Juan Machín de Arteaga

Juan Machín de Arteaga
Nascimento década de 1390
Biscaia
Morte século XV
El Hierro
Cônjuge Nisa
Ocupação aventureiro, marinheiro

Juan Machín de Arteaga, geralmente denominado como Machim, e em algumas fontes posteriores como Roberto Machim, foi um aventureiro biscainho de finais do século XIV e inícios do XV, colonizador das Ilhas Canárias e, eventualmente, da ilha da Madeira, onde terá dado origem ao topónimo Machico e estará na origem da lenda de Machim, um dos mitos fundadores do povo madeirense.[1][2] Participou do reconhecimento e povoamento das ilhas de Gomera e El Hierro, estabelecendo-se nesta última, onde morreu no terceiro quartel do século XV, deixando larga descendência.

Biografia

Vista de Machico, onde Machim terá desembarcado e estabelecido um assentamento rudimentar na década de 1410.

Juan Machín de Arteaga era natural da Biscaia, donde partiu como aventureiro e marinheiro. As referências ao primeiro período da sua vida provêm do episódio de Machim, relatado por Valentim Fernandes. Terá chegado à Madeira na década de 1410, onde terá se estabelecido, com um pequeno grupo, na zona atualmente conhecida como Machico, topónimo a que terá dado origem, e onde terá protagonizado o episódio que está na origem da lenda de Machim. Capturado pelos mouros e feito cativo, terá conhecido João Gonçalves Zarco aquando ou após a conquista de Ceuta, do decurso da qual este último foi armado cavaleiro, transmitindo-lhe a informação da localização do arquipélago da Madeira, ao qual este efetivamente procedeu ao reconhecimento a partir de 1419, tendo dado início ao seu povoamento cerca de 1425.[3]

Entre 1445 e 1450, colaborou com Fernão Peraza "o Velho" no reconhecimento e repovoamento castelhano das ilhas de Gomera e El Hierro, então ainda insubmissas a Castela, estabelecendo-se nesta última, onde morreu no terceiro quartel do século XV, deixando larga descendência.[4]

Segundo Gaspar Frutuoso, nas suas Saudades da Terra, num dia de 1447, o biscainho Juan Machim, com duas naus, abordou casualmente a ilha de El Hierro, tomando cativa Nisa, filha do rei Ossinisso, no momento em que os indígenas procediam a um ato ritual aos seus deuses. Segundo Frutuoso, nem os indígenas, nem a princesa bimbache, fizeram menção de fugir aquando da chegada de Machim durante a festa ritual, persuadidos da bondade dos estrangeiros que viriam à ilha, profetizada pelo próprio rei. Porém, ao verem um dos soldados de Machín esbofetear a princesa cativa, irritado por esta não parar de chorar, tomam-nos por seres malignos e os atacam, tendo Machim e os seus que fugir perseguidos pelos indígenas, levando cativa a filha de Ossinisso, fugindo nas naus sem poder roubar gado nem frutos, como pretendiam.[5]

Machim viria a casar com Nisa, sendo pais de Lúcia Machín.[6]

Identificação

As fontes mais antigas, como o manuscrito de Valentim Fernandes, referem este personagem apenas como Machin ou Machim.[7]

É também possivelmente identificado com o corsário Machim de Trapana, citado por Diogo Gomes no manuscrito de Valentim Fernandes como autor de uma abordagem a caravelas portuguesas frente ao cabo Espichel.[4] Este personagem será o mesmo também designado por il Macino nas versões italianas, um aventureiro referido nos escritos de Giulio Landi,[8] que teria encontrado a ilha da Madeira e voltado para tentar nela se fixar.[9]

Lenda de Machim

Compelido a casar com alguém que não amava, terá fugido de Inglaterra, embarcando em Bristol com a sua amada Ana de Harfet e um amigo de nome Jorge. Quando pretendiam chegar a França, uma tempestade desviou-os para o Oceano e acabaram por ir parar à ilha da Madeira, onde morreram.[9] Não existem quaisquer provas documentais destes eventos e circulam diversas versões da Lenda de Machim, a qual acabou por se transformar num dos mitos fundadores do povo madeirense.

