Fortaleza de Yedikule Nota: "Porta Dourada" redireciona para este artigo. Para outros significados, veja Porta Dourada (Jerusalém).
A Fortaleza de Yedikule (em turco: Yedikule Hisarı; Fortaleza das Sete Torres) é uma fortaleza otomana situada num dos extremos das Muralhas de Constantinopla, junto à margem do Mar de Mármara, em Istambul, Turquia. Embora a fortaleza que exista atualmente tenha sido construída em 1458 por Maomé II, o Conquistador, cinco anos depois de ter conquistado a cidade, no local já existira anteriormente uma fortificação, que protegia uma das portas monumentais da capital Império Bizantino, a Porta Dourada (em grego: Χρυσεία Πύλη; romaniz.: Chryseia Pylē; em latim: Porta Aure; em turco: Altınkapı ou Yaldızlıkapı),[1] também conhecida como Porta de Xerólofo (Xerolophos) ou Porta de Saturnino (Saturninus),[2] durante séculos usada para as entradas triunfais dos imperadores bizantinos na capital imperial.[1] A Porta Dourada da capital bizantinaSeguindo as muralhas de sul para norte, a Porta Dourada é a primeira porta que se encontra. Era a principal entrada cerimonial de Constantinopla, usada especialmente para ocasiões como a entrada triunfal do imperador após uma vitória militar, ou coroações.[1][3] Em raras ocasiões, como marca de honra, a entrada pela Porta Dourada foi autorizada a visitantes não imperiais: legados papais (em 519 e 868) e o Papa Constantino (em 710). Esta função cerimonial manteve-se até ao período dos dinastia Comneno. Depois disso, só em 1261 se registou mais uma entrada triunfal de um imperador pela Porta Dourada, quando Miguel VIII Paleólogo entrou na cidade a 15 de agosto de 1261 após a ter reconquistado aos latinos.[4] Com o progressivo declínio militar dos bizantinos, os portões foram emparedados e reduzidos em tamanho no período final dos paleólogos, sendo o complexo convertido numa cidadela e refúgio.[3][5] A Porta Dourada foi imitada em vários locais, existindo diversas cidades cuja porta principal recebeu esse nome, como por exemplo Salonica, cuja "porta dourada" é também conhecida como Porta Vardar, Antioquia (Porta de Dafne) e Jerusalém (Porta Dourada).[1] Na Rússia de Quieve também foram construídas algumas "portas douradas" monumentais, como a Porta Dourada de Quieve[6] e a Porta Dourada de Vladimir.[7] A data da construção da porta monumental é incerta, com os académicos divididos entre Teodósio I e Teodósio II. Académicos mais antigos inclinavam-se mais para o a primeira hipótese, mas a última tem mais adeptos atualmente, ou seja, que a porta faria parte integral das Muralhas de Teodósio.[8] O debate foi provocado por uma inscrição latina com letras metálicas douradas, já desaparecida, que estava acima dos portões e comemorava a derrota de um usurpador cujo nome não era mencionado:[9]
Curiosamente, esta lenda não foi reportada por nenhum autor bizantino. No entanto, uma investigação aos oríficios onde as letras estavam pregadas verificou a sua existência e o texto. A mesma investigação mostrou que a primeira linha se encontrava na face ocidental do arco e a segunda na face oriental.[10] De acordo com a opinião dominante atualmente, o usurpador seria João (423-425),[1] enquanto que segundo a hipótese tradicionalista, a porta foi construída como um arco do triunfo isolado em 388-391 para comemorar a derrota do usurpador Magno Máximo (385–388), e só foi incorporada mais tarde nas Muralhas de Teodósio.[5][9][10] A porta é constituída por grande blocos quadrados de mármore branco juntos sem cimentos e tem a forma de um arco do triunfo com três portões em arco, com o do meio maior que os laterais. É flanqueada por grandes torres quadradas, que constituem a 8.ª e 10.ª torre da Muralha de Teodósio interior.[1][11] Com exceção do portal central, a porta permaneceu aberta para o tráfico do dia a dia.[12] A estrutura era ricamente decorada com numerosas estátuas, incluindo uma de Teodósio I numa quadriga puxada por elefantes no topo, inspirada na Porta Triunfal do Fórum de Roma, que foi derrubada por um terramoto em 740.[5][13] Outras esculturas incluíam uma grande cruz, que caiu durante um terramoto em 561 ou 562; uma Vitória, moldada durante o reinado de Miguel III, o Ébrio; e uma Fortuna da cidade coroada.[3][11] Em 965, Nicéforo II Focas substituiu portões originais pelos portões de bronze retirados das portas de Mopsuéstia.[14] A porta principal foi tapada com uma parede exterior com um único portão, o qual foi, séculos depois, flanqueado por relevos de mármore reutilizados de construções mais antigas.