Geena Nota: Para outros significados, veja Geena (desambiguação).
Geena (do hebraico גֵיא בֶן-הִנֹּם, transl. Geh Ben-Hinom, literalmente "Vale do Filho de Hinom") é um vale em torno da Cidade Antiga de Jerusalém, e que veio a tornar-se um depósito onde o lixo era incinerado. Atualmente é conhecido como Uádi er-Rababi.[1] Ocorrências no texto bíblicoEsta palavra grega surge doze vezes no texto bíblico, nos seguintes locais:
Geena refere-se ao vale de Hinom, fora das muralhas de Jerusalém. Este vale era usado como depósito de lixo, onde se lançavam os cadáveres de pessoas que eram consideradas indignas, restos de animais, e toda outra espécie de imundície. Usava-se enxofre para manter o fogo aceso e queimar o lixo. Jesus usou este vale como símbolo da destruição eterna. Muitos associam a Geena com o Lago de Fogo de Apocalipse 20:14, que é dito significar a segunda morte. Localização geográficaA pessoa cujo nome teria dado origem à designação deste vale não é conhecida, assim como também se desconhece o significado do próprio nome Hinom ou Enom. É também referido no Antigo Testamento pelas seguintes expressões:
O vale de Hinom encontrava-se ao Sudoeste e ao Sul da antiga Jerusalém. (Josué 15:8; Josué 18:16; Jeremias 19:2, Jeremias 19:6). O vale estende-se para o Sul desde as imediações do actual Portão de Jaffa, conhecido em árabe por Bab-el-Khalil, vira abruptamente para o Este no canto Sudoeste da cidade, e segue ao longo do lado Sul ao encontro dos vales de Tiropeom e do Cédron, num ponto perto do canto Sudeste da cidade. Numa zona um pouco acima do local onde este vale converge com os vales do Tiropeom e do Cédron, existe uma área mais larga. Provavelmente era aqui a localização de Tofete (também grafado Tofet ou Tofeth, conforme as traduções), mencionado em II Reis 23:10. No lado Sul do vale, perto da sua extremidade oriental, encontra-se o lugar tradicional de Aceldama (ou Acéldama ou Hacéldama), o "Campo de Sangue", o campo do oleiro comprado com as trinta moedas de prata de Judas Iscariotes (Mateus 27:3–10; Atos 1:18–19). Mais para cima, o vale é bastante estreito e fundo, com muitas câmaras sepulcrais nos socalcos dos seus penhascos. O vale de Hinom fazia parte da fronteira entre as tribos de Judá e de Benjamim, encontrando-se o território de Judá ao Sul, o que situava Jerusalém no território de Benjamim, conforme delineado em Josué 15:1, Josué 15:8; Josué 18:11, Josué 18:16. O vale é agora conhecido como uádi er-Rababi (Ge Ben Hinnom). Utilização do localDurante o reinado de Acaz, rei de Judá, a Geena é mencionada como tendo sido usada para a prática de rituais de sacrifício humano em adoração a deuses das nações vizinhas, particularmente a Moloque (também grafado Moloc ou Moloch, conforme as traduções). Segundo mencionado em 2 Crônicas 28:1–3 era neste vale que tais práticas, que incluíam o sacrifício de crianças, eram realizadas. A Bíblia informa ali:
O neto de Acaz, o Rei Manassés, promovendo este tipo de prática degradante em grande escala, também veio a fazer "os seus próprios filhos passarem pelo fogo no vale do filho de Hinom", conforme 2 Crônicas 33:1, 2 Crônicas 33:6, 2 Crônicas 33:9 (NM). O Rei Josias, neto de Manassés, finalmente acabou com esta prática por profanar este lugar, especialmente em Tofete,tornando-o impróprio para a adoração, talvez por espalhar ali ossos ou lixo, conforme 2 Reis 23:10 que informa:
Comentando este versículo, o erudito judeu David Kimhi (1160?-1235?) diz o seguinte como possível explicação sobre Tofete:
Segundo nota de rodapé na Bíblia Sagrada, da Difusora Bíblica Franciscanos Capuchinhos", o termo Tofete pode significar "queimador". Com o tempo, o vale de Hinom tornou-se o depósito e incinerador do lixo de Jerusalém. Lançavam-se ali cadáveres de animais para serem consumidos pelos fogos, aos quais se acrescentava enxofre para ajudar na queima. Também se lançavam ali os cadáveres de criminosos executados, considerados imerecedores dum sepultamento decente num túmulo memorial. Quando esses cadáveres caíam no fogo, então eram consumidos por ele, mas, quando os cadáveres caíam sobre uma saliência da ravina funda, sua carne em putrefacção ficava infestada de vermes, ou gusanos, que não morriam até terem consumido as partes carnais, deixando somente os esqueletos. Nenhum animal ou criatura humana vivos eram lançados na Geena, para serem queimados vivos ou atormentados.
