Juó Bananère
Juó Bananère (Pindamonhangaba, 11 de abril de 1892 — São Paulo, 22 de agosto de 1933) era o pseudônimo usado pelo escritor, poeta e engenheiro brasileiro Alexandre Ribeiro Marcondes Machado para criar obras literárias num patois falado pela expressiva colônia italiana de São Paulo na primeira metade do século XX. Chegando em grande número à capital em busca de oportunidades de trabalho, tornaram a cidade no maior centro de imigração italiana do país. Muitos deles não conseguiam seu objetivo, amargando subempregos e uma sofrida condição social. Mas, pelo menos, contavam com alguém na imprensa para representá-los, escrevendo nos seus dialetos de origem.[1] BiografiaApesar de não ter ascendência italiana, Alexandre apaixonou-se pela cultura surgida nos bairros centrais operários que se expandiam na capital paulista, como Brás, Barra Funda, Bom Retiro, Belenzinho e Bexiga, após a grande onda imigratória que fez com que a população da cidade passasse de 130 mil habitantes em 1895 a 580 mil em 1920, dos quais mais da metade eram imigrantes estrangeiros e outro quarto eram seus filhos já nascidos no Brasil.[2] Durante a infância morou em Araraquara e Campinas, o que o tornou um grande conhecedor do interior de São Paulo da época. Formou-se em engenharia pela Escola Politécnica da USP, chegando a ter atuado como engenheiro, pelo "Escritório Técnico dos Engenheiros Octavio F. Sampaio e Alexandre R. M. Machado".[3] Como jornalista, passa a escrever artigos para o jornal O Estado de S. Paulo e, em outubro de 1911, começa a assinar uma coluna na revista semanal O Pirralho, um periódico literário, político e de humor recém lançado por Oswald de Andrade, passando a usar o pseudônimo Juó Bananère, que era o nome de um personagem criado pelo escritor. O Pirralho tinha uma proposta pré-modernista, movimento literário precursor do Modernismo, que se consagrou com a Semana de Arte Moderna de 1922.[4] ObrasCriou versos paródicos de sonetos de poetas famosos como Olavo Bilac, Gonçalves Dias e Luís de Camões e de poesias de Casimiro de Abreu e Guerra Junqueiro. Com sua irreverência, incomodou diversas figuras proeminentes da política e do governo de sua época, como o prefeito de São Paulo Washington Luis e o presidente da República, marechal Hermes da Fonseca. Utilizando-se de uma mistura de italiano e português recorrente nos bairros paulistanos de imigrantes, sua principal fonte de inspiração estava nas ruas da São Paulo pré-modernista da época, para onde retornavam também suas obras concluídas, motivo do seu enorme sucesso de época, com repercussões em textos de outros autores.[5] Fez ainda paródias de La Fontaine e Machado de Assis, mantendo sempre a mistura dos idiomas italiano e português. Durante mais de duas décadas, Juó se fez presente no cenário cultural brasileiro com seus textos criativos e bem-humorados, utilizando os mais variados estilos literários, com enorme popularidade.[1] Sua principal obra foi o livro La Divina Increnca, paródia da Divina Comédia, de Dante, editado pela primeira vez em 1915 e reeditado em 1924, 1966 e 1993 (esta última edição, pela Escola Politécnica da USP, nos cem anos de sua fundação, em homenagem ao ilustre ex-aluno). Todos os seus textos eram marcados por uma linguagem satírica e auto-laudatória. Juó Bananère intitulava-se Candidato à Gademia Baolista de Letras (Candidato à Academia Paulista de Letras).[6]
No ano de 1931 havia uma enxurrada de ideias messiânicas e salvacionistas que pululavam nas páginas dos jornais, visando relativizar a consciência nacional do homem brasileiro. Buscava-se diminuir a distância entre ¨o que se pensa¨ enquanto brasileiro e ¨o que se é¨. A época dos manifestos e palavras de ordem leva Juó Bananére a divulgar seu ¨Manifestu da a legió Inrevoluzionaria¨, uma sátira dos princípios do manifesto da Legião Revolucionária de São Paulo, escrito pelo futuro líder integralista Plínio Salgado:
Foi considerado por muitos como um pré-modernista, principalmente pela influência de Oswald de Andrade, tratando de forma irreverente as produções do romantismo e do parnasianismo. Além do livro La Divina Increnca, publicou também Galabaro em 1917, corruptela de Calabar.[7] Enfermidade e morteJuó Bananère foi acometido durante muitos anos por uma anemia perniciosa. Sobre o agravamento de sua doença e afastamento do jornalismo, escreveu em abril de 1932:
Morreu em São Paulo, cidade em que passou a maior parte de sua vida, em 22 de agosto de 1933, sem deixar filhos. Está sepultado no Cemitério da Consolação, também em São Paulo, ao lado da esposa Diva, que morreu três anos depois.[9] LegadoDepois de sua morte, o personagem Juó Bananère ficou esquecido durante décadas, sendo eventualmente lembrado pela coletânea La Divina Increnca. Passado este período no ostracismo, sua obra voltou a ser lembrada nos processos de revisão literária sobre a Semana de Arte Moderna de 1922. Reeditados, seus textos têm sido objeto de estudos de historiadores, críticos e teóricos da literatura. Ligações externas
Referências
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