Luz (bairro de São Paulo)
Luz é um dos bairros do distrito do Bom Retiro, localizado na Zona Central da cidade de São Paulo, administrado pela Subprefeitura da Sé. Atualmente, a Luz abriga importantes marcos culturais e históricos, como o Jardim da Luz, a Estação da Luz, o Museu da Língua Portuguesa, o Mosteiro da Luz, e a Pinacoteca de São Paulo, entre outros. O bairro também é conhecido por abrigar a famosa "rua das noivas", a Rua de São Caetano, famosa por suas lojas de roupas para casamento. Abrigou o DOPS (Departamento de Ordem Política e Social), que representou um capítulo sombrio da história brasileira, sendo um símbolo da repressão política e das violações dos direitos humanos ocorridas durante a ditadura militar.[1] HistóricoO Bairro da Luz em São Paulo, que começou como um pântano conhecido como Campo de Guaré devido às inundações dos rios Tietê e Tamanduateí, transformou-se em um dos bairros mais importantes da região central de São Paulo. Em 1600, Antonio Camacho recebeu terras na área, e em 1601, Domingos Luiz e sua esposa Ana se mudaram para lá.[2] Dois anos depois, Luiz ergueu uma capela dedicada a Nossa Senhora da Luz, nomeando assim o bairro.[3] O Jardim da Luz, aberto ao público como Jardim Botânico em 1825, foi um grande atrativo para os moradores da cidade e viajantes, sendo um local de lazer para os moradores dos bairros vizinhos, como Campos Elíseos.[2] Nos anos de 1868 e 1869, o jardim passou por reformas que incluíram a instalação de um chafariz, e no governo de João Teodoro tornou-se o parque mais bem cuidado da cidade. Outro grande atrativo do Jardim da Luz foi o seu café, ponto de encontro das elites até 1911.[3][4] Dessa forma, o Bairro da Luz já foi considerado um dos mais charmosos de São Paulo. Com o auge da produção cafeeira, o Parque da Luz era o local preferido para passear, descansar, namorar e conversar entre o final do século XIX até a metade do século XX.[5] Com o advento da industrialização, a Luz não perdeu seu charme e continuou proporcionando agradáveis domingos aos moradores da capital paulista. No entanto, devido à forte indústria da segunda metade do século XX e à mudança de hábitos dos moradores, o Parque e o Bairro da Luz passaram por mudanças nunca vistas.[2] De charmoso e elegante ponto de encontro, passou a ser conhecido como local violento e de alta periculosidade.[6] No final dos anos 1920, a capital ganha o Parque da Água Branca, para onde é deslocada parte das atividades que aconteciam na Luz.[3] Mesmo em aparente decadência e muitas vezes sendo visto como um lugar perigoso e cheio de pessoas envolvidas com práticas ilícitas, o Parque da Luz ainda representa a cidade, como ela realmente é e como as diversas administrações a vêm tratando.[5] Ora com capricho e cheio de cuidados, mas, em outros momentos, com completo desdém. O Jardim da Luz, criado em 1825, no então Brasil Império, é hoje o mais antigo parque da cidade de São Paulo. Atualmente, possui cerca de 113 mil metros quadrados e teve seu início como Horto Botânico. Somente no final do século XIX, foi transformado em Jardim Botânico e tornou-se o principal espaço de lazer da população paulistana.[6] Depois de diversas reformas e décadas de abandono intercaladas com momentos de atenção, o Parque da Luz hoje é um marco da vida paulistana por retratar uma cidade e um bairro que passaram por uma transformação sem precedentes em São Paulo.[3] Ao lado do Mosteiro da Luz, a Igreja de São Cristóvão é um importante centro religioso da região, atraindo milhares de pessoas todo ano, principalmente no dia 25 de julho, dia do padroeiro, quando centenas de motoristas buscam as bênçãos de Deus para se proteger do caos do trânsito e da cidade.[3] O principal presídio da cidade de São Paulo foi construído entre os anos de 1837 e 1852, já sendo inaugurado com vários problemas por falta de verbas.[6] Com a Proclamação da República, a Casa de Correção passa a ser denominada Presídio Tiradentes e passa a receber opositores do governo. Depois de um longo período de funcionamento, em 1972, o prédio da Casa de Correção foi demolido.[5] Em 1977, no terreno de 5.400 metros quadrados, foi construído o prédio do Banco Nossa Caixa e um teatro que é aproveitado pela Fundação Padre Anchieta para gravação de programas de televisão. Do antigo prédio, só restou o portal de entrada voltado para a Avenida Tiradentes.