Língua sulka
A língua Sulka (ou Sulca) é uma língua austronésia que atualmente encontra-se em situação de quase extinção devido ao seu baixo número de falantes, com uma quantidade entre 2500 e 3500 falantes.[1][2] Os falantes dessa língua estão distribuídos principalmente ao longo da costa leste de Papua-Nova Guiné, na região leste do distrito de Pomio, ao leste da província da Nova Bretanha.[2] O Sulka é classificada atualmente como uma língua isolada, ou seja, não faz parte (ou pelo menos não se sabe) de uma família linguística. Foram-se levantadas teorias de que ela pudesse fazer parte do agrupamento linguístico Papua ou de uma longa árvore linguística das línguas da Nova Bretanha (New Britain Stock), devido à similaridades e divergências que ela apresenta em relação a outros idiomas desses agrupamentos. Verifica-se também que apesar de possuir status de isolada, a língua Sulka possui semelhanças com várias línguas, como Kol, Tomoip e Mengen, de acordo com o que foi escrito por Ger Reesink.[3] EtimologiaDistribuição geográficaA língua Sulka é falada na região leste de Nova Bretanha Oriental, no leste de Papua-Nova Guiné. Seus falantes se distribuem no distrito de Pomio e ao longo da região costeira de Wide Bay[1][2]. Reesink também confirma a ocorrência de falantes de Sulka terem se misturado em aldeias vizinhas, a sudeste de Kokopo, com falantes de outros idiomas, como Mali.[2] [carece de fontes] FonologiaO idioma apresenta um total de 28 segmentos, sendo 14 deles consoantes (com 7 alofones) e 7 vogais.[2] ConsonantesAs consoantes em Sulka são:[2]
Os alofones foram apresentados entre colchetes. Todas as consoantes velares apresentadas têm uma realização uvular, ou até faríngea, quando vindas antes da vogal central aberta [a], como em [qaak]. Esse fato leva a concluir que não há evidências de contraste fonético entre consoantes oclusivas ou nasais velares e uvulares. Além disso foi-se observado que, devido ao amplo acervo de plosivas — [p], [t], [k] e o [h] — a pronúncia torna-se bem recortada, pausada.[2] VogaisAs vogais em Sulka são:[2]
Como apontado na tabela, a Sulka apresenta contraste entre suas vogais frontais i, e, ɛ, mas também apresenta ausência da vogal central alta. Os contrastes fonéticos das vogais de Sulka não são tão perceptíveis, visto que algumas delas podem ter suas pronúncias flutuando entre outras, como acontece com [o] e [u], em [ko] e [ku], e com [e] e [ɪ], em [a ye] e [a yɪ]. Acerca dos contrastes fonéticos também, incluísse a dificuldade em diferenciar vogais longas de ditongos. As longas vogais apresentam, normalmente, uma combinação de vogal cheia e menor, como i+e ou u+o, podendo ocasionar na variação de, por exemplo, [teit] e [teet] (“pai”). Esse evento ocorre principalmente em vogais longas fechadas frontais ou traseiras médias, comumente confundidas com variantes altas e curtas, como por exemplo [eː] sendo confundido com [i].[2] A tabela apresenta palavras que demonstram as 7 diferentes vogais:[2]
OrtografiaO alfabeto sulka é composto de 15 consoantes e 7 vogais, resultando em um total de 22 grafemas.[4], havendo uma divergência nesses dados de acordo com o pesquisador Reesink, por exemplo, explora a existência dos 22 grafemas sem a ocorrência da vogal central alta /ɨ/, discordando com Tharp[5], que afirmava a existência também de 22 grafemas, mas incluindo /ɨ/, substituindo /a/ por /ɐ/ e excluindo /ɛ/. Além desses grafemas, existe também a possibilidade de alongar-se as vogais, fenômeno imperceptível à pronúncia, causando a formação de ditongos[6].
