Excursão internacional de 1931 do Institución Atlética Sud AméricaEm 1931, o clube de futebol uruguaio Institución Atlética Sud América foi convidado pelo brasileiro Vasco da Gama para se apresentar no Brasil.[1][2][3] O Uruguai, na época, era o campeão olímpico e mundial, de modo que a visita despertou bastante interesse na imprensa e sociedade brasileira.[4][5] Para a excursão em solo brasileiro, a equipe contou com o reforço de jogadores de outros clubes de Montevidéu, como o Club Atlético Olimpia, Central Español Fútbol Club, Wanderers e os poderosos Peñarol e Nacional.[6] Não obstante o oferecimento de tais jogadores, e do Sud América ser considerado pelo Jornal dos Sports como uma das melhores equipes uruguaias da época,[7] a campanha não foi muito favorável: apenas cinco vitórias em treze jogos, sofrendo goleadas do Vasco (3–0) e do Santos (5–0). O desempenho uruguaio recebeu críticas da mídia brasileira, que classificou a equipe como "fraca"[8] e "tecnicamente deficiente",[4] reputando-a inferior aos principais elencos brasileiros.[9][10] Por outro lado, o time uruguaio foi elogiado pela imprensa pelo seu cavalheirismo e jogo limpo.[8][11][4] A excursão do Sud América decorreu entre os meses de março e abril, e a agremiação visitou as cidades do Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Santos, Vitória, Salvador e Niterói. Foram enfrentadas tradicionais equipes brasileiras, como o Atlético Mineiro e o Bahia, além dos já citados Vasco e Santos. No total, foram disputados treze jogos, com cinco vitórias, cinco derrotas e três empates, com 27 gols marcados e 26 gols sofridos.[12][13] A excursão uruguaia foi a maior excursão de um time estrangeiro em terras brasileiras até então.[14] ExcursãoO Sud América veio ao Rio de Janeiro a convite do Vasco.[1][2][3] Ao zarpar de Montevidéu, o presidente da equipe platina enviou telegrama a equipe carioca, destacando o propósito de "fixar em laços fortes o espírito de confraternização entre povos irmãos".[15] O Sud América desembarcou no Rio no dia 14 de março, a bordo do navio "Duilio".[1][16] Os buzones disputaram três partidas em campos cariocas, todas no Estádio de São Januário. O programado era que na primeira partida a equipe enfrentasse um combinado com os principais jogadores da Associação Metropolitana de Esportes Athleticos. Os principais clubes cariocas, contudo, não forneceram seus jogadores: o Vasco na véspera da partida estava na cidade de São Paulo, enfrentando o São Paulo Futebol Clube. Também estava em São Paulo o Fluminense, que no mesmo dia media forças contra o Palmeiras. Já o Botafogo se recusou a ceder jogadores.[8] Com isso, foi montado um combinado de jogadores do São Cristóvão, America, Bangu e Andarahay.[7] A partida ocorreu em 15 de março, e foi vencida pelos uruguaios por 3–0.[17] A vitória do Sud América foi comemorada no Uruguai, e o time recebeu do seu país diversos telegramas de felicitações pelo resultado.[18][19] A apresentação uruguaia, contudo, não impressionou a imprensa carioca: o Correio da Manhã afirmou que o Sud América era um "quadro muito homogêneo, mas fraco", uma equipe "onde não se encontra elemento de grande destaque, e que o combinado brasileiro era um "desconjunto da terceira, ou quarta ordem, sem treino, sem organização e sem as qualidades precisas para enfrentar equipes estrangeiras".[8] Por outro lado, o jornal elogiou a lealdade dos atletas uruguaios, afirmando que "raramente temos visto em teams platinos jogo tão limpo e delicado".[8] Já o vespertino A Noite apontou que o quadro carioca "pouca ou quase nenhuma confiança inspirava".[4] Sobre a atuação uruguaia, o tom também foi crítico: a apresentação foi classificada como "regular", afirmando que os jogadores eram "um tanto morosos", mas com alguns "elementos que se destacam".