[3] Inicialmente formado por chácaras e grandes propriedades rurais, o bairro da Luz, a exemplo de quase toda a cidade, teve suas ruas abertas por iniciativa dos proprietários dos imóveis e só depois das ruas já existirem é que a municipalidade as denominava.[5] No século XIX, com a demarcação do terreno que seria destinado ao Horto Botânico, o poder público passou a despender maior atenção e empenho no que se refere a um melhor alinhamento das vias públicas, bem como um efetivo combate às enchentes que muito afetavam a região. No governo de João Teodoro Xavier de Matos, o bairro da Luz passou por uma revolução urbanística.[6] Ele estabeleceu a ligação entre as estações ferroviárias da Luz e do Norte, promoveu o saneamento das margens do Tamanduateí e idealizou a abertura de várias ruas, colocando em contato diferentes bairros.[5] A chegada da energia elétrica possibilitou a instalação de bondes movidos à energia, o que fez a cidade crescer ainda mais.[5] Diferente das antigas viagens por tração animal ou a pé, o bonde elétrico proporcionou o crescimento territorial de São Paulo e motivou os mais pobres a irem buscar terrenos mais baratos nas periferias da cidade.[6] Uma vez encurtadas as distâncias pelas tecnologias do século XX, o que se pode observar é uma elitização cada vez maior do centro da cidade, ou pelo menos, do que se conhece como velho centro e adjacências.[3] No entanto, o encurtamento de caminhos pelo bonde elétrico não foi garantia de melhores condições de vida para a população mais pobre.[2] O que se observou foi um maior adensamento da cidade, que passou de 200 mil habitantes para a marca de um milhão, já nas primeiras décadas do século XX. Porém, o planejamento urbano não acompanhou este crescimento, muito pelo contrário, foi marcadamente elitista e sanitarista.[5] O planejamento urbano desse período possuía características estético-sanitaristas. De um lado, as intervenções urbanísticas públicas ou privadas tratavam de embelezar a cidade, renovando alguns fragmentos urbanos segundo os moldes das transformações das metrópoles europeias.[5] Por outro, a disseminação de doenças provocadas pelas precárias condições de saneamento em conjunção com a alta concentração demográfica demandava ações de cunho sanitarista e higienista.[3] Mesmo o bonde proporcionando o crescimento da cidade, ele ainda seria limitado ao atual velho centro, já que estava fortemente ligado ao avançar dos trilhos. Só o motor a diesel definiria, irreversivelmente, o avanço da cidade para além dos rios e de seu próprio território.[3] Prestes Maia seria o grande idealizador do plano urbanístico proposto em 1924, que compreendia a cidade como um território sem limites físicos, ideia que agradou as autoridades, já que solucionava problemas crônicos da capital, como a falta de espaço para novas construções e o monopólio da Light, que era cada vez mais depreciada pela opinião pública.[3] Mesmo sendo idealizado em 1924, o plano de avenidas de Prestes Maia só seria posto em prática na década de 40.[6] No novo plano, a cidade inaugura um novo modelo, voltado para a expulsão dos mais pobres para as regiões mais afastadas e os ricos habitando a região central.[6] Esta realidade só mudaria com os novos loteamentos na Avenida Paulista, Jardins e Morumbi. Os ricos, desejosos por terras menos propícias a alagamento, aderem aos novos loteamentos, deixando os mais pobres com os terrenos menos valorizados.[5] Ditadura miliarO Departamento de Ordem Política e Social, conhecido como DOPS, foi um órgão do governo brasileiro criado em 30 de dezembro de 1924, com a função inicial de assegurar e disciplinar a ordem política e social no país. Durante o Estado Novo e, posteriormente, na Ditadura Militar, o DOPS se tornou um instrumento crucial de repressão política. No período da Ditadura Militar no Brasil, que durou de 1964 a 1985, o DOPS foi amplamente utilizado para reprimir movimentos sociais e políticos.[7] O regime militar, de caráter autoritário e nacionalista, utilizou o DOPS para perseguir, prender e torturar opositores políticos, sendo um dos principais órgãos de repressão do período. Estava subordinado às Secretarias de Segurança Pública e era conhecido pelo uso da violência contra aqueles considerados uma ameaça ao regime.