[1] De acordo com descrições de Pierre Gilles e viajantes ingleses do século XVII, estes relevos estavam dispostos em dois níveis, e mostravam cenas mitológicas, incluindo os Trabalhos de Hércules. Estes relevos foram provavelmente colocados no século IX ou X para dar a aparência de um arco triunfal. Foram perdidos no século XVII, à exceção de alguns fragmentos que atualmente se encontram no Museu Arqueológico de Istambul.[15][16] De acordo com outras descrições, a porta exterior era também encimada por uma estátua de Vitória ostentando uma coroa.[17] Apesar da função cerimonial, a Porta Dourada era uma das posições mais fortificadas ao longo das muralhas, tendo sustentado diversos ataques durante os vários cercos à cidade. Com a adição de muralhas transversais no períbolo entre as muralhas exterior e interior, tornou-se virtualmente uma fortaleza separada. A sua importância militar foi reconhecida por João VI Cantacuzeno (1347-1354), que registou que ela era virtualmente inexpugnável, capaz de armazenar provisões para três anos e desafiar toda a cidade se fosse preciso.[18] João VI restaurou as torres de mármore e guarneceu-as com tropas catalãs leais, o que não evitou que tivesse que se render a João V Paleólogo (1341-1391), quando abdicou em 1354.[18][19] João V desfez as reparações de Cantacuzeno e desguarneceu-a de tropas, mas em 1389-1390 também ele teve que reconstruir e expnadir a fortaleza, erigindo duas torres atrás dos portões e estendendo a muralha cerca de 350 metros até às Muralhas do Mar, formando um espaço fortificado dentro da cidade para servir como último refúgio.[20][21] Mal tinham acabado estas obras quando João V foi forçado a refugiar-se na fortaleza devido a um golpe liderado pelo seu neto João VII. O castelo aguentou um cerco que durou vários vezes e durante o qual foram possivelmente usados canhões.[22] No entanto, em 1391 João V foi forçado a arrasar a fortaleza pelo sultão Bajazeto I (1382-1402), que ameaçou cegar o filho de João, Manuel, a quem tinha cativo. O imperador João VIII Paleólogo (1425-1448) tentou reconstruir o castelo em 1434, mas foi impedido de o fazer por Murade II.[21][23] A Fortaleza das Sete Torres (Yedikule)Depois da capitulação final de Constantinopla em 1453, Maomé II, o Conquistador construiu uma nova fortaleza, adicionando três grandes torres às quatro já existentes (as número 8 a 11) na parte interior das Muralhas de Teodósio. A construção perdeu a sua função de porta da muralha e foi usada como casa-forte do tesouro, arquivo e prisão estatal. Entre outros, os embaixadores de estados em guerra com o império eram usualmente aprisionados aqui. Entre os prisioneiros mais notáveis encontram-se o sultão Osmã II, que foi preso e executado na fortaleza pelos Janízaros em 1622. Outras personalidades históricas que estiveram encarceradas ou foram executadas em Yedikule foram o último imperador de Trebizonda, David, Constantino Brâncoveanu da Valáquia e a sua família, além de uma série de notórios paxás otomanos.[3] Durante as Guerras Napoleónicas, a fortaleza teve muitos prisioneiros franceses, incluindo o escritor e diplomata François Pouqueville, que ali esteve detido mais de dois anos (1799-1801) e que fez uma extensa descrição da fortaleza na sua obra "Voyage en Morée, à Constantinople, en Albanie, et dans plusieurs autres parties de l'Empire Othoman, pendant les années 1798, 1799, 1800 et 1801". Yedikule funcionou como prisão pelo menos até 1837.[3] À parte das primeiras 11 e últimas 4 frases, todo o romance "Prokleta avlija" (O Pátio Maldito), de Ivo Andrić, Prémio Nobel da Literatura em 1961, é passado na prisão de Yedikule.[24] Uma masjid (pequena mesquita) e uma fonte foram construídas no centro no pátio interior do forte, o qual também continha as casas da guarnição, formando um quarteirão separado da cidade. Estas casas foram demolidas no século XIX e no seu lugar foi construída uma escola feminina.[25] O portão exterior foi reaberto em 1838 e as torres serviram de paióis de pólvora durante algum tempo, até o complexo ter sido transformado num museu em 1895. Mais recentemente, foi construído um teatro ao ar livre, o qual é usado para festivais culturais. Como a sua homónima em Jerusalém, o caminho para a Porta Dourada está atualmente obstruído por um cemitério muçulmano.[3] Segundo uma lenda grega, quando os otomanos entraram na cidade, um anjo salvou o imperador bizantino Constantino XI, transformou-o em mármore e colocou-o numa gruta situada debaixo da Porta Dourada, onde ele aguarda ser ressuscitado para reconquistar a cidade para os cristãos.[26][27] Notas e referências
Bibliografia
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