[4] O jornal também elogiou a postura leal da agremiação platina durante o jogo. Após o jogo, o Sud América promoveu um jantar em um hotel, em comemoração ao seu 17º aniversário de fundação. O banquete foi oferecido à imprensa carioca, e nele estiveram presentes representantes da mídia, do Vasco e o cônsul esportivo do Uruguai, representando o Ministro uruguaio Caballero, além de alguns árbitros de futebol. Ao final do jantar, o presidente do Sud América, Leoncio Lucas, afirmou os propósitos de "sã e verdadeira amizade que sempre uniram brasileiros e uruguaios".[19] A segunda partida pode contar com jogadores do Vasco, Fluminense e Botafogo,[20] além de atletas de America e Bangu.[21] Apesar do reforço de tais equipes, o jornal Correio da Manhã argumentou que o combinado, apesar de mais forte que o primeiro elenco formado para enfrentar os uruguaios, "não representa nem de fato, nem oficialmente, a verdadeira força do futebol carioca".[20] O paulista A Gazeta, por outro lado, argumentou que o "selecionado carioca está bem constituído", apesar de reconhecer que não se tratava da força máxima, vaticinando que a equipe carioca "tudo faz crer que vingará a derrota sofrida".[22] A partida seria realizada no dia 20, mas teve que ser adiada para o dia 22, em razão de fortes chuvas que castigaram a cidade do Rio.[23][24][25] O confronto foi vencido pelo combinado brasileiro por 3 a 2.[26] Na partida preliminar, houve disputa entre o América e o São Cristóvão, vencida pelo primeiro por 3–1.[11][27] Segundo o jornal Correio da Manhã, São Januário teve um público bem grande para assistir à partida.[11] Já A Gazeta apontou que o público, apesar de grande, deixou "claros nas vastas dependências do clube da Cruz de Malta".[27] O Correio da Manhã, que na véspera da partida tinha criticado a composição do combinado carioca, adotou tom mais ameno em razão da vitória; escreveu que "o scratch carioca se não é o verdadeiro selecionado da cidade, é, pelo menos, o melhor que se pôde organizar atualmente".[11] O ataque carioca, formado por uma linha de atacantes do Botafogo, foi elogiado pelo jornal. Já a atuação em particular do zagueiro Domingos da Guia e do volante Fausto dos Santos foi criticada, sendo ambos acusados de lançar "pontapés para molestar adversários", em um "atestado de selvageria, quando só recebiam provas de gentileza e de cavalherismo [dos uruguaios]".[11] A terceira e última partida dos uruguaios no Rio se deu contra o Vasco. Inicialmente, o clube carioca desejava pôr em campo um combinado Vasco-São Paulo. A vinda dos paulistas era aguardada com expectativa pela imprensa carioca, ansiosa para ver em ação o atacante Arthur Friedenreich.[28] O comparecimento do São Paulo em campos cariocas, conduto, não não foi possível em razão de a equipe paulista disputar na mesma data o Torneio Início.[21] Optou-se, então, levar a campo a equipe principal do Vasco, sem o acréscimo de jogadores de outros times. Demonstrando confiança nos vascaínos, o Jornal dos Sports escreveu que o Vasco "por si só, está em condições de enfrentar em igualdade de condições o team uruguyao".[21] Já o A Noite apontava o Vasco como o time "mais homogêneo da cidade", ressaltando a grande expectativa pelo embate entre os dois clubes.[29] O confronto ocorreu em 24 de março, com vitória vascaína por 4–2.[30][31][32][33] A postura dos jogadores vascaínos durante a partida foi criticada pela imprensa: segundo o Correio da Manhã, a equipe cruzmaltina foi cheia de "brutalidade e gestos descorteses".[31] Já o jornal A Noite acusou os jogadores vascaínos de "praticar jogo violento, degenerando a contenta amistosa".[32] A maior crítica, contudo, foi reservada à torcida vascaína, que vaiou intensamente o árbitro do jogo. Segundo O Jornal, a vaia durou dez minutos, e só terminou quando o árbitro entregou o apito a um diretor do Vasco, abandonando o campo. Sem juiz para apitar o jogo, a função foi delegada a um jogador reserva da equipe uruguaia.