Erthos Albino de Souza

Erthos Albino de Souza
Retrato de Erthos Albino de Souza (sem data, acervo pessoal)

Erthos Albino de Souza (Ubá, 1932Juiz de Fora, 2000) foi um poeta e artista gráfico brasileiro.[1] Formou-se em engenharia. É considerado um pioneiro no emprego do computador para a elaboração poética e um precursor da poesia digital.[2] Criava sua poesia a partir da programação de gigantescos computadores, utilizando conceitos da física e da matemática. Vai morar em Salvador na década de 1950 onde trabalha como engenheiro de minas na Petrobrás até se aposentar (já na década de 90). Em Salvador, editou a importante revista literária de vanguarda Código[3] com 12 números entre 1974 e 1990.[4][5][6] Sua obra Tumba de Mallarmé é considerada um dos primeiros poemas eletrônicos brasileiros e do mundo.[7]

Erthos por Antonio Risério:

“A poesia computadorizada começa, no Brasil, com Erthos Albino de Souza, um dos pioneiros internacionais do uso poético do computador. Conheci o seu trabalho em 1973, mas sei que seus experimentos vinham de antes. Engenheiro da Petrobrás, Erthos iniciou suas pesquisas e seus ensaios nos computadores da empresa. Ele é pré-micro, portanto, poeta do tempo do computadorzão, com cartão perfurado e válvulas enormes. Em 74, publicou na revista Código [número 1], que editávamos na Bahia, o Soneto Alfanumérico, jogando com letras e dígitos (este é o sentido do alphanumeric, no vocabulário informático), em base permutatória, no interior da antiga forma literária (...)” Antonio Risério, “Ensaio sobre o texto poético em contexto digital”, 1998.

Erthos por Eduardo Kac:

“Erthos é o primeiro poeta brasileiro a pensar o poema eletronicamente. Ao contrário de muitos escritores – que alardeiam o fato de utilizarem computadores para escrever romances ou poemas em versos como se o novo meio fosse apenas uma máquina de escrever sofisticada – Erthos busca a novidade do material poético nas linguagens Fortran e pL1, ao subverter sua função numérica objetiva e fazer com que se processem palavras de maneira subjetiva. A nova poética surge, então, desse uso criativo e programático das linguagens para a obtenção de textos-imagens, um uso em que a precisão da sintaxe dos programas origina poemas com uma nova estrutura visual e sequencial”. (KAC, 2004, p. 321)

Erthos por Omar Khouri:

"poeta que opera nos interstícios dos Códigos/linguagens, veicula em seu trabalho nesgas de informação, primando pelas sutilezas, onde o verbal funde com o visual: é verdadeiramente um poeta intersemiótico. Lidando com computadores, Erthos elaborou muitos poemas que fazem uso corrente do instrumento – ou seja considerando a natureza do instrumento[...]”. (KhOURI, 2003, pp. 27-28)

Erthos por Antonio Risério novamente:

"Não sei muito bem como defini-lo pessoalmente. Magro, alto, o olho meio puxado sugerindo alguma ascendência indígena, ele era muito recolhido, muito monástico e muito solitário. Ao mesmo tempo, gostava de sair com a gente (eu, Caetano, Waly, etc). E não era apenas por interesse estético ou intelectual. Era amizade, também. Além disso, Erthos (...) se sentia muito mais à vontade com aquele bando de cabeludos malucos que não tinha preconceito contra nada, muito pelo contrário. Ele morria de rir com as maluquices e as frases de efeito do Waly. Ficava muito só, em casa, com a televisão ligada sem som, com seus gatos e lendo às vezes coisas totalmente surpreen­dentes, como a biografia de uma bailarina da corte de não me lembro que rei francês... Mas nos recebia com alegria. Sabia Euclydes e Guimarães Rosa de cor e salteado. Amava arte abs­trata. " [Extraído de depoimento de Antonio Risério recebido por Felipe Paros via correio em 28 de junho de 2004.]

Referências

  1. Omar Khouri (2004). Revistas na era pós-verso: revistas experimentais e edições autônomas de poemas no Brasil, dos anos 70 aos 90. [S.l.]: Atelie Editorial. p. 28 
  2. Augusto de Campos (2015). Poesia, antipoesia, antropofagia & cia. [S.l.]: Companhia das Letras. p. 9 
  3. [1], Digitalização das revistas Código
  4. «Erthos Albino de Souza (verbete)». Enciclopédia Itaú Cultural. Consultado em 1º de abril de 2016 
  5. «Erthos Albino de Souza». Discernir. Consultado em 1º de abril de 2016 
  6. «Pioneiro da literatura digital no Brasil». Saraiva Conteúdo. Consultado em 1º de abril de 2016 
  7. Heloisa Buarque de Hollanda, Cristiane Costa, Rodrigo Savazoni, Cicero Inacio da Silva, Brett Stalbaum, André Lemos, Arthur Protasio, Beatriz Lagoa, Cleomar Rocha, Jonas Federman, Luiz Agner (2015). Zona digital. [S.l.]: e-galáxia 
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