Lopes de Leão Nota: Se procura o político brasileiro do século XIX, veja Policarpo Lopes de Leão.
Paulo Vergueiro Lopes de Leão (São Paulo, 31 de agosto de 1889 - São Paulo, 1964[1]) foi um pintor e gravador brasileiro. Celebrado pintor oficial, ideologicamente ligado ao academicismo[2], produziu um vasto conjunto de obras de temáticas históricas e alegóricas, além de excelentes e apreciadas paisagens, destacando-se, assim, como pintor de retratos, paisagens e temas históricos.[3] BiografiaDescendente de tradicional família paulista, sendo parente direto do Senador Vergueiro e neto de Policarpo Lopes de Leão[4], Paulo Vergueiro Lopes de Leão sempre teve inclinação para a pintura, entretanto, seus pais - Antonio Lopes de Leão e Joanna Vergueiro Lopes de Leão[5] - não enxergavam a arte com bons olhos. Então, formou-se em Ciências Jurídicas e Sociais na Faculdade do Largo de São Francisco, aos 21 anos[6], para atender a vontade paterna - mesmo assim, passava os domingos pintando[5]. Ele não quis advogar e seguiu a carreira artística.[7] Em 1910, fundou-se em São Paulo uma pequena Escola de Belas Artes particular, com aulas noturnas, fundada pelo arquiteto Dr. Alexandre Albuquerque. O jovem se matriculou, porém, apenas um ano e meio após sua abertura, o estabelecimento teve suas portas fechadas.[5] Lopes de Leão, como ficou conhecido, obteve uma bolsa de estudos, em 1913, do Pensionato Artístico do Estado de São Paulo, no qual Freitas Valle era padrinho, e foi para a Europa, com o objetivo de aperfeiçoar seus estudos. Fixou-se em Florença, onde estudou com o professor Filadelfo Simi, na Academia de Belas Artes[8]. Estudante árduo, logo progrediu na pintura e no desenho de modelo vivo.[7] Próximo do fim da bolsa, fez um curso especializado e, ainda em Florença, estudou também gravura, gravura em metal e à água-forte com Mazzoni Zarini, na renomada Scuola d'Incisione all'Acquaforte[9]. Com mais dois anos de pensão no exterior, viajou para a Alemanha e para Holanda, permanecendo, depois, cerca de um ano em Paris, em 1920, onde aperfeiçoa seus estudos no Ateliê Livre do Boulevard Clichy[3], do professor Louis-François Biloul.[7] Nesse último ano na Europa, integra o Salão dos Artistas Franceses.[9] Em 1924, retorna a São Paulo e participa da fundação da Sociedade Paulista de Belas Artes[8], onde atuou nas comissões de premiação e seleção.[9] Em 1936, torna-se simultaneamente presidente do Sindicato dos Artistas Pintores de São Paulo e diretor da Escola de Belas Artes de São Paulo[1] - também iniciou aqui suas atividades como professor titular na Cadeira de Desenho com Modelo Vivo.[3] Em 1939, assume a direção da Pinacoteca do Estado, onde não pôde, infelizmente, fazer tudo o que desejava devido a doença que o atingiu de improviso, tendo que se afastar em 1944.[7] Em 1954, seu ateliê se localizava no sétimo andar do Edifício Santa Helena[10], na Praça na Sé, centro de São Paulo. Era um autêntico sótão, com quadros a óleo que representavam as andanças do pintor, do Paraguai a Alemanha.[4] Ao falecer, em 1964, deixou dona Elisa Keller Lopes de Leão viúva e seus dois filhos solteiros, André Luís e Iacy[4]. Foi sepultado no Cemitério da Consolação, em São Paulo.[7] Homenagem a Policarpo Lopes de LeãoPaulo Vergueiro Lopes de Leão era neto do doutor Policarpo Lopes de Leão, 26º presidente da Província de São Paulo, no período de 17 de abril a 22 de outubro de 1860. Em 1953, o artista fez uma homenagem singela a memória de seu avô: um retrato a óleo do ilustre homem público. A obra é o único trabalho do pintor após onze anos de enfermidade e foi destinada à Galeria dos Presidentes de São Paulo.[6] Policarpo Lopes de Leão exerceu cargos importantes na vida pública de todo o país: juiz de direito de Goiânia; chefe de polícia em Pernambuco e na Bahia; chefe de polícia da côrte. Após tais designações, desempenhou o cargo de presidente de São Paulo e, posteriormente, foi juiz dos Feitos da Fazenda Nacional, sendo nomeado desembargador da Relação da Corte dois anos depois.[4] ObraÉ na década de 1910 que diversos novos artistas começam a expor. Na maioria das obras, a paisagem aparece, mesmo após todos tentarem natureza morta e figura. Paulo do Valle Junior é um dos primeiros a aparecer, seguido dos irmãos Barbosa, Mário e Dario, Monteiro França, Clodomiro Amazonas, José Wasth Rodrigues, Torquato Bassi, Campos Ayres, Alípio Dutra, José Marques Campão, Túlio Mugnaini e Paulo Vergueiro Lopes de Leão.