GramáticaPronomesPessoaisOs pronomes pessoais no idioma Sulka são palavras independentes que variam de acordo com a pessoa gramatical do enunciado e que podem atuar como agente, paciente [nota 6], benfeitor ou acompanhante dependendo do contexto em que forem utilizados.[7] Pronomes pessoais:
CompostosOs pronomes compostos consistem na junção de um pronome pessoal com um outro morfema de modo a modificar seu sentido na frase.[7] Composto ReflexivoNa formação de pronomes reflexivos, utiliza-se o morfema “-mruo” após o pronome pessoal, como em:[7]
e também pode apresentar o sentido de reciprocidade se, adicionalmente, for utilizado o morfema “mo-” prefixado ao verbo:[7]
Composto ExclusivoA adição do morfema “-tuk” após um pronome pessoal, cria-se uma ideia de exclusividade, como visto em:[7]
Composto PossessivoOs pronomes possessivos são formados pela adição do morfema “naŋ-” antes do pronome, implicando em algumas modificações de acordo com as iniciais do pronome a que foi prefixado, sendo eles:[7]
Como visto na tabela acima, pronomes iniciados com “m” substituem-o por “ŋ” e os começados por “y” perdem sua inicial. Ademais, nota-se também que a terceira pessoa do singular não foi incluída na tabela. Isso ocorre pelo fato de a construção de posse da terceira pessoa não ocorre apenas com a adição de um prefixo, ela pode ocorrer de três maneiras, sendo duas delas frases nominais de posse. Nelas, pode-se estabelecer a relação de posse ao adicionar uma partícula possessiva relativa no meio de uma frase, estabelecendo um substantivo como possuidor e o em seguida como posse, ou estabelecendo uma relação “substantivo-substantivo” com o prefixo “ka-“ no segundo:[7]
A terceira maneira é adicionando a palavra “naŋ” na frase e posicionando o possuidor antes do morfema adicionado:[7]
SubstantivosGêneroO idioma Sulka não apresenta uma marcação de gênero, nem em seus pronomes, diferenciando os da terceira pessoa, nem com a especificação de um artigo, característica que torna a língua ainda mais individual, visto que diverge do observado em outras línguas papuanas.[8] NúmeroPara entender a organização quantitativa, deve-se diferenciar os substantivos entre substantivos de massa e não-massa, sendo o primeiro uma entidade singular composta de vários componentes (como a areia da praia) e os de não-massa o oposto disso, ou seja, uma entidade composta de apenas um componente (uma faca por exemplo).[9] Não-massaO número, nesses substantivos, será indicado por dois grupos de prefixos: os indicadores de número do substantivo, que diferencia entre singular e plural, e os indicadores de número possessivos, que diferenciam entre singular, dual e plural.[9] Os indicadores do substantivo são os prefixos “a-“ e “o-“ que representam, respectivamente, singular e plural:
Já os possessivos são os prefixos “lo-“ e “ro-“, além da ausência de prefixo, que indicam, respectivamente, dual, plural e singular para a quantidade do substantivo possuído, entrando entre o pronome de posse e o substantivo:[9]
Há, também, a ocorrência do substantivo dual sem ser possessivo, em que utiliza-se tanto o indicador do substantivo “a-“ quanto o possessivo dual “lo-“:[9]
MassaOs substantivos de massa também podem ser divididos em dois de acordo com seu processo de formação, ou seja, se eles são de massa por natureza (lexicais) ou por uma outra característica (morfológicos). Para ficar mais claro, toma-se o exemplo de poeira e alunos. A poeira é, por definição, um substantivo de massa, porém os alunos são um conjunto de vários indivíduos que foram agrupados e tomaram forma de um substantivo de massa. Para indicar isso no idioma, utiliza-se de prefixos, sendo que os substantivos de massa lexicais assumem apenas o prefixo “o-“ (indicador de plural do substantivo), enquanto os morfológicos assumem apenas o “a-“ (indicador de singular do substantivo), em adição do prefixo “kro-” entre o indicador e o substantivo:[9]
PosseOs substantivos também variam de acordo com sua relação de posse. Nesses casos, existem duas principais características que irão resultar em quatro diferentes grupos de prefixos, variando de acordo com a pessoa e o número dentro desses grupos. As principais características estão relacionadas a um grau de parentesco entre o possuidor e o objeto e a ênfase colocada no sentido da frase. [nota 9][10] Parentesco sem ênfaseSegue a tabela de prefixos possessivos de parentesco sem ênfase:[10]
Exemplificados por:
Sem parentesco sem ênfaseSegue a tabela de prefixos possessivos sem parentesco nem ênfase:[10]
Exemplificados por:
