A genipina é o composto orgânico encontrado no jenipapo (Genipa americana) responsável pela utilização tradicional dos frutos verdes para a pintura corporal, hábito comum de várias tribos indígenas sul-americanas.[2][3] Quimicamente, pertence à classe dos iridoides, um tipo de metabólitos secundários de natureza terpênica largamente disseminado no reino vegetal.
A genipina forma ligações cruzadas com materiais protéicos e colágenos, o que é base dos estudos para a sua utilização como agente imobilizante de enzimas e como regulador de dosagem medicamentosa.[5]
Outras aplicações promissoras que vêm sendo estudadas são a utilização de seus derivados de forte cor azul-escura, produto da interação com materiais proteicos, como corante alimentar, a determinação analítica de aminoácidos,[6] e a detecção forense de impressões digitais.[7]
Formação de Corantes
A propriedade mais marcante da genipina é a sua capacidade de formar compostos de cor azul intensa ao reagir com produtos ricos em proteínas ou aminoácidos livres. Tais produtos são gerados a partir da condensação entre a genipina e compostos que contenham o grupo amina primária livre,[8] como aminoácidos, peptídeos ou os grupamentos amina livres das cadeias laterais dos resíduos de lisina presentes em muitas proteínas, seguida de oxidação pelo ar. Esta é a base do uso do extrato dos frutos de jenipapo verdes pelos índios brasileiros para pinturas corporais: a genipina reage com os grupos amina livres das proteínas da pele, produzindo assim um pigmento azul-escuro a quase preto, dependendo de outros materiais corantes utilizados em conjunto (como o urucum).[9]
A cor azul da genipina é estabilizada no leite devido ao pH natural do leite. [10]
Produtos formados pela reação da genipina com aminas aromáticas (como a anilina e derivados) tendem a apresentar uma cor verde em vez de azul.[11]
Reação química
A genipina existe principalmente na forma de um composto enol-hemiacetal cíclico, o qual pode sofrer uma reação de abertura do anel piranoide de seis membros expondo um grupamento aldeído livre e um enol, este último rapidamente tautomeriza para um segundo grupo aldeído. O resultado é a formação de um composto dialdeído reativo, o qual facilmente condensa com compostos do tipo amina primária,[12] inicialmente formando uma base de Schiff com um dos grupos aldeído e em seguida formando um hemiaminal cíclico com o outro grupo. O composto resultante pode sofrer desidratação e condensação com uma outra molécula de derivado hemiaminal para formar um composto que, ao ser oxidado pelo oxigênio do ar, gera uma substância de cor azul. [13] Os compostos azuis resultantes da condensação de genipina com aminoácidos são chamados genipocianinas.[14]
Usos
A genipina é um excelente reticulador natural para reticulação de proteínas, colágeno, gelatina e quitosano. Ela tem baixa toxicidade aguda, com DL50 iv 382 mg/kg em camundongos, portanto, muito menos tóxica do que o glutaraldeído e muitos outros reagentes de reticulação sintéticos comumente usados. Além disso, a genipina pode ser usada como um agente regulador para administração de medicamentos, como matéria-prima para preparação de pigmento azul de gardênia e como intermediário para sínteses de alcalóides.[15]
Nos últimos anos, com a crescente demanda por corantes naturais em substituição aos corantes sintéticos, essa substância vem sendo empregada como fonte de corantes azuis estáveis, os quais são bastante raros na Natureza. [16]
Referências
↑ abc Djerassi C., Gray J.D., Kincl F.A. Naturally Occurring Oxygen Heterocyclics. IX. Isolation and Characterization of Genipin. J. Org. Chem. 1960, 25, 2174-2177.
↑Chen, Wu, Mi, Lin, Yu, Sung A Novel pH-Sensitive Hydrogel Composed of N,O-carboxymethyl Chitosan and Alginate Cross-linked by Genipin for Protein Drug Delivery. J. Controlled Release 2004, 96, 285-300.
↑Lee S.W., Lim J.M., Bhoo S.H., Paik Y.S., Hahn T.R. Colorimetric Determination of Amino Acids Using Genipin from Gardenia jasminoides. Analytica Chimica Acta 2003, 480, 267-274.
↑Almog J., Cohen Y., Azoury M., Hahn T.R. Genipin-A Novel Fingerprint Reagent with Colorimetric and Fluorogenic Activity. J. Forensic Sci. 2004, 49, 255-257.