[3] Lopes de Leão utilizou em sua obra a rica experiência que trouxera do período parisiense. Ele tentou captar as cores do Brasil, mas não conseguiu. Entretanto, sua paleta é bem característica e fácil de ser reconhecida, com tons limpos de amarelo, vermelho e roxo. Nas pinturas das paisagens europeias, a luz é uma grande preocupação e há um excelente colorido, em que ele colocava em grandes áreas com um toque intenso. Seu paisagismo pode ser considerado um exemplo de notação rápida.[11] Durante sua permanência na Itália, Lopes de Leão passava grandes períodos nos Alpes Apuanos. Vestido à moda dos alpinistas italianos, com a caixa de tinta a tiracolo, tela e cavalete em mãos, andava em vales e montanhas, dando asas aos seus objetivos como artista, pintando telas com muita luz e frescor colorido, típicos daquela região.[7] Na sua pintura, é possível perceber a apropriação de recursos pictóricos impressionistas, como na obra "Paisagem". Nela, utiliza pinceladas justapostas, direcionando efeitos de luz sobre a água e o chão, sem aplicar o contraste claro-escuro ou contornos. Em "Dia de Sol", de 1921, que representa uma cidade interiorana brasileira, Lopes de Leão emprega os mesmos recursos da obra anterior, porém, com contenção de pinceladas e maior preocupação com o entorno.[9] Procurando inspiração na poesia sutil que há na luz e no ar, o artista interpreta com admirável harmonia e um ritmo artístico incrível, a graça e a beleza de todas as matérias vivas, de todos os ramos da natureza.[12] Entre suas obras: Inverno em Munique, Passa o Regimento, Portas da Conquista, Anchieta, Alma Paulista, Alvorada de Ataque, Esperando as Estrelas.[13] "Castro - Capão Alto"A obra "Castro - Capão Alto" é uma amostra perfeita do tratamento que Lopes de Leão dava ao paisagismo, junto com o gosto por temas históricos, ao retratar a sede de uma das mais importantes fazendas do roteiro das tropas, localizada a 17 km da cidade de Castro, no Paraná.[14] Essa fazenda, inicialmente, pertencia a Pedro Taques de Almeida e seus familiares, que, em 1704, obtém a primeira sesmaria dos Campos Gerais. Em 1751, foi doada aos padres carmelitas, que iniciam a vida católica no núcleo de Iapó. A propriedade possuía um oratório consagrado a Santo Antônio e um cemitério, mas os carmelitas construíram uma capela para Sant'Ana às margens do rio Iapó, que se transformou no centro de um povoação, conhecida, futuramente, como a cidade de Castro.[14] Em 1886, a propriedade passa para as mãos de Bonifácio José Batista, cujo título de Barão de Monte Carmelo se originou pelo nome da capela que construiu, dedicada a Nossa Senhora do Carmo.[14] "Inverno em Munique""Inverno em Munique", de 1922, retrata uma cena típica européia, em que a neve cobre toda a área de uma praça, porém, Lopes de Leão introduziu uma situação diferenciada: pessoas caminham de cabeça baixa para um ponto fora do campo - foco ausente para o observador. O pintor consegue demonstrar o clima gélido ao transformar cada elemento como um protagonista, com um papel certeiro. A neve que está sobre a árvore sugere formas humanas, em que os galhos parecem cabelos e braços. A ideia de silêncio que a obra passa é complementada pela falta de folhas, pelos rostos sem marcas e expressões e pelas janelas fechadas.[15] O entusiasmo da tela se passa através das pinceladas gestuais em primeiro plano, que são um caminho para as conquistas impressionistas de que se valeu o pintor, mas que guardam um distanciamento da excitação vanguardista, o forte do ano em que a obra foi criada. A tela é harmonicamente definida, tanto na composição simétrica, quanto na técnica e no colorido. Os tons de roxo que puxam para o violeta, presentes no primeiro plano, contrastam com a atitude quieta e recolhida das personagens ao fundo, funcionando como contraponto à rigidez da obra como um todo.[15] Exposições e prêmiosLopes de Leão foi um artista dinâmico e produtivo, participando de várias salões oficiais e exposições individuais e coletivas no Brasil e no exterior. Tais exibições, principalmente as realizadas em São Paulo, sempre obtiveram muito reconhecimento e êxito, tanto artístico quanto financeiro:[7][9][14]
Diante do seu trabalho como pintor de paisagens, retratos e de temas históricos, o artista ganha alguns prêmios, sendo os principais: a Pequena Medalha de Ouro, recebido em 1935 pela Sociedade Paulista de Belas Artes; em 1952, o prêmio Assembleia Legislativa do Estado; e em 1964, a Grande Medalha de Ouro[14], como homenagem póstuma.[13] Referências
|