João Spadari Adami
João Spadari Adami (Caxias do Sul, 11 de janeiro de 1897 — Caxias do Sul, 4 de dezembro de 1972) foi um historiador brasileiro. Embora tendo uma educação precária e carecendo de um método científico, sua atividade incansável, trazendo à luz uma massa de valiosa documentação esquecida, lançou as bases da historiografia caxiense, e a grande preocupação em manter-se fiel às fontes documentais deu solidez ao seu trabalho, que permanece uma referência pioneira e obrigatória para o conhecimento da fundação e evolução da cidade. BiografiaEra filho dos imigrantes italianos Francesco Adami e Selene Spadari, que chegaram a Caxias ainda menores de idade, tendo viajado com seus pais. Os pais de Francesco chegaram nos primeiros dias de 1877, quando o filho tinha seis anos, e os de Selene em 1891, tendo ela quinze anos. Após seu casamento, Francesco e a esposa se estabeleceram onde futuramente surgiria o bairro São Pelegrino.[1] Ele trabalhou como sapateiro e ela como lavadeira.[2] Tiveram os filhos João, Alfredo (falecido pequeno), Alfredo II, Adelaide, Catarina, Clara, Francisca, Ernesto, Santina e Maria.[1] Aos 9 anos de idade foi iniciado no ofício de alfaiate, e pouco depois no de barbeiro. Em sua adolescência foi jogador de futebol, participando em 1910 da fundação do primeiro time da cidade, o Esporte Clube Ideal, de breve existência, mas importante porque, segundo Cruz et alii, foi "uma iniciativa muito significativa numa cidade conservadora onde até então os principais esportes a serem disputados eram o jogo de cartas, o jogo da mora e o jogo da bocha", sendo "o impulsionador e difusor da prática futebolística que, muito em breve, seria absorvida e disseminada como mais uma atividade de cunho social pelos clubes recreativos da cidade".[3] Com 14 anos mudou-se para o distrito de Ana Rech, onde estabeleceu sociedade em uma barbearia. Em 1913 viajou para Antônio Prado a fim de ajudar um primo. Deveria voltar em poucos dias, mas lá permaneceria por muitos anos. Em 1919 foi convocado pelo Exército para servir em Cruz Alta. Em 1923 voltou a Antônio Prado. Nesta época despertou seu interesse pela história de Caxias do Sul, tema ao qual devotaria o resto de sua vida.[4] Em 1929 radicou-se definitivamente em Caxias do Sul, ganhando a vida como barbeiro e alfaiate. Em seu gabinete de trabalho, nos fundos da sua barbearia/alfaiataria, mantinha uma grande coleção de documentos e lá foi fundada a Academia Caxiense de Letras, da qual foi um dos idealizadores, sendo secretário ad hoc na sessão de fundação, e depois ocupando a Tesouraria. Foi um dos mais ativos membros desta entidade até pouco antes de falecer. Também assumiu por alguns anos a direção do Museu Municipal, na época fundido ao Arquivo Histórico Municipal. Foi casado com Etelvina Lautert de Castro, tendo com ela cinco filhos: Theresinha Belkys, Victor Francisco, Serenita Maria, Mirian e Maria de Lourdes.[4] ObraAdami foi o pioneiro da historiografia caxiense, em uma época em que ali nada havia sido estudado com profundidade, destacando-se também pela sua incomum objetividade e fidelidade aos documentos, ao passo que a "história oficial" ainda era sistematicamente mitificada em discursos grandiloquentes que divulgavam uma série de erros factuais sobre a formação da cidade. Em suas pesquisas desenterrou uma grande quantidade de documentos esquecidos em arquivos públicos e coleções privadas, transcrevendo e publicando muitos deles. Durante anos manteve em sua barbearia o Centro Informativo da História Caxiense, onde acumulou vasta quantidade de material historiográfico, e publicou na imprensa diversos artigos e crônicas sobre temas específicos.[5][6] Apesar do seu amadorismo, os historiadores locais são unânimes em reconhecer a importância do seu trabalho e o seu vanguardismo em um campo até então inexplorado.[6][7][8][9] Seu trabalho avulta ainda mais porque Adami teve uma educação muito deficiente, cursando somente até o 3º ano primário, e depois recusou-se a continuar na escola. Sempre reconheceu sua formação precária, e protestava contra os especialistas que não se interessavam pelo passado caxiense, obrigando um amador a fazer o que eles deveriam fazer. Não obstante, quando maduro era frequentemente consultado por professores e alunos sobre o tema de sua predileção, chegando a dar numerosas palestras na Universidade de Caxias do Sul, em escolas, grupos culturais e outros espaços.[4] Sua obra-prima é História de Caxias do Sul, em 7 volumes, publicados entre 1951 e 1981, até hoje uma referência básica para o conhecimento da história local. O inestimável acervo documental que reuniu ao longo dos anos foi doado por seus descendentes ao Arquivo Histórico Municipal João Spadari Adami, que desde 1997 leva seu nome em memória e homenagem ao seu trabalho.[5] Ele também recebeu da Municipalidade a Medalha Caxias do Sul por seus relevantes serviços e após sua morte seu nome batizou uma rua.[9] Foi a inspiração para um dos personagens do livro Script, de Tadiane Tronca,[10] e foi homenageado na Festa da Uva de 2016.[11] Nas palavras de Mário Gardelin,
Na apreciação de Décio Bombassaro,
Publicações
Ver tambémReferências
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