podia apontar o erro. Outra teoria é que o declínio do comércio de caravanas no início do século XVII tornasse supérflua a existência de mais um caravançarai, levando a que o vizir a converter numa madraça o edifício parcialmente construído, pois não havia falta de estudantes. Apesar do comércio de caravanas ter continuado a declinar, continuaram a ser construídas madraças na região até ao século XIX, quando na vizinha Quiva foram construídas várias e em Bucara foram contruídas o Chor Minor e a Madraça Emir Alim Cã.[2] Decoração figurativaA Madraça de Nadir Divambegui é um melhores exemplos de arte figurativa em azulejo do Usbequistão, a par da Madraça Cher-Dor em Samarcanda, algo bastante raro na arte islâmica.[5] Tradicionalmente, o islão desencoraja fortemente a representação de figuras humanas e animais, pois pode conduzir à idolatria. Este princípio não foi estritamente respeitado em Bucara durante o período da dinastia xaibânida (1500–1599) e no início do século XVII assistiu-se a um relaxamento da aplicação das regras islâmicas mais ortodoxas nas artes visuais da Ásia Central e parte do mundo persa.[2] À semelhança do que acontece na Madraça Cher-Dor de Samarcanda, construída entre 1616 e 1636, cujo ivã principal é decorado com leões caçando veados, acima dos quais há sóis com face humana, os tímpanos do ivã da Madraça de Nadir Divambegui são decorados com veados brancos disformes,[4] pássaros mitológicos (provavelmente simurgues, uma criatura alada da mitologia persa, símbolo da benevolência e da fertilidade)[2] que estão voltados para um disco solar com rosto humano de traços mongóis (reminiscente do símbolo zoroastrista de Mitra).[5] Estas representações levam alguns autores a especular se as práticas zoroastristas não teriam persistido em Bucara de forma camuflada pelo menos até ao século XVII.[5] Há também estudiosos que apontam as semelhanças desses motivos decorativos com o que se encontra num portal dum bazar de Isfahã, no Irão, contemporâneo da Madraça de Nadir Divambegui, sugerindo que a prática era bastante difundida na época.[2] O facto da função inicialmente planeada para o edifício não ser religiosa pode ter contribuído para que fosse usada essa decoração pouco ortodoxa, mas também há que ter em conta de que praticamente tudo o que se pode ver atualmente resulta dos restauros realizados na década de 1970, quando o edifício praticamente já não tinha azulejos.[5] Referências
Bibliografia
Ligações externas
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