Contagem de multidõesA contagem de multidões é uma técnica utilizada para contar ou estimar o número de pessoas em uma multidão, em geral em espaço aberto como parques e ruas. Em eventos com ingresso, catracas são muitas vezes utilizadas para contar com precisão o número de pessoas que entram em um local. Em eventos sem entrada controlada, especialmente eventos que acontecem nas ruas ou em um parque, em vez de um local fechado, a contagem da multidão é mais difícil e menos precisa. Para muitos eventos, especialmente comícios e protestos, o número de pessoas em uma multidão carrega um significado político, já que a quantidade de participantes é uma forma de medir a relevância política do evento. Quem organiza o evento tem estímulo para superestimar o número; a polícia, por sua vez, costuma subestimar o número.[1] Quando a discrepância é grande, surgem polêmicas. Por exemplo, os protestos globais contra a invasão do Iraque em 2003 viu muitas contestações dos números oficiais.[2] Mais recentemente no Brasil, as contagens das multidões de diversos eventos nos protestos de junho de 2013, foram também motivo de disputa. Em geral as polêmicas são evitadas com uma divulgação transparente, ou seja, quando os métodos, os dados e as fontes das medidas são devidamente revelados. MétodosHá diversos métodos para se medir uma multidão. O mais conhecido foi criado por um professor universitário de jornalismo, Herbert Jacobs, nos anos 60 – e por isso é conhecido como "método de Jacobs".[1] A grosso modo é simples: calcula-se a área do local, estima-se o número de pessoas por m², e multiplicam-se os dois números. Se as pessoas se concentram de forma desigual, leva-se isso em conta.[3] Para ser expresso mais formalmente, o método de Jacobs depende dos seguintes conceitos:[4]
Os métodos podem ser ainda mais sofisticados, conforme o comportamento da multidão e demanda por precisão. Em 2006, quando os Rolling Stones apresentaram um show a céu aberto na Praia de Copacabana, surgiram contagens de público com grandes diferenças. O então prefeito da cidade do Rio de Janeiro solicitou à Defesa Civil que encontrasse uma forma científica de fazer essa contagem para padronizá-la. Assim o engenheiro Bruno Engert Rizzo escreveu uma instrução técnica - IT001 - Estimativa do quantitativo de indivíduos em multidões - 64 p. 2006, que foi publicada e disponibilizada na internet. Medindo fotosNo caso de fotografias digitais, como a utilizada na ilustração, há que se proceder a uma ortoretificação digital, para corrigir efeitos de perspectiva, garantindo medidas de área consistentes.[5][6] A seguir o procedimento passo a passo do método adaptado para fotografias aéreas (ou de locais mais altos onde se avista a multidão):[6]
Multidões em movimentoAs pessoas em geral não ficam paradas, podem andar, pular, dançar, entrar, sair, etc. São necessários alguns cuidados a mais na medida. Na contagem de multidões não é analisado o comportamento "microscópico" de cada indivíduo, mas o comportamento "macroscópico" de grandes grupos:
Não podendo fazer uso de hipóteses simplificadoras, a medida requer um embasamento teórico maior. A teoria de tráfego de pedestres,[7] por exemplo, oferece um arcabouço mais rigoroso para se medir velocidade e fluxo da multidão. Nesse contexto a seção do método de Jacobs é chamada de volume de controle, e uma seção transversal, tal como a largura da pista, é utilizada como referência para se medir a velocidade.
Se, apesar desse rearranjo de densidades, ninguém chegou ou foi embora, pode-se dizer que a "contagem de antes da explosão" continua válida. Se, por outro lado, uma parte da multidão "fugiu", a contagem muda, e uma nova aferição será necessária. Entradas e saídasEm manifestações longas, o ato pode ir perdendo ou ganhando participantes. Usualmente toma-se como "contagem da multidão do ato" o valor de pico, ou seja, do momento de maior participação. Caso contrário deve-se efetuar mais de uma medida, para aferir quanto cresceu ou diminuiu o total de participantes, em diferentes momentos. Havendo mais de uma medida ao longo do tempo, pode-se sumarizá-las através da média aritmética. Não se pode somar resultados da contagem da multidão de diferentes momentos: considerando que alguns (ou muitos) dos participantes permanecem no ato, a soma estaria contabilizando duas vezes a mesma pessoa. Multidões renovadasMultidões que a priori são compostas por indivíduos distintos, como o público ao longo do dia em uma grande loja, ou nas sessões de cinema, possuem uma grande quantidade de saídas compensadas por entradas. Existe portanto uma parcela de "renovação" da multidão. Esse tipo de hipótese, apesar de justificável em alguns casos, não pode ser levada em conta na modelagem simples de multidões, sem algum outro instrumento para aferição da identidade dos indivíduos (por exemplo, cor da camisa dos torcedores), ou alguma evidência concreta da existência de sessões com público distinto ao longo do tempo (como no caso do cinema). A aferição de uma "taxa de renovação da multidão", para se obter a quantidade acrescida durante um período, requer métodos estatísticos mais sofisticados. Divulgação de resultadosPara evitar polêmicas e legitimar as medidas realizadas, é importante que a divulgação dos resultados seja acompanhada da publicação de relatórios mais detalhados,[8][1] indicando como e com quais dados os resultados foram obtidos. Os principais dados, a serem acompanhados dos resultados, são o horário da medição e o nome da metodologia utilizada (ex. Jacobs). Outro dado importante é a descrição da região de delimitação da multidão, mas raramente é simples de ser expresso em palavras. Com o advento da Internet, de qualquer forma, é simples publicar todos os demais dados: foto ou desenho da região, medidas das áreas das seções, fotos ou filmes utilizados como apoio para a contabilização, etc. No caso de medidas globais – por exemplo a soma do número de participantes a cada cidade nos protestos de junho de 2013 no Brasil – basta uma tabela citando as fontes onde foram publicadas as diversas medições que a compõe. Ver tambémReferências
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