Parentesco com ênfaseSegue a tabela de prefixos possessivos de parentesco com ênfase:[10]
Exemplificados por:
Sem parentesco com ênfaseSegue tabela de prefixos de posse sem parentesco mas com ênfase:[10]
Exemplificados por:
VerbosConjugaçãoOs verbos variam em relação à pessoa, tempo, modo, aspecto e número — ocorrendo dois ou mais dessas variações ao mesmo tempo -, por meio de dez principais conjuntos de afixos, nove deles afixos e um de sufixos. São eles:[11] PresenteIndicativo
Exemplificados por:
Indicativo Habitual
Exemplificados por:
Subjuntivo Condicional
Exemplificados por:
Além disso, pode ocorrer, também, a adição do afixo “-guna-” indicando uma ação que terminou imediatamente antes do momento da fala:
PassadoIndicativo
Exemplificados por:
Indicativo Habitual
Exemplificados por:
Subjuntivo Condicional
Exemplificados por:
FuturoIndicativo
Exemplificados por:
Subjuntivo Obrigatório
Exemplificados por:
Imperativo
Exemplificados por:
ExortativoA conjugação do exortativo no Sulka ocorre apenas para a primeira pessoa do verbo “so” (deixar ir) e manifesta-se por meio de sufixos[11]
Exemplificados por:
AspectosEm adição aos aspectos gramaticais aspectos mostrados acima, existem no total 7 deles no idioma Sulka — habitual, condicional, expectante, dedutivo, obrigatório, de realidade atual e de realidade passada — que se manifestam através de prefixos. O aspecto habitual representa a ocorrência habitual de uma ação, um ato cotidiano. O aspecto condicional é utilizado para representar a existência de uma condição. O aspecto expectante representa uma expectativa. O aspecto dedutivo é utilizado para representar algo concluído através de uma dedução. O aspecto obrigatório representa a existência de uma obrigação por trás da ação, algo que deve ser cumprido.O aspecto da realidade atual representa algo que está acontecendo no momento da fala. O aspecto da realidade passada representa algo que já foi finalizado previamente à fala. Os aspectos podem ser vistos, respectivamente em:[12]
ReduplicaçãoA reduplicação nos verbos da língua é utilizada para indicar a continuidade de uma ação, podendo ocorrer a reduplicação completa (apenas em verbos de uma sílaba) ou parcial (uma ou duas sílabas) e sendo anexados ao verbo como prefixos, infixos ou sufixos.[13] CompletaManifesta-se somente por sufixos e repete a palavra por completo:
ParcialPode vir em forma de prefixos, infixos ou sufixos. Nos prefixos, pode ocorrer a repetição da Consoante-Vogal (CV) inicial, a C inicial e uma V, a VC inicial ou a sequência CCV inicial:
Nos infixos, pode ocorrer a repetição da primeira C (em palavras que comecem com vogal) ou da primeira V, colocado anteriormente ou posteriormente:
Nos sufixos afeta-se apenas a VC final:
SentençaOrdemAs sentenças no Sulka seguem um modelo em relação à seus elementos, baseados na sequência Cabeça-Modificador(es), em que a cabeça da frase vai ser o foco e por meio dela pode se classifica-lá, e os modificadores atuam modificando o sentido que a cabeça possui na frase. As frases podem ser classificadas em frases nominais, pronominais, pronominais possessivas, de número, adjetivas, verbais, coordenadas e preposicionais dependendo de sua cabeça — substantivo, pronome, pronome possessivo, cardinais maiores que cinco, adjetivo, verbo, duas cabeças ligadas por conjunção e uma preposição.[14] NegaçãoAs frases de negação são marcadas por uma partícula de negação “nop”, que, caso venha acompanhado de um marcador de ênfase, é seguido pelo marcador, ficando como em:[14]
ComparativoPara realizar comparações em uma frase, utiliza-se a preposição “maŋ” (about), estabelecendo assim uma comparação entre os elementos antes da preposição e depois da preposição:[14]
VocabulárioSerá apresentado a seguir a transcrição de uma passagem gravada, com sua tradução para o Português Brasileiro:[15] /a kɔlkha laŋto a hip tkaɛmɛmik ko βɣum a ho tɛ ksɛi kam sirɛi a hip tβɔkɔn a βim to ta mŋanaŋ tɛ ja ŋaɛ ŋam a βim ta haβaɛŋ tɛ ko ɣia punpa to a hip ta haβaɛŋ tɛ ko lɛip to ursie ŋtɛ kua βɔk tɛ ksɛi kam riŋ in to a βim tɛ tete dok ko rosa to jin hɛ/ ‘Um dia um gambá estava comendo embaixo de uma árvore. Ele estava muito feliz. O gambá viu uma cobra. Ele perguntou-o, “Aonde você está indo?” A cobra disse, “Estou apenas andando por aí.” Depois o gambá disse, “Senhor, venha cá, quero estar com você.” Então a cobra disse, “Eu, também, eu quero estar com você, também.” Daí o gambá disse para a cobra, “Hoje você se tornou meu primo.” ‘ Notas
Referências
Bibliografia
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