Félix Nadar
Félix Nadar (ou apenas Nadar) é o pseudónimo de Gaspard-Félix Tournachon (Paris, 5 de Abril de 1820 – Paris, 20 de Março de 1910) foi um fotógrafo, caricaturista e jornalista francês, pioneiro e entusiasta do voo humano e da fotografia aérea. Foi responsável pelo registro fotográfico das maiores personalidades de seu tempo, especialmente a elite cultural da época, considerado o primeiro grande retratista do mundo, uma experiência que resultou em livro autobiográfico publicado aos oitenta anos de idade: "Quand j'étais photographe" (Quando eu era fotógrafo, em livre tradução), havendo já publicado um livro de memórias como propaganda.[1] Já consagrado como caricaturista, ele abraçou a fotografia como uma arte, muitas vezes com ares de charlatão, e como uma "ciência", a ponto de chamar sua sala escura de revelação de "laboratório"; percebeu desde cedo que este trabalho precisava estar junto à propaganda - razão que o levou em torno de 1864 a registrar a si mesmo no cesto de um balão (uma fraude de registro: o cesto estava pendurado no teto de seu estúdio, e o fundo de nuvens era pintado) com o fim de ilustrar um livro de memórias, onde divulgaria a si e ao seu trabalho além de um manifesto contra os balões.[1] Fez parte daquilo que os historiadores chamam de "era de ouro do retrato na França" ou, como o próprio se identificava, "era dos primitivos da fotografia".[2] Foi Nadar quem fez o registro post-mortem do imperador Pedro II do Brasil em seu exílio parisiense, e do escritor Victor Hugo; sobre sua arte registrou o historiador Giulio Carlo Argan: "Ele percebia que sua técnica era profundamente diferente da que é própria da pintura e, se dessa sua técnica podia nascer um resultado estético, não haveria de ser um valor tomado de empréstimo à pintura"[3] BiografiaSeu pai fora editor e livreiro de origem lionesa[4] mas, quando Nadar (apelido que adotou por pseudônimo [nota 1]) tinha treze anos de idade, ele faliu e veio a falecer em 1837; assim, aos dezesseis anos de idade ele se viu sozinho, cercando-se de amigos da boemia, numa vida em que aspirava a realização artística e almejava se tornar escritor; foi um bom jornalista, medíocre como romancista mas um bom caricaturista; embora realizador de imagens, sua visão era limitada à distância, pela miopia.[1] Nadar criticou as aspirações políticas do sobrinho de Napoleão Bonaparte e, quando este finalmente assumiu o poder como Napoleão III, exerceu forte censura à imprensa e as caricaturas políticas foram proibidas; ele então se refugiou na vida boêmia da capital francesa, e imaginou um plano grandioso: lançar quatro grandes litografias com suas caricaturas representando 1.200 personalidades do meio cultural - o "Panteão Nadar"; realizou apenas uma delas, que foi um fracasso de venda, mas grande sucesso de crítica a ponto de tornar seu nome amplamente conhecido.[1] Como um biógrafo assinalou: "Nadar antes do Panteon era um desenhista conhecido, depois do Panteon é um homem célebre".[2] Acabou se interessando por fotografias ao pagar a um fotógrafo profissional para que tomasse seu irresponsável irmão mais novo como aprendiz.[1] No início de seus trabalhos tinha um estúdio na rue Saint Lazare, onde não possuía cenários para os fundos das fotos; isto mudou quando se instalou no ateliê da rue des Capucines, onde tinha luxuosa decoração: uma das salas de espera era decorada com tapetes e acessórios orientais.[2] O estúdio Nadar funcionou de 1854 a 1949, e nele trabalharam seu irmão Adrien Tournachon e o filho Paul Nadar.[2] Adrien separou-se de Félix em 1856 e abriu um estúdio com o mesmo nome do irmão e agora concorrente; isto deu origem a importante disputa judicial que ficou conhecida como "Processo Nadar" e que findou em 1857 com a vitória de Félix que, para comprovar como afirmava "C’est moi qui suis moi", anexou seus trabalhos como caricaturista e seu célebre "Panteão" em que já se apresentava com aquele nome, mas foi apenas sua argumentação da arte fotográfica que levou os jurados e a corte a dar-lhe ganho de causa.[2] Nela, na sua defesa, Nadar argumentou:[2]
