Lojas Arapuã
Lojas Arapuã foi uma rede de lojas de varejo fundada em Lins, interior de São Paulo, pelo descendente de libaneses Jorge Wilson Simeira Jacob.[1]. A rede comercializava essencialmente eletroeletrônicos e chegou a ter 265 pontos de venda pelo Brasil. HistóriaÓrfão de mãe aos 11 anos e, do pai aos 16, com um irmão e uma irmã menores, o Sr. Jacob herdara alguns imóveis e uma pequena loja de tecidos com 10 funcionários. Em 1952, após superar várias dificuldades para gerir sua loja por não ser maior de idade, aos 18 anos, o Sr. Jacob foi emancipado e como o inventário já havia terminado e todos os credores estavam pagos, Jacob separou os imóveis sem dívidas para os irmãos, e continuou a tocar a loja de tecidos Nossa Senhora Aparecida com o crédito que possuía na praça.[2] Investindo em inovação, preços competitivos e elevando o padrão das mercadorias, em 1954 a loja passou a ser a mais importante da cidade, partindo, então, para construir uma loja nova. Entretanto, o dinheiro acabou antes do fim da obra, descapitalizando a empresa.[2] Sem desistir, em 1957, Jacob conseguiu inaugurar a nova loja, já com o nome Arapuã. Foi quando a empresa inovou, iniciando o crediário, antes limitado apenas a bens de consumo duráveis.[2] O passo seguinte foi abrir uma nova loja em Araçatuba, interior de São Paulo. Havia uma grande clientela na cidade que insistia na conveniência de a Arapuã se instalar lá. O investimento se pagou em meses. No entanto, foi quando uma limitação do negócio se tornou evidente: a moda muda sem parar e é diferente de um local para o outro, de uma estação do ano para a outra etc. Não havia ganho com o aumento da escala por causa do excesso de particularidades. A solução apareceu com os eletrodomésticos, cuja comercialização era, à época, incipiente.[2] O Sr. Jacob decidiu fazer a experiência de comercializar eletrodomésticos contra a vontade dos seus funcionários, que acreditavam que a empresa não era do ramo, e comprou seis liquidificadores de um representante da Walita. O resultado foi um prejuízo, pois as seis unidades tiveram que ser vendidas abaixo do custo. Mesmo assim, o Sr. Jacob não esperou pelos concorrentes, foi à Walita, negociou um pedido à vista de cem unidades, combinou uma campanha promocional e nunca mais deixou de vender produtos daquela marca.[2] Na década de 1960, o combate à inflação promovido pelo governo militar levou todos os concorrentes da Arapuã a pediram concordata ou saírem do ramo. Na segunda metade da década, a empresa ficou sozinha no mercado, mas, bastante descapitalizada. Estava na hora de decidir o que fazer com os poucos recursos que sobraram, foi quando Jacob decidiu abandonar o ramo original dos tecidos e concentrar-se nos eletrodomésticos, partindo para a expansão. Em função da recessão, a empresa conseguiu assumir vários novos pontos sem custo inicial.[2] O crescimento, inaugurando quase cem lojas de 1966 a 1971, inclusive com a inauguração de lojas na capital do estado de São Paulo, garantiu que a empresa estivesse pronta para aproveitar a expansão decorrente do “Milagre Brasileiro”. Ainda em 1971, a empresa já gerava recursos suficientes para iniciar uma fase de diversificação dos negócios através de novos investimentos e da aquisição de empresas existentes.[2] A primeira opção foi investir no setor de construção civil, que parecia promissor em função do desenvolvimento do Sistema Financeiro da Habitação. Daí surgiu a construtora Lótus. Em 1973, a empresa decidiu entrar em alguma atividade de capital intensivo, de modo a diversificar o risco, naquela época determinado pelos bens de consumo duráveis e pelos imóveis. Optou-se, assim, pela compra da Duchen, uma indústria de alimentos[3]. No início da década de 1980, com a crise da dívida externa brasileira, a empresa adotou critérios de expansão mais rígidos, só expandindo quando era conveniente do ponto de vista estratégico e procurou preservar a liquidez ao máximo. Mesmo assim, comprou uma empresa de fabricação de chocolates em 1981[4], um banco em 1982, inaugurou uma fábrica de extratos de tomate em 1984, comprou uma fábrica de eletrodomésticos e os pontos de uma rede varejista no Rio de Janeiro em 1985.[5] Todas as empresas faziam parte do Grupo Fenícia, dono das lojas Arapuã e das marcas Etti, Simeira, Lótus, Banco Fenícia, Neugebauer, GG Presentes e Prosdócimo.