Em outubro de 2022, o jornal se tornou independente e lançou uma campanha de arrecadação para evitar seu fechamento.[2] A organização de notícias é financiada principalmente por seus leitores via um programa de membros.[3]
O veículo é mais conhecido por publicar a série investigativa Vaza Jato, que revelou a cooperação ilícita entre o então juiz Sergio Moro e os promotores da Operação Lava Jato, comandada por Deltan Dallagnol. As reportagens tiveram grande repercussão e acabaram levando o presidente Luiz Inácio Lula da Silva a ser libertado da prisão, sua sentença anulada e a restauração de seus direitos políticos, abrindo as portas para sua bem-sucedida candidatura presidencial em 2022.[4][5]
Histórico
O The Intercept Brasil foi lançado inicialmente como sucursal do portal de notícias americano The Intercept. Foi criado para produzir jornalismo investigativo sobre o Brasil para um público brasileiro e global e para produzir traduções para o português das reportagens do The Intercept em inglês.[6][7] A versão norte-americana do The Intercept, fundada em 2013, se tornou mundialmente conhecida após publicar os arquivos ultrassecretos da Agência de Segurança Nacional (NSA) vazados pelo denunciante Edward Snowden.[8][9]
Financiamento coletivo
Em setembro de 2018, o Intercept colocou no ar sua primeira campanha de financiamento coletivo. A ideia era levantar recursos para cobrir as eleições gerais no Brasil daquele ano. Desde então o periódico começava a buscar independência financeira de seu fundador.[10]
Logo na primeira campanha, com meta de 90 mil reais, foram arrecadados mais de 120 mil reais. Atualmente o financiamento coletivo recorrente é nossa maior fonte de receita do jornal.[11][12]
Publicações de destaque
Vazamento de conversas envolvendo a Operação Lava Jato
Em 9 de junho de 2019, uma série de reportagens revelou trocas de mensagens entre membros da Operação Lava Jato e o juiz Sergio Moro, justificando a hipótese de haver motivação política na operação.[13]
As transcrições indicaram que Moro cedeu informação privilegiada à acusação, auxiliando o Ministério Público Federal (MPF) a construir casos, além de orientar a promotoria, sugerindo modificação nas fases da operação Lava Jato; também mostraram cobrança de agilidade em novas operações, conselhos estratégicos, fornecimento de pistas informais e sugestões de recursos ao MPF.[14][15]
Os vazamentos tiveram ampla repercussão.[16][17] Sérgio Moro, a força-tarefa da Lava Jato e o MPF questionaram a autenticidade, a legalidade e a origem dos dados.[18][19][20] Em 24 de julho de 2019, a Polícia Federal prendeu o hacker responsável pela invasão do celular de Moro e de várias outras autoridades, como parte da Operação Spoofing.[21] Em outubro, o Supremo Tribunal Federal (STF), através do ministro Gilmar Mendes, anunciou que irá acionar a Procuradoria-Geral da República (PGR) para tentar atestar a autenticidade dos dados vazados.[22] Entretanto, tal validação pode não ser tecnicamente possível devido às facilidade de se editar conversas do Telegram após uma invasão.[23]
Foi como ficaram conhecidas as acusações de agressões sexuais, incluindo estupro, atribuídas ao empresário André de Camargo Aranha e que teriam sido praticadas contra a modelo e blogueira Mariana Ferrer. De acordo com os relatos da vítima, o estupro teria ocorrido em 15 de dezembro de 2018 no clube Café de La Musique, em Florianópolis, Santa Catarina, onde trabalhava como embaixadora.[24][25] O caso ganhou atenção a partir dos relatos da própria vítima em seu perfil na rede social Instagram.[26]
O caso voltou a tona em novembro de 2020 com uma matéria do jornal The Intercept Brasil, que denunciava o modo brutal e humilhante com o qual o advogado de defesa de André referia-se à vítima. A matéria também utilizava a expressão "estupro culposo", que viralizou nas redes sociais e gerou revolta.[27]
Em julgamento em julho de 2021, André de Camargo Aranha foi inocentado por falta de provas.[28] De acordo com o juiz, "não há como condenar o acusado por crime de estupro, quando os depoimentos de todas as testemunhas e demais provas (periciais) contradizem a versão acusatória."[29] Mariana recorreu da decisão, mas a absolvição de André foi confirmada em outubro na segunda instância, por unanimidade.[30]
Apesar do veredito desfavorável a Ferrer, a comoção gerada pelo caso resultou na criação da chamada "Lei Mariana Ferrer", que visa a coibir a humilhação de vítimas e de testemunhas no decurso dos processos judiciais.[31]
Controvérsias
"Estupro culposo"
Em 3 de novembro de 2020, o Intercept Brasil publicou uma reportagem sobre o Caso Mariana Ferrer que mostrava uma audiência que aconteceu em setembro no mesmo ano em que o advogado de André Aranha, Cláudio Gastão, é mostrado aviltando Mariana, sem nenhuma ação do juiz do caso. Nessa mesma reportagem o periódico utiliza o termo "estupro culposo" que não é citado pelos promotores e nem pelo magistrado, como diz o professor de direito constitucional Thiago Sorrentino: “A expressão “estupro culposo” embaralhou e atrapalhou muito o devido conhecimento sobre o caso, pois não só é equivocada no Direito, como em nenhum momento foi utilizada na sentença. Em lógica jurídica, trata-se de uma falácia”.[32]
Natalia Viana, Mariam Saleh, Andrew Fishman, Alice Maciel, Rafael Neves, Marina Amaral, Bruno Fonseca e Larissa Fernandes (Agência Pública, em parceria com o The Intercept Brasil)
↑Silva, Sergio Damasceno (2 de agosto de 2016). «The Intercept Brasil entra no ar». Meio e Mensagem - Marketing, Mídia e Comunicação. Consultado em 9 de janeiro de 2025