Jorge Muzalon
Jorge Muzalon (em grego: Γεώργιος Μουζάλων; romaniz.: Geōrgios Mouzalōn; c. 1220 - 25 de agosto de 1258) foi um alto oficial do Império de Niceia sob Teodoro II Láscaris (r. 1254–1258). De origem humilde, tornou-se companheiro de Teodoro na infância e foi elevado a um alto ofício quando o último assumiu o poder. Isto causou grande ressentimento na aristocracia, que tinha o monopólio dos altos cargos e se ressentia das políticas do imperador. Em 1258 foi apontado, junto com o patriarca Arsênio Autoriano, como regente do filho de Teodoro, João IV Láscaris (r. 1258–1261). Ele foi assassinado por soldados apenas poucos dias depois da morte do imperador, como o resultado de uma conspiração liderada pelos nobres sob o futuro imperador Miguel VIII Paleólogo (r. 1259–1282). BiografiaInício da vida e serviço sob Teodoro IIA família Muzalon é primeiro atestada no século XI, mas produziu poucos membros notáveis até meados do século XIII, com exceção de Nicolau IV Muzalon, patriarca de Constantinopla, em 1147-1151.[1][2] Jorge Muzalon nasceu em Adramício, na costa anatólica, em cerca de 1220. Embora sua família fizesse parte da plebe, ele e seus irmãos se tornaram amigos de infância de Teodoro II, tendo sido mais tarde elevados a pedópulos (em grego: παιδόπουλοι; romaniz.: paidopouloi; "pajem"). Supõe-se que também tenham sido educados com Teodoro, compartilhando as aulas do estudioso Nicéforo Blemides.[3][4] Também houve pelo menos duas irmãs, uma das quais foi mais tarde casada com um membro da família Hagioteodorita.[5] Quando Teodoro tornou-se imperador, em novembro de 1254, indicou os Muzalon para os ofícios mais altos do Estado: Jorge foi feito grande doméstico (comandante-em-chefe do exército), enquanto dois dos seus irmãos, Andrônico e Teodoro, foram feitos protovestiário (grande camareiro) e protocínego (protokynegos; caçador chefe) respectivamente.[4] De acordo com crônicas contemporâneas, o imperador amava Jorge "acima de todos os outros"; em algumas cartas ele chama-o "filho" e "irmão".[6] Durante o reinado de Teodoro, Jorge foi o ministro sênior do imperador e seu assessor de maior confiança. Pouco se sabe acerca de seu envolvimento no governo do Estado, com exceção de sua participação no conselho convocado para discutir a reação adequada à invasão dos búlgaros às possessões nicenas na Macedônia após a morte do imperador João III Ducas Vatatzes (r. 1221–1254). Jorge Muzalon apoiou a opinião da maioria de que Teodoro deveria fazer campanha contra os invasores. Durante a ausência de Teodoro enquanto em campanha em 1255, Jorge foi deixado como regente do Estado.[7][8] Após seu retorno, Teodoro elevou Jorge ainda mais, nomeando-o protosebasto e instituindo o novo título de grande estratopedarca para ele; Andrônico Muzalon sucedeu Jorge como grande doméstico. Foi uma honra extremamente elevada: o título combinado "protosebasto e protovestiário" foi normalmente conferido apenas para parentes próximos do imperador, enquanto os ofícios de protovestiário e grande doméstico sempre tinham sido preservação de famílias aristocráticas.[7][9] A elevação dos Muzalon não era apenas um sinal de afeição pessoal ou favor, mas também alinhava-se com as políticas de Teodoro, que visava conter a influência e independência da poderosa nobreza. A nomeação dos "homens novos" para estes altos cargos, e o tratamento muitas vezes duro e arbitrário de Teodoro com os nobres, despertou a ira da aristocracia tradicional, e especialmente o capaz e ambicioso Miguel Paleólogo.[10][11][12] A hostilidade dos aristocratas foi intensificada quando o imperador deu para seus favoritos noivas nobres: Jorge Muzalon casou-se com Teodora Cantacuzena, uma sobrinha de Miguel Paleólogo, e Andrônico casou-se com uma filha do ex-protovestiário Aleixo Raul.