[3] No final da década de 80, Simeira Jacob partiu com um grupo de executivos para os Estados Unidos. Dias depois, voltou convencido de que era preciso mudar o foco dos negócios. À época, a Arapuã era líder nacional nas vendas de móveis e eletroeletrônicos. De uma só tacada, fechou 120 lojas. A linha de produtos foi reduzida de 7.500 para 700 itens. A empresa, que chegou a ter em seus estoques de televisores a tapetes e cristais, concentrou suas vendas em eletroeletrônicos.[6] Em outubro de 1995 abriu seu capital e passou a ter ações listadas na Bolsa de Valores de São Paulo e Nova York.[7] Em junho de 1998, a empresa abriu concordata e passou a diversificar os produtos, vendendo novamente móveis, utensílios para o lar como faqueiros, relógios e até brinquedos numa tentativa de reverter o baixo desempenho das vendas.[8] Concordata e duas vezes a decretação de falênciaInfluenciada pela Crise da Ásia, o governo brasileiro provocou o aumento dos juros o que prejudicou as vendas a prazo e o aumento da inadimplência das vendas a prazo (em junho de 1998 os créditos em atraso somavam cerca de R$550 milhões). Com um dívida milionária, a empresa pediu concordata no dia 2 de junho de 1998[9] e foi decretada no dia 22 do mesmo mês.[10] Fez então um plano de recuperação para evitar a falência. Em 2002 com uma dívida de R$1 bilhão, fechou lojas e demitiu funcionários, porém, não cumpriu integralmente o acordo correndo o risco da Justiça decretar a falência, pois a empresa estava com três parcelas vencidas das concordatas. Na ocasião, a Justiça ainda não decretou a falência da empresa por confiar no seu plano de reestruturação.[10] Entre fevereiro e março de 2001, nos dois jogos da final do Torneio Rio-São Paulo, a empresa estampou a sua logomarca camisa do São Paulo Futebol Clube que na ocasião sagrou-se campeão.[11] Em julho de 2002, a Justiça determinou em primeira instância decretar a falência da Arapuã por descumprimento da concordata, porém, a empresa conseguiu reverter a decisão em segunda instância no Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP).[12] Em 2009, o Superior Tribunal de Justiça (STJ) julgou o recurso de duas empresas credoras que pediam a decretação da falência da empresa, para que assim seus bens pudessem ser utilizados para quitar dívidas. Na ocasião, o STJ confirmou a falência da Arapuã por descumprimento da concordata pedida em 1998. O tribunal fez valer a lei de falências de 1945 que ficou em vigor até 2005.[12] Entre a decisão do STF e a publicação do resultado, a Arapuã solicitou um pedido de recuperação judicial previsto na lei de 2005, que foi concedido pelo TJ-SP. O tribunal entendeu que ainda cabia recurso ao julgamento do STJ. A Justiça paulista aplicou um dispositivo da lei atual de falências de 2005 que permite o pedido de recuperação judicial de empresas que não tenham descumprido as obrigações assumidas.[12] Um empresa credora e o Ministério Público de São Paulo recorreram da decisão pela segunda vez em 23 de junho de 2020. Nesse meio tempo, a Arapuã aprovou um plano de recuperação judicial e alienou parte dos seus bens para o pagamento de parte das dívidas. Chegou a afirmar que pagou alguns credores e dívidas trabalhistas.[12] Em uma nova decisão em 2020, o STJ determinou que o resultado do julgamento do TJ-SP foi ilegal porque a Arapuã havia descumprido a concordata e já tinha a falência decretada, o que inabilita a empresa a qualquer pedido de recuperação judicial. Assim, os ministros do STJ decretaram a falência pela segunda vez por 4 votos a 1.[12] Os negócios da família atualmenteHerdeiro e presidente da extinta e endividada rede de eletrônicos, Renato Simeira Jacob, filho do fundador Jorge Wilson Simeira Jacob, desembolsou R$ 400 mil para adquirir uma fatia de 20% na empresa de bebidas Beba Rio, criada pelo empresário Francisco Montans.[13] Com o nome Arapuã como razão social, a família passou a investir em lojas de roupas populares em regiões periféricas de São Paulo e Belo Horizonte. Lançou a Sette Bello Modas, que em 2015 teve sua denominação social alterada para Kosmos Comércio de Vestuário, mas o CNPJ da antiga Arapuã foi mantido. O nome Arapuã deve ser leiloado para pagar parte da dívida, mas, até agora, nenhuma proposta foi apresentada.[13] Referências
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