O Novo Comentário Bíblico, na página 779, em inglês, diz:
Como algumas traduções bíblicas vertem a palavra GeenaAlguns têm associado a palavra Hades com a palavra Geena. No entanto, pelo exposto acima e pelo conteúdo do artigo Hades, conclui-se que as duas expressões referem-se a coisas distintas. Algumas traduções tomaram a liberdade de traduzir Geena por "Inferno", conduzindo assim à ideia de um lugar de tormento ardente. Alguns exemplos são:
No entanto, algumas versões modernas, aprovadas pelo Catolicismo, Protestantismo e outras denominações cristãs, como as Testemunhas de Jeová, optaram coerentemente por usar nas doze ocorrências a transliteração "Geena". Entre essas estão:
Interpretação do termo GeenaConceito do catolicismo e protestantismoTendo sido traduzido algumas vezes como "inferno", o termo Geena acabou por ser conotado com um lugar de tortura, de intensos sofrimentos, para onde são conduzidas as almas dos pecadores impenitentes, após a morte do corpo físico. Mais informações sobre as doutrinas destas denominações religiosas no artigo Inferno. Conceito de outras denominações cristãsO conceito das Testemunhas de Jeová e dos Adventistas do Sétimo Dia sobre Geena é radicalmente oposto ao da maioria das religiões cristãs. Em conformidade com o que consideram ser a evidência bíblica, Geena ou o Vale de Hinom pode servir apropriadamente de símbolo de destruição, mas não de ardente tormento consciente. As Testemunhas de Jeová argumentam que Jeová, sendo um Deus de amor, jamais iria condenar a uma eternidade de sofrimento quem foi pecador apenas por algumas décadas.(Jeremias 32:35; Romanos 6:7) Afirmam ainda que, quando os israelitas queimavam seus filhos vivos, naquele vale, Deus disse que algo tão horrível nunca lhe subira ao coração, conforme Jeremias 7:30–31:
Referem ainda as palavras do apóstolo Paulo que, ao escrever aos cristãos em Tessalónica, disse que aqueles que lhes causavam tribulação seriam "submetidos à punição judicial da destruição eterna de diante do Senhor e da glória da sua força" - 2 Tessalonicenses 1:6–9 (NM). Consideram assim que a evidência bíblica torna claro que os que Deus julga indignos de merecer a vida não sofrerão tormento eterno num fogo literal, mas sim a "destruição eterna". Não serão preservados vivos em parte alguma. (Eclesiastes 9:5,10) O fogo da Geena, portanto, é somente símbolo da totalidade e inteireza desta destruição. Equiparam a palavra Geena com a expressão "lago de fogo" que surge em Apocalipse. Segundo os seus ensinos, "o lago de fogo" não significa um lugar de tormento consciente, mas, antes, a morte ou destruição eterna. Citam a própria Bíblia em Apocalipse 20:14:
Para estas denominações religiosas, é evidente que este "lago" é simbólico, porque a Morte e o Inferno ou Hades, a sepultura comum ou geral dos humanos, são lançados nele. Nem a morte nem o inferno podem ser queimados literalmente. Mas podem ser eliminados ou destruídos definitivamente. Referem que em Mateus 10:28, Jesus avisou seus ouvintes a "temer aquele que pode destruir na Geena tanto a alma como o corpo". Lembram que não se faz ali menção de tormento no fogo da Geena mas, antes, destruir na Geena. De modo que concluem que as referências à "Geena de fogo" têm o mesmo significado que o "lago de fogo", de Revelação 21:8, ou seja, a destruição, "a segunda morte", da qual não há ressurreição ou retorno. As Testemunhas citam inclusivamente o periódico católico Commonwealth, onde o articulista Joseph E. Kokjohn reconheceu:
Também referem o comentário do jesuíta John L. McKenzie, no seu Dicionário da Bíblia'(1965, em inglês):
Ver tambémReferências |