[4][13][14][8] Após a morte de Muzalon, Teodora casou-se em 1261 com o protovestiário João Raul Petralifa. Uma adversária ferrenha das políticas religiosas unionistas de seu tio, foi exilada e tornou-se freira. Após a morte de Miguel, restaurou o mosteiro de Santo André em Crisei, para onde transferiu as relíquias do patriarca Arsênio Autoriano, e foi uma proeminente membro dos círculos literários da capital.[15] Nomeação como regente e assassinatoPouco antes de Teodoro II morrer em 16 de agosto de 1258, ele deixou Jorge Muzalon, juntamente com o patriarca Arsênio, como regente e guardião de seu filho de 8 anos, João IV. Esta nomeação enfureceu ainda mais a aristocracia, e a posição de Muzalon tornou-se extremamente precária.[4][16][17] Muzalon também era impopular com o clero porque foi associado com o tratamento arrogante de Teodoro com a Igreja, e com as pessoas, que temiam que iria tentar usurpar o trono. O mais importante, no entanto, foi ter enfrentado hostilidade do exército, em particular dos mercenários latinos, a quem aparentemente havia sido negado os salários habituais e os donativos. Além disso, eles provavelmente se ressentiam da intenção de Teodoro de criar um exército "nacional" composto unicamente de gregos bizantinos, e Muzalon é registrado por Jorge Paquimeres como tendo tomado medidas para tal. Paleólogo, que como grande conostaulo manteve o comando sobre os latinos, estava em uma boa posição para explorar essas queixas.[12][18][19] Para prevenir qualquer ação contra disposições de seu testamento para a sucessão de seu filho e regente, Teodoro em seu leito de morte exigiu um juramento a ser tomado pelo senado, exército, as pessoas e o clero, tanto os presentes na corte como os ausentes em outras partes do Estado.[20] Imediatamente após sua morte, Jorge Muzalon, consciente de sua vulnerabilidade e sua total falta de apoio, chamou em assembleia os principais nobres, oficiais, líderes e comandantes militares. Ele se ofereceu para renunciar seu cargo em favor de qualquer pessoa que a assembleia escolhesse, mas os dignitários, liderados por Miguel Paleólogo, o dissuadiram e encorajaram a ficar e até aceitar um juramento de lealdade a ele, bem como para com o jovem imperador. Foi uma farsa, com uma conspiração arquitetada pelas principais famílias bizantinas a caminho de depô-lo, na qual Paleólogo aparentemente desempenhou papel de liderança, mas em segredo.[21][22][23] Apenas alguns dias após a morte de Teodoro II (as fontes discordam sobre a data exata, embora 25 de agosto seja a data amplamente aceita), um serviço memorial foi realizado no mosteiro de Sosandra em Magnésia, fundado por João III Ducas Vatatzes (r. 1221–1254) e serviu como lugar de enterro para Teodoro. Toda a corte assistiu, enquanto o exército estava acampado na planície abaixo do mosteiro.[4][21][24] Logo que Jorge Muzalon, seus irmãos e sua comitiva chegaram, o serviço começou. Fora da igreja, no entanto, os soldados estavam reunidos, muitos deles mercenários latinos, e eles começaram a clamar e exigir ver o jovem imperador. João IV saiu e levantou a mão para acalmá-los, no entanto, os soldados alegadamente confundiram isso como um sinal. Juntos com uma grande multidão, invadiram a igreja como o objetivo de matar os irmãos Muzalon.[25] Eles foram avisados do que estava acontecendo, mas Jorge apenas enviou seu secretário Teofilacto para investigar. Este, no entanto, foi confundido com Muzalon e morto. Ao perceberem o erro (o secretário estava usando sapatos pretos, enquanto o protovestiário usava verde) os revoltosos entraram na igreja, com os soldados com espadas na mão.