A versão mais comum e consistente conta que Robert Machin (fl. meados do século XIV) era um aventureiro inglês, cavaleiro membro da baixa aristocracia, que tinha comerciado no Mediterrâneo.[9] Apaixonou-se por uma dama de nome Anne d'Arfet (ou Dorset, Darbey ou Hertfor, já que o apelido varia entre versões)[10] cujo estatuto social mais elevado impedia o casamento. O par resolveu fugir pelo porto de Bristol em direcção à França, ao tempo território inimigo pois decorria um dos períodos bélicos da Guerra dos Cem Anos.

Contudo, ventos contrários desviaram a embarcação em que seguiam do seu rumo e depois de 13 dias de navegação encontraram terra, desembarcando na ilha da Madeira, que ao tempo estaria desabitada. Exausta, Anne faleceu pouco depois, e depois de sepultar, marcando o local com uma cruz, Robert teve a mesma sorte poucos dias depois.[11]

Os membros da tripulação resolvem então fazer-se ao mar, acabando por atingir a costa do Norte de África, onde foram capturados pelos Mouros.[12] Um dos prisioneiros, de apelido Morales e oriundo de Sevilha, foi resgatado e conseguiu atingir o Reino de Castela. A história teria chegado aos ouvidos do Infante D. Henrique que teria enviado um grupo de embarcações a reconhecer a ilha.[11]

Esta versão da história teria supostamente sido escrita por um membro da casa do Infante D. Henrique e estaria na origem das múltiplas versões aparecidas ao longo dos séculos seguintes. Conhece-se registo escrito desta história pelo menos desde 1579. Outra tradição, provavelmente mais antiga, já que se conhece desde 1507, dá Machin como sobrevivendo a aventura, afirmando que depois de construir uma pequena capela no local de enterramento da amada, terá prosseguido viagem e conseguido chegar a Castela.[9]

Referências

  1. Álvarez Delgado 1961, p. 133.
  2. Livramento, Marco (20 de maio de 2015). «Machim (lenda de)». Aprender Madeira. Consultado em 6 de setembro de 2016 
  3. Álvarez Delgado 1961.
  4. a b Álvarez Delgado 1961, p. 134.
  5. Álvares Delgado 1961, pp. 182-183.
  6. Álvares Delgado 1961, pp. 191.
  7. Álvarez Delgado 1961, p. 142.
  8. Descrittione de l'isola de la Madera… ne la quale si contengono molto belle, e delettevoli narrationi; e massimamente l'agricoltura del zucchero, e li costumi de gli huomini di quel paese, e particolarmente il giuoco di canne e il modo di lottare, e la caccia de li tori a piedi e a cavallo, Piacenza, 1574.
  9. a b c d Fernández-Armesto, Felipe (2004). «Machim (supp. fl. 14th cent.)». Oxford Dictionary of National Biography. Oxford: Oxford University Press. doi:10.1093/ref:odnb/17535 
  10. Bolt, Rodney (2007). Madeira and Porto Santo. London: Cadogan Guides. pp. 20–1. ISBN 978-1-86011-364-2. Consultado em 2 de setembro de 2009 
  11. a b Beazley, C. R. (2008) [1895]. Prince Henry the Navigator. [S.l.]: BiblioBazaar. pp. 111–2. ISBN 0-554-25702-5. Consultado em 2 de setembro de 2009 
  12. Prestage, Edgar (2008) [1933]. The Portuguese Pioneers. [S.l.]: Read Books. pp. 35–6. ISBN 1-4437-2694-X. Consultado em 2 de setembro de 2009 

Bibliografia

Ligações externas