[2] Em São Paulo, o DOPS estava localizado próximo à Estação da Luz, em um prédio que hoje abriga o Memorial da Resistência. Este local é um importante ponto de memória da repressão e resistência durante a ditadura militar. O prédio, que também abriga a Estação Pinacoteca, contém um acervo de documentos que testemunham as práticas repressivas do período.[2] O Memorial da Resistência de São Paulo é um espaço dedicado à preservação da memória das vítimas da ditadura militar. Ele mantém exposições permanentes e temporárias que relatam as histórias de resistência e repressão, além de conservar as antigas celas utilizadas durante o regime. Este espaço é um símbolo da luta pela democracia e dos horrores vividos durante a ditadura.[8] A Rua do Triunfo, situada no coração do bairro da Luz em São Paulo, é um marco histórico para o cinema brasileiro, reconhecida por ter sido o epicentro do "Cinema Marginal" durante as décadas de 1960 e 1970. Este movimento cinematográfico desafiou as normas convencionais, oferecendo uma abordagem ousada e crítica que frequentemente abordava temas sociais e políticos com inovação e provocação.[9] A região, conhecida como "Boca do Lixo", abrigava áreas entre as ruas do Triunfo e Vitória, tornando-se um refúgio para cineastas que buscavam romper com a estética e os temas do cinema comercial da época. O "Cinema Marginal" destacou-se por suas produções de baixo orçamento que exploravam o lado sombrio da urbanidade e personagens à margem da sociedade, revelando uma realidade crua e, por vezes, controversa.[10] O impacto cultural e social deste movimento foi profundo. O "Cinema da Boca do Lixo" trouxe à luz questões sociais e políticas frequentemente negligenciadas, desafiando o status quo do cinema brasileiro. Cineastas icônicos como Rogério Sganzerla, Julio Bressane, e José Mojica Marins emergiram como líderes deste movimento, criando narrativas cinematográficas que influenciariam gerações sucessivas de cineastas.[11] Apesar de seu auge, a região da "Boca do Lixo" eventualmente entrou em declínio, associando-se mais a atividades como prostituição e comércio informal, e perdendo assim seu status como um polo cinematográfico vibrante.[12] AtualidadeAtualmente, o bairro é um ponto de grande interesse turístico e cultural, mas também enfrenta significativos problemas sociais e urbanísticos que têm atraído atenção de políticas públicas e iniciativas de reurbanização. Entre os principais atrativos turísticos da Luz, destaca-se o Jardim da Luz, o parque mais antigo de São Paulo, inaugurado em 1825, que oferece um espaço verde com esculturas, lagos e uma gruta.[3] A Estação da Luz, uma das mais belas e históricas estações ferroviárias do Brasil, inaugurada em 1901, é um marco arquitetônico que abriga o Museu da Língua Portuguesa, destacando a riqueza do idioma falado no país. A Estação Júlio Prestes é sede da renomada Sala São Paulo, uma das melhores salas de concerto do mundo, e o Mosteiro da Luz, fundado pelo Frei Galvão, abriga o Museu de Arte Sacra de São Paulo, com um vasto acervo de arte religiosa.[5] A Pinacoteca de São Paulo, um dos museus de arte mais importantes do Brasil, está próxima à Estação Pinacoteca, que abriga exposições temporárias. A Rua de São Caetano, conhecida como "Rua das Noivas", é famosa por suas lojas especializadas em artigos para casamento.[2] No entanto, o bairro também abriga parte da chamada "Cracolândia", uma área conhecida pelo alto índice de consumo e tráfico de drogas, localizada na divisa com o bairro dos Campos Elíseos. Essa situação complexa desafia as políticas públicas e exige soluções integradas de saúde pública, segurança e assistência social.[6] Nos últimos anos, a região tem passado por processos de gentrificação e reurbanização. Projetos como o "Nova Luz" buscam revitalizar a área, atraindo investimentos e melhorando a infraestrutura urbana. No entanto, esses projetos frequentemente enfrentam críticas por não considerarem adequadamente as necessidades dos moradores de baixa renda, que muitas vezes são deslocados devido ao aumento dos custos de vida.[3] Os projetos de reurbanização têm focado na melhoria do transporte público, renovação de prédios históricos e criação de novas áreas residenciais e comerciais.[6] Além disso, há esforços para integrar serviços sociais que atendam as populações vulneráveis, incluindo programas de saúde e assistência para pessoas em situação de rua. Entretanto, os desafios continuam, e o equilíbrio entre o desenvolvimento econômico e a preservação do patrimônio cultural e social é delicado.[2] A participação comunitária em processos de planejamento urbano é essencial para garantir que as políticas implementadas atendam às necessidades de todos os habitantes.[3] Zona Militar da Polícia Militar de São PauloVer artigo principal: Invernada do Barro Branco