[33] O comportamento da torcida foi repreendido pela imprensa;[31] o jornal A Noite chamou o ocorrido de "incidente lamentável".[32] Finalizada a excursão dos buzones no Rio, a equipe partiu para Belo Horizonte, convidada pelo Atlético Mineiro.[34] A primeira partida se deu contra um combinado mineiro, com empate em 1 a 1.[35][36] Já a segunda partida foi contra o Atlético Mineiro, com vitória do Galo por 3–2.[37][38][39] A atuação do Atlético foi elogiada pelo jornal A Gazeta, que afirmou que "os mineiros estão se tornando dignos emulos dos paulistas e cariocas", concluindo que "o seu brilho merece aplausos".[38] A próxima parada foi em Santos, em disputa contra o time praiano, que inaugurava seus novos refletores; a partida viria a ser a segunda partida noturna da história do estádio da Vila Belmiro.[40] Segundo o Jornal A Gazeta, o confronto era aguardado com expectativa, já que a equipe santista vinha abatendo "quantos adversários estrangeiros se lhe têm anteposto",[41] em referências as vitórias contra os argentinos Atlético Tucumán e Huracán, em 1930,[42] e contra o argentino Barracas e o uruguaio Rampla Juniors, em 1929.[43] O Santos goleou o Sud América por 5–0.[41][44] A goleada sofrida pelo Sud América, somado a seu ruim desempenho até então em campos brasileiros (6 partidas, com 4 derrotas e 2 empates), levou o jornal A Gazeta a questionar as equipes uruguaias e argentinas que vinham se apresentando no país nos últimos anos; segundo o jornal, tais países deveriam mandar "conjuntos de grande classe para visitar o Brasil, evitando assim os feios fracassos das últimas temporadas uruguaias e argentinas entre nós".[10] De Santos, o Sud América foi a Vitória, vencendo um combinado do estado do Espírito Santo por 3–1.[45][46] A partida por pouco não foi cancelada: o navio que trouxe os uruguaios deveria partir antes mesmo do início do jogo. O capitão do navio, contudo, aceitou zarpar depois de terminado o confronto, possibilitando que o jogo fosse disputado.[46] Segundo o Jornal dos Sports, a Liga Espírito-santense, atual Federação de Futebol do Estado do Espírito Santo, não pagou o acordado com os uruguaios, que enviaram reclamação formal a Confederação Brasileira de Desportos.[47] A equipe uruguaia se dirigiu então a Salvador, onde disputou quatro jogos.[13] A primeira partida se deu contra o Botafogo Sport Club, com empate em 1–1 e assistência calculada em 10.000 pessoas.[48][49] Segundo a imprensa, partida teve lances ríspidos de ambas as equipes.[48][49] O ponto alto da campanha em Salvador foi a goleada de 5–1 sobre o Bahia, a primeira partida internacional do clube baiano,[50] que acabara de ser fundado naquele mesmo ano. O último jogo do Sud América em Salvador acabou não terminando, em razão da grande confusão que se criou em campo após o uruguaio Laino agredir o jogador brasileiro Aloysio com um soco em seu rosto. A desordem foi tamanha que a polícia teve de ser chamada para intervir, para garantir que o time uruguaio conseguisse sair de campo. O Sud América teve que ser escoltado de volta ao seu hotel.[51] Ao final da campanha em Salvador, a Liga Bahiana, atual Federação Bahiana de Futebol, ofereceu em homenagem ao futebol uruguaio, por intermédio do Sud América, um troféu a ser disputado pelas equipes de Montevidéu.[52] Segundo o desejo da Liga Bahiana, a taça deveria ser dada a equipe que vencesse a competição por três vezes seguidas ou seis alternadas.[53][54] Os buzones voltaram então ao Estado do Rio de Janeiro para finalizar sua excursão, disputando uma partida em Niterói, contra o Ypiranga, com vitória uruguaia por 5–3.[55] A partida, realizada em 25 de abril, foi a primeira partida de um time estrangeiro em Niterói.[56][57] Um dia depois da partida, o Sud América zarpou para o Uruguai, a bordo do navio "Almanzora".[58][59] Elenco
Partidas
Notas
Referências
BibliografiaJornaisA Esquerda
Diario Nacional
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