Apaixonado pelo balonismo nascente, em 1858 patenteou a ideia da fotografia aérea a partir de balões; foi com um balão cativo a vinte metros de altura que ele fez seus primeiros registros do mar, em Bicêtre; então ele fez construir o seu famoso balão "Géant" (Gigante) capaz de levar a bordo oitenta e cinco pessoas: apesar de ser um fracasso que lhe consumiu a fortuna acumulada, a ideia inspirou seu amigo escritor Jules Verne a escrever sua obra Cinco Semanas em Balão (1862), onde o herói da trama — Michel Ardan — tem no nome um anagrama de "Nadar".[4] Por volta de 1860, em razão da concorrência, ele concorda em realizar trabalhos menos elaborados dos chamados "cartões de visita fotográficos" em moda, inventados por Disdéri e feitos em grande quantidade, num formato menor e mais barato.[4] Em 1861 incorpora o uso da energia elétrica para iluminação, por meio das então denominadas "pilhas de Bunsen", e realiza extenuantes fotografias cujas exposições duravam até dezoito minutos e o forçavam a usar manequins, registrando os esgotos e catacumbas de Paris.[4] Em 1870, durante o cerco de Paris na guerra Franco-Prussiana, engendrou um sistema de comunicação entre os moradores sitiados e as tropas situadas além das inimigas por meio de balões; como ele próprio preconizava, o meio de transporte das malas de correspondências era incerto: teria que cair além da área ocupada pelo exército da Prússia e ainda ser recuperado por franceses, além de as respostas não poderem ser enviadas de volta; ele então, com a sugestão de um anônimo, foi microfilmar a correspondência e, em seguida, amarrar o pequeno filme na perna de um pombo-correio - o que foi aplicado com êxito; em seu relato "nossa Paris, estrangulada pela ansiedade sobre os ausentes, finalmente respirou".[1] Foi graças aos seus balões que Léon Gambetta pode deixar a capital francesa para organizar a resistência, em Tours.[4] Em 1886 ele se reconcilia com o irmão, e se afasta do trabalho, que é continuado sem o mesmo vigor e qualidade pelo seu filho Paul (1856-1939); entretanto continua a escrever, desenhar e inventar.[4] Neste ano, junto ao seu filho, realiza a primeira entrevista ilustrada com o centenário químico Eugène Chevreul, publicada no Le Journal illustré.[4] Afastou-se do trabalho por conta da idade e da saúde entre 1887 e 1994 quando retorna numa tentativa de transferir seu trabalho para Marselha, onde abre estúdio e torna-se amigo de Frédéric Mistral, granjeando também lá grande reputação; volta a Paris em 1904 onde escreve suas memórias.[4] Em 21 de Março de 1910, Nadar faleceu, tendo sido enterrado em Paris, no cemitério do Père-Lachaise. GaleriaAlgumas personalidades retratadas por Nadar. (Passe o mouse por cima das imagens)
Homenagens e exposiçõesJá em 1900, quando da Exposição Universal em Paris, foi montada uma retrospectiva de seu trabalho, coincidindo com a publicação de seu livro "Quand j'étais photographe".[2] Nadar foi homenageado por duas grandes exposições, em 1994 e 1995, intituladas “Nadar, les années créatrices : 1854-1860” (Nadar, os anos criativos, em livre tradução):[2][1]
No Brasil, a cidade de São Paulo recebeu em 2002 uma mostra de seu trabalho que foi exposta no Espaço Cultural da Caixa.[3] Notas
Referências
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