[26] Com as pessoas espalhadas dentro da igreja, os irmãos Muzalon tentaram se esconder: Jorge escondeu-se debaixo do altar, Andrônico atrás de uma porta, e Teodoro em um canto da tumba do imperador. A multidão, no entanto, começou a procurar por eles, e Jorge foi descoberto por um soldado latino chamado Carulo (Karoulos; "Carlos"). Muzalon foi arrastado e, apesar de implorar por sua vida, foi executado. Tão grande era o frenesi dos envolvidos que o seu cadáver foi repetidamente esfaqueado e cortado em pedaços, de modo que as partes tiveram que ser reunidas em um saco para o enterro posterior.[27] Andrônico e um cunhado de nome desconhecido também foram mortos, enquanto o destino de Teodoro é incerto: alguns estudiosos acreditam que ele sobreviveu e pode ser identificado como Teodoro Muzalon, um ministro-chefe do reinado de Miguel VIII e Andrônico II (r. 1282–1328).[4] As casas dos Muzalon foram saqueadas, e quando Teodora Cantacuzena, esposa de Jorge, fugiu para onde estava seu tio e implorou pela vida de seu marido, foi brusco e disse para que ficasse quieta ou iria compartilhar de sua sorte. A responsabilidade dos paleólogos em todo o caso é ainda apoiada pelo fato de que nenhum dos assassinos dos Muzalon nunca foram perseguidos. Na verdade, o mercenário Carlos aparece mais tarde como confidente de Miguel.[21][28] A morte dos Muzalon foi seguida por um expurgo de outros proeminentes "homens novos" de Teodoro II, o protoestrator João Ângelo e o protovestiarita Carianita: Ângelo fugiu para o exílio e mais tarde cometeu suicídio, enquanto Carianita foi preso. Entre os protegidos de Teodoro II, apenas Jorge Acropolita sobreviveu, aparentemente porque na época era um prisioneiro no Epiro; eventualmente alcançou um alto cargo sob Miguel Paleólogo.[29] Miguel Paleólogo ao mesmo tempo consolidou sua posição, sendo nomeado regente com a patente de mega-duque. Logo, porém, recebeu o título de déspota e, no início de 1259, foi coroado imperador.[30] Aparentemente ainda guardião e coimperador de João IV, após a recaptura de Constantinopla em 1261, afastou e prendeu João, sendo coroado imperador único na basílica de Santa Sofia e fundando da dinastia Paleólogo, a última dinastia do Império Bizantino.[31] Tratamento por historiadoresDas fontes contemporâneas, a história de Acropolita é a mais negativa para os irmãos Muzalon, a quem ele chama de "abomináveis homens pequenos, espécimes inúteis da humanidade" e "falso da língua, ágil de pé, inigualável em bater no chão em dança". Apesar de outra forma confiável, o registro de Acropolita é questão de suspeita: por um lado, evidentemente tentou dissociar a si mesmo dos "homens novos" de Teodoro II, a quem também pertencia originalmente, enquanto por outro lado é geralmente fortemente inclinado a favor de Miguel Paleólogo, a quem tenta isentar a culpa do assassinato.[32][33] Outros historiadores da época pintaram um quadro mais favorável. O registro do quase-contemporâneo Teodoro Escutariota, que por outro lado geralmente segue Acropolita de perto, nomeadamente não repetiu os comentários negativos do último, e ainda registra que foram os nobres reunidos que persuadiram os Muzalon a ficar na igreja durante o motim no dia do assassinato. Jorge Paquimeres também, cujo tratamento do reinado de Teodoro Láscaris e dos demais imperadores da dinastia Láscaris em geral é muito mais favorável que aqueles de Acropolita, considera que os Muzalon tinham sido promovidos por mérito, condenando seu assassinato, e nomeia Miguel como diretamente responsável.[34] O historiador mais tardio Nicéforo Gregoras igualmente evita comentários negativos, como fazem a maioria dos historiadores modernos.[33] Notas
Referências
Bibliografia
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