Deiscência (botânica) Nota: Se procura outros usos do termo, veja Deiscência.
Deiscência é a designação dada em botânica à abertura natural de órgãos ou estruturas reprodutivas (por exemplo, de frutos, anteras ou esporângios) quando atingem a maturação. A abertura ocorre ao longo de uma linha de fraqueza interna e visa libertar para o ambiente o conteúdo (geralmente sementes, pólen ou esporos). A deiscência é comum nos frutos, anteras e esporângios, envolvendo geralmente o desprendimento completo de uma parte da estrutura. As estruturas reprodutivas que se abrem dessa maneira são ditas deiscentes, enquanto aquelas que não se abrem naturalmente são consideradas indeiscentes e dependem de outros mecanismos, como a decomposição ou a predação, para libertar o conteúdo.[1] Um processo semelhante à deiscência ocorre na antese de alguns botões florais (por exemplo, em Platycodon e Fuchsia), mas isso raramente é referido como deiscência, a menos que ocorra abscisão circum-séssil. A deiscência pode ou não envolver a perda de uma estrutura pelo processo de abscisão, sendo nesse caso as estruturas perdidas designadas por caducas. DescriçãoA abertura do órgão ou estrutura reprodutiva que origina a deiscência, embora tenha sempre em comum a existência de linhas de fraqueza interna que conduzem à rotura, pode ocorrer com recurso a mecanismos muito distintos e por consequência assumir uma grande diversidade morfológica e funcional. O mecanismo pode ser meramente passivo, levando à abertura da estrutura e permitindo que o conteúdo caia por ação da gravidade ou seja arrastado pelo vento ou pela água da chuva ou orvalho, mas também pode ser do tipo explosivo, permitindo a projeção ativa do conteúdo com recurso a diversos mecanismos de propulsão. Dada a diversidade de tipos e mecanismos, e a existência de formas intermédias que dificultam o agrupamento, a deiscência é manifestamente difícil de classificar. Deiscência em frutosExistem muitos tipos distintos de deiscência de frutos, que envolvem diferentes tipos de estruturas. Alguns frutos são indeiscentes e não se abrem para dispersar as sementes. Designa-se por «xerocasia» a deiscência que ocorre ao secar, e por «higrocasia» a deiscência que ocorre por efeito da prsença de humidade ou de água, especialmente quando o fruto é higroscópico. Os frutos deiscentes que são derivados de um carpelo são folículos ou vagens, e aqueles derivados de múltiplos carpelos são cápsulas ou síliquas.[2] Um exemplo de fruto deiscente é a síliqua. Este fruto desenvolve-se a partir de um gineceu composto por dois carpelos fundidos,[2] que, após a fertilização, crescem para formar uma síliqua que contém as sementes em desenvolvimento. Após a maturação das sementes, ocorre a deiscência e as válvulas soltam-se do septo central, libertando as sementes. O processo de libertação das sementes também é conhecido como «debulha» ou «estilhaçamento» e pode ser importante como mecanismo de dispersão mecânica de sementes. Esse processo é semelhante à deiscência da antera e a região que rompe (zona de deiscência) percorre toda a extensão do fruto entre as valvas (as paredes externas do ovário) e o replum ( os septos persistentes do ovário). Na maturidade, a zona de deiscência é efetivamente uma camada não lignificada entre duas regiões de células lignificadas na valva e no replum. O estilhaçamento ocorre devido à combinação do afrouxamento da parede celular na zona de deiscência com as tensões estabelecidas pelas propriedades mecânicas diferenciais das células ao secarem.
Ainda assim, podem ser reconhecidos os seguintes grandes grupos de deicência nos frutos: (1) deiscência loculicida e septicida; (2) deiscência poricida; (3) deiscência sutural (simples e dupla); (4) deiscência valvar; (5) deiscências paraplacentária (ou septífraga); (6) deiscência por abscisão circum-séssil; e (7) deiscência explosiva. Esses tipo de deiscência apresentam uma clra correlação com o tipo de placentação, pois a implantação dos óvulos, e por consequência das sementes, nos carpelos dtermina em parte a deiscência. A figura seguinte demonstra, parcialmente, essa relação:
O controlo da deiscência nas plantas cultivadas apresenta grande valor agronómico, já que em geral se pretende colher as sementes antes destas caírem para o solo. A deiscência é uam das caraterísticas fenotípicas que geralmente são controladas pelos métodos de seleção agronómica de cultivares. As plantas com debulha precoce são pouco eficientes do ponto de vista da cultura, pois a perda de sementes pode ser grande antes e durante a colheita. Deiscência em anterasVer artigo principal: Estame
A deiscência da antera é a função final daquela estrutura permitindo a liberação dos grãos de pólen. O processo é coordenado precisamente com a diferenciação do pólen, desenvolvimento floral e abertura da flor, por forma a que o pólen seja libertado apenas quando maduro e em períodos que permitam maximiaro sucesso na polinização e, em muitos casos, reduzir a possibilidade de autopolinização das flores do mesmo indivíduo que eventualmente tenham óvulos férteis. A parede da antera quebra e abre-se num local específico, normalmente correspondente a uma indentação entre os lóculos de cada teca e percorre o comprimento da antera, mas em espécies com deiscência de antera poricida a abertura é um pequeno poro. Se o pólen for libertado da antera através de uma divisão no lado externo (em relação ao centro da flor), isso é uma «deiscência extrorsa», e se o pólen for liberado do lado interno, isso é uma «deiscência introrsa». Se o pólen é libertado através de uma divisão que está posicionada para o lado, em direção a outras anteras, ao invés de para dentro ou para fora da flor, isso é uma «deiscência latrorsa». O estoma é a região da antera onde ocorre a deiscência. A degeneração das células estomiais e do septo faz parte de um programa de morte celular cronometrado pelo desenvolvimento do pólen. A expansão da camada endotecial e posterior secagem também são necessárias para a deiscência. O tecido do endotécio é responsável pela tensão que leva à divisão da antera. Este tecido é geralmente de uma a várias camadas de espessura, com paredes celulares de espessura desigual devido à lignificação irregular da parede celular. As células perdem água e a espessura irregular faz com que as paredes mais finas das células se estiquem em maior extensão. Isso cria uma tensão que eventualmente faz com que a antera se divida ao longo de sua linha de fraqueza e liberte os grãos de pólen para a atmosfera. No caso das anteras, a deiscência ocorre pela quebra de várias partes da estrutura envolvente. A morfologia pode ser classificada de várias maneiras, mas também ocorrem formas intermédias:
Deiscência na anteseOs botões florais do género Eucalyptus e géneros relacionados abrem-se com deiscência circuncissídea, ou seja a abertura das flores faz-se por abscisão circum-séssil. No processo, uma pequena tampa separa-se do restante do botão ao longo de uma ranhura horizontal circular, libertando a flor.
Deiscência em esporângiosOs esporângios da maior parte dos musgos apresentam deiscência, em geral por higrocasia, com tecidos higroscópicos que promovem a abertura na presença de água. O tecido do endottécio das cápsulas dos musgos funcionam de forma similar ao endotécio das paredes das anteras das plantas com flor, permitindo a abertura do esporângio. Muitos pteridófitos leptosporangiados apresentam um annulus em torno do esporângio que ejecta os esporos. Os pteridófitos eusporangiados geralmente não apresentam mecanismo especializados de deiscência.
Ver também
Referências
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