O bairro abriga uma série de instalações da PMSP que desempenham papéis cruciais na manutenção da ordem e segurança na cidade (sede das unidades de elite, cavalaria e corregedoria), no bem-estar da corporação (centro odontológico, caixa beneficente e capela militar) e instituições culturais e educacionais (museu).[13] [14] A Zona Militar da Polícia Militar de São Paulo está localizada próximo do Museu de Arte Sacra de São Paulo e da estação Tiradentes do metrô, os edifícios militares estão situados na Rua Jorge Miranda e adjacências.[13] Os bairros limitrofes (Canindé, Sé, Santana, Bom Retiro e Ponte Pequena) também possuem diversos aparelhos policiais que assistem a cidade como o colégio, a escola de educação física,[15] sedes administrativas, operacionais e de RH (aérea, rodoviária[16] e bombeiros).[13] Várias instalações foram transferidas da Zona Militar para a Invernada da Polícia Militar (Invernada do Barro Branco), enorme área de extensão verde localizada no distrito do Tucuruvi onde estão: o hospital, o canil, o centro de reabilitação, o centro administrativo ambiental, a associação da PM, o presídio e a Academia do Barro Branco.[15] Abaixo, uma descrição das principais unidades localizadas nesta área: * Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar: A ROTA é uma unidade de elite da Polícia Militar, conhecida por suas operações táticas e de combate ao crime organizado.[24] Na mesma instalaçao está situada a ROCAM - Rondas Ostensivas Com Apoio de Motocicletas.[25] Próximo à zona militar, o Liceu de Artes e Ofícios de São Paulo, uma instituição educacional que oferece cursos técnicos e artísticos, contribuindo para a formação profissional e cultural da comunidade. A escola possui também o Centro Cultural Liceu de Artes e Ofícios, lugar que promove eventos e atividades artísticas, enriquecendo a vida cultural da região e oferecendo um espaço para a expressão artística e a educação.[31] Os bairros vizinhos também apresentam uma série de equipamentos da PM São Paulo: Canindé (Centro Administrativo da Polícia Militar do Estado de São Paulo - "Panelão da PM", a Associação dos Subtenentes e Sargentos, a Escola de Educação Física da Polícia Militar e o Colégio da Polícia Militar[32][15]), Ponte Pequena (PMs de Cristo - Capelania Voluntária,[33] escolas de cursos preparatórios para futuros aspirantes a corporação e o Comando de Policiamento Rodoviário da Polícia Rodoviária Estadual - CPRv[34]), em Santana (Aeroporto Campo de Marte) está o CAvPM - Comando de Aviação da Polícia Militar,[35] na Sé está o Comando do Corpo de Bombeiros (CCB)[36][37] e no Bom Retiro está o COPOM - Centro de Operações da Polícia Militar: responsável por coordenar as operações de segurança e emergências na cidade, garantindo uma resposta rápida e eficiente e Quartel do Comando Geral da Polícia Militar do Estado de São Paulo: centro administrativo e operacional da Polícia Militar do Estado de São Paulo, onde são tomadas decisões estratégicas para a segurança pública.[38] Na Zona Norte está localizada a Invernada do Barro Branco, onde estão situados: o Hospital da Polícia Militar, a Academia de Polícia Militar do Barro Branco, o Canil da Polícia Militar, o Centro de Reabilitação da Polícia Militar, o Centro de Suprimento e Manutenção de Material de Intendência (CSM/M Int), o Centro Integrado de Apoio Patrimonial (CIAP), o Comando do Policiamento Ambiental (CPAmb), a Associação dos Oficiais da Polícia Militar do Estado de São Paulo (AOPM), o Centro de Suprimento e Manutenção de Material de Telecomunicações (CSM/MTel), o Estande de Tiro da Polícia Militar e o Presídio Militar Romão Gomes.[15] Fora desses núcleos estão a ADPM Falcão Azul (Associação Desportiva Polícia Militar do Estado de São Paulo),[39] Escola Superior de Soldados,[40] e a Escola Superior de Sargentos.[41][15] Bibliografia
Referências
FontesVer também
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