«E não havendo mais de que oito dias, que o Governador estava de posse, succedeo a mór perda, e desaventura, que nunca a India teve, e foi, que vespera de S. João, já de noite, lançou hum homem hum foguete de humas casas, junto a nossa Senhora do Rosario, que o demonio encaminhou pera a ribeira das Armadas, e foi cahir sobre o galeão
S. Mattheus, que estava varado, cuberto de palha, que tomou logo fogo com tanta braveza, que foi espanto; e como estava a balravento dos mais galeões, que estavam varados tambem junto delle, e o vento era rijo, foi-se pegando o fogo de galeão em galeão com tamanho estrondo, e terremoto, que parecia que se assolava toda a Cidade. O Governador vendo aquelle incendio, acudio á ribeira com todos os Fidalgos, moradores e soldatesca que havia (...). E foi esta diligencia que poz, tal, que foi parte pera se salvar toda a mais Armada? Durou este incendio toda aquella noite, e o dia seguinte, em que se queimáram, e consumíram seis galeões Reaes, quatro caravelas, e duas formosas galés, cousa que todos sentiram muito, porque era a mór força que o Estado tinha.
[1]»