Crítica genéticaA crítica genética é um campo teórico-metodológico que tem o objetivo de reconstituir uma história do texto em estado nascente, buscando encontrar nele os segredos da fabricação da obra. É tornar visível e compreender a originalidade do texto literário ou não, através do processo que lhe deu origem. Para tal movimento, são utilizadas estratégias de organização, transcrição e edição do que os geneticistas chamam do dossiê genético[1]. OrigensOs estudos de crítica genética iniciaram-se com a crise na crítica literária de 1968, na qual houve uma ruptura com o estruturalismo vigente na época. Já em 1982, pesquisadores dos manuscritos de Heinrich Heine fundaram o ITEM - Institut de Textes et Manuscrits Modernes, que está ligado ao CNRS - Centro Nacional da Pesquisa Científica, ambos localizados em Paris, na França. Esses pesquisadores têm como objetivo pensar os manuscritos a partir de visões específicas, como a Linguística, a autobiografia e a informática. Alguns dos principais autores desse campo são franceses: Pierre-Marc de Biasi[2] e Almuth Grésillon, cujas publicações ainda norteiam os estudos de crítica genética[3]. Conceitos básicosMuitos dos termos utilizados nos estudos de crítica genética advêm do francês, seu local de origem. A ideia de organizar um glossário para este estudo foi necessária na medida em que as leituras advindas trazem uma série de variações que, em algum momento, podem interferir no entendimento do estudo do processo de criação. Há o Glossário de Crítica Textual[4], que traz palavras em comum à crítica textual e à crítica genética[5].
Dossiê genéticoTambém chamado de prototexto[2], a função dele é organizar os documentos necessários para o estudo genético de uma obra. Nesse processo, a realização da análise crítica dos manuscritos pede que se considere o tipo de rasura encontrada e que tipo de transcrição será realizada, a depender de quem está realizando esse estudo e quais seus objetivos com os manuscritos. Os tipos de rasuras podem ser classificadas de acordo com sua funcionalidade no texto: supressão (retirada definitiva de uma palavra ou um trecho), substituição (lugar por lugar, quando a substituição foi algo próximo ou igual ao trecho; por elipse, quando o segmento substitutivo for menor que o trecho substituído; por acréscimo, quando o trecho substitutivo for maior que o trecho substituído); deslocamento ou transferência, quando há um reordenamento de palavras ou trechos do texto, resultando em uma melhor escrita; suspensão, quando o autor percebe que uma substituição pode acontecer a posteriori, ele adia as alterações que deseja realizar; utilização, quando o risco não é acompanhado de nenhum acréscimo ou substituição. O método de análise dos manuscritos obedecem a três operações: Estabelecimento do corpus e especificação das peçasConstituir o dossiê integral dos manuscritos disponíveis da obra em questão, reunindo e autenticando todo o material. Lembrar que os manuscritos não precisam ser somente aqueles produzidos manualmente, mas os digitais também estão inseridos (textos digitados, imagens, áudios ou vídeos), considerando os avanços tecnológicos existentes. Aqui temos quatro fases genéticas: Pré-redacionalFase que antecede o momento de escrita propriamente dita. Alguns autores esclarecem que pode ser um ato meramente psíquico, que acaba e não deixa rastro algum.Subdivide-se em Fase de pesquisa preliminar e Fase de inicialização. RedacionalMomento em que inicia a execução da obra, cujas anotações podem acontecer por meio de abreviaturas ou escrita telegráfica ou estenógrafa. Aqui, é possível encontrar rasuras que permitem acompanhar mais detalhadamente o processo de criação da obra. Pré-editorialA escrita entra na fase de "conclusão", contudo, são permitidas ainda qualquer tipo de rasura que sejam necessárias conforme o entendimento do autor. Aqui, também acontecem as revisões do material. EditorialQuando o autor autoriza a publicação de sua obra, depois da correção da última prova tipográfica. Classificação dos rascunhosOrganizar o dossiê dos rascunhos e documentos de redação, obedecendo a uma finalidade especificada pelo pesquisador geneticista. Especificar, datar e classificar cada fólio desse dossiê. A ideia é buscar uma cronologia que possibilite o estudo de forma linear, quando for possível. Deciframento e transcriçãoEssas etapas apresentam características diferentes em cada caso, conforme o estado em que se encontra cada manuscrito. O ideal é que o manuscrito apresente clareza suficiente para que não seja necessária a transcrição. Nesse caso, o pesquisador pode trabalhar diretamente com os originais. É necessário que se estabeleça um instrumento teórico para direcionar a análise do material. Nesse momento, o pesquisador poderá valer-se da prática interdisciplinar. Depois de analisar as rasuras através de codificações próprias para tal fim, o pesquisador geneticista irá proceder à transcrição que, de acordo com seus objetivos de pesquisa pode acontecer de quatro[2] formas diferentes: Transcrição linearizada codificada (código simplificado)fácil de ler, economia de espaço, sem respeitar a paginação do manuscrito. Transcrição semidiplomática codificada (código complexo)difícil de ler, ocupa bastante espaço, respeitando em parte a paginação original. Transcrição diplomáticapouca codificação, muito fácil de ler, ocupa pouco espaço, fiel à paginação original. Transcrição diacrônica linearizada (com simulação das versões sucessivas)não codificada, fácil de ler, ocupa bastante espaço, não reproduz nem a paginação nem as rasuras originais. Apresenta as etapas sucessivas da escritura. Crítica genética no BrasilPrincipais grupos de pesquisadoresNo Brasil, os grupos de pesquisa[7] que se interessam pela crítica genética estão distribuídos pelas regiões Nordeste, Sul e Sudeste.
Ligações externasFrança
Brasil
Referências
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