Centro Cultural RecoletaO Centro Cultural Recoleta é um centro de exposições localizado no bairro de Recoleta, em Buenos Aires (Argentina). Funciona num edifício que originalmente albergava os monges conventuais (recoletos).[1] É considerado Monumento Histórico Nacional[2] e integra um pólo de atracções turísticas próximo do Cemitério da Recoleta e da Plaza Intendente Alvear. HistóriaConvento dos RecoletosO edifício onde se encontra o Centro Cultural foi originalmente doado aos frades franciscanos conventuais em 1716, e no lugar onde se localiza o edifício onde funcionava o claustro. Os planos da obra foram concebidos pelos arquitectos jesuítas alemães Johann Kraus e Johann Wolff,[2] enquanto o desenho da fachada e dos espaços interiores são atribuídos ao arquitecto italiano Andrea Bianchi. O conjunto forma um dos edifícios mais antigos ainda resistentes em Buenos Aires, finalizado em 1732.[1] Com a Revolução de Maio e a independência da Argentina, os frades conventuais nascidos em Espanha foram transferidos para Catamarca, por se oporem à Primera Junta, e então o edifício mudou de funções: Manuel Belgrano criou lá uma Academia de Desenho, dirigida pelo padre Francisco de Paula Castañeda.[3] Lar de Mendigos e outros usosEm 1822, o Governador Martín Rodríguez desalojou a ordem do Convento, transferindo os monjes que lá ficaram para a Basílica de São Francisco ou para Catamarca, e instalou em Recoleta o Asilo de Mendigos. Isto deveu-se à Reforma Eclesiástica impulsionada pelo ministro Bernardino Rivadavia.[1] Os edifícios passaram a ser para uso público, e este em concreto ficou afecto a uma escola de agricultura, jardim botânico, prisão e quartel.[2] Em 1828, as tropas do General Juan Lavalle instalaram-se no antigo Convento, dando início à rebelião em que seria assassinado o Governador Manuel Dorrego.[4] Em 1834, por iniciativa de Juan José Viamonte, um sector transformou-se no primeiro hospital universitário da cidade e nun asilo para doentes mentais. No dia 17 de Outubro de 1858 o Governador Valentín Alsina inaugurou aqui o Lar de Mendigos, que se tornou no Lar de Inválidos, quando foi proibida a mendicidade nas ruas.[5] Lar de Idosos “Governador Viamonte”Durante dez anos, o lar funcionou sob a direcção da Corporação Municipal de Buenos Aires, mas a grave situação financeira integrou a administração da instituição à ordem das irmãs de São Vicente do Paúl. Recuperou-se o carácter do antigo convento, e as freiras reordenaram o lar e mantiveram-se a cargo do agora Lar de Idosos, no século seguinte.[6] A Sociedad de Beneficencia foi a instituição civil a cargo do financiamento e manutenção do conjunto. A zona de “la Recoleta”, como já era conhecida, foi privilegiada por Torcuato de Alvear, primeiro intendente de Buenos Aires (1880-1887), para realizar remodelações e embelezamento do espaço público. O edifício do lar não foi excepção. Começando com as ampliações a partir de 1880, construíram-se o pavilhão de acesso e a capela (estilo neogótico), além de edifícios de um piso só, entre 1881 e 1885. As obras foram financiadas com doações de cidadãos de classe alta de Buenos Aires, e estiveram a cargo do arquitecto Juan Antonio Buschiazzo, que desenhou todos os edifícios.[7] Também Buschiazzo foi paisajista da actual Plaza Intendente Alvear; e projectou o actual pórtico do Cemitério da Recoleta e o muro com esculturas que sustém o terraço do antigo lar, preservando o forte desnivel do terreno. Assim, a área de Recoleta tornou-se a favorita do Intendente Alvear, e passou a ser um dos passeios preferidos da classe alta de Buenos Aires. Entre 1893 e 1894 o espaço foi alvo de nova ampliação, a cargo de Buschiazzo, já que o lar tinha cada vez mais alojados e juntava novas funções: lavandarias, padarias, etc.. Logo depois uma breve crise económica afectou a edilidade em 1897, e acompanhado pelo seu filho Juan Carlos, Buschiazzo trabalhou gratuitamente no desenho das ampliações, e assim se manteve até que em 1907 o Lar foi transferido para o Estado Nacional como parte do pagamento do terreno onde logo se ergueu o Hospital Torcuato de Alvear.[7] Ao longo das décadas seguintes, Recoleta conheceu um lento período de decadência e deteriorou-se, situação que afectou em especial o Lar de Mendigos: em 1944 passou a chamar-se Lar de Idosos General Viamonte. Chegou a poder albergar 800 pessoas, que não tivessem familiares ou médicos para subsistirem. O atendimento era efectuado por mais de 340 funcionários, que repartiam quatro turnos. Entre as instalações, existiam 17 salas de jantar, uma cozinha moderna, enfermaria, biblioteca e ambientes aquecidos estavam.[8] Na década de 1960, o lar começou a deteriorar-se, como aliás ficou documentado numa série fotográfica de 1969, realizada por Diana Frey.[9][10] Centro Cultural RecoletaEm 1979, quando a Argentina era governada pela ditadura militar, o intendente de facto Osvaldo Cacciatore impulsionou um projecto para transformar o velho lar no novo Centro Cultural Ciudad de Buenos Aires, onde ficariam instaladas numa única sede: o Museo del Cine, o Museo de Arte Moderno e o Museo de Artes Plásticas; além de parte da colecção do Museo de Arte Hispanoamericano.[2] A obra foi projectada pelos prestigiados arquitectos e artistas plásticos Clorindo Testa, Jacques Bedel e Luis Benedit. Apesar de Cacciatore ter proposto manter o estilo clássico dos antigos edifícios, os arquitectos optaram por uma linguagem totalmente contemporânea, com escadas metálicas e demolindo diversos pavilhões com o desenho de Buschiazzo.[2] O Centro Cultural foi inaugurado em Dezembro de 1980, e durante a direcção de Osvaldo Giesso (1983-1989), já enquadrado num regime democrático, começou a crescer e a desenvolver-se em pleno. Adoptou o seu actual nome em 1990.[2] Em 2001 foi inaugurada a Sala Villa Villa, construída com 250 mil dólares doados pelo grupo teatral De la Guarda, que se estreara em 1995 no mesmo centro cultural.[11] Em 2005, Clorindo Testa voltou ao CCR para projectar uma remodelação no assinalar do seu 25º aniversário. Assim, durante os anos seguintes, reformou o hall de entrada e as salas de exposição foram restauradas.[12] Em 2010, para o 30º aniversário do Centro Cultural Recoleta, foi restaurado o Auditório El Aleph, que ocupa o edifício da antiga capela.[13] Buenos Aires Design CenterEn 1990, foi constituído o Emprendimiento Recoleta S.A., com o objectivo de instalar um centro comercial e um centro de convenções en parte do prédio do Centro Cultural Recoleta. Na hora de elaborar a intervenção, a empresa contratou novamente Clorindo Testa, que dez anos antes projectou o centro cultural. O Buenos Aires Design Center ficou dotado de um espaço interior colorido e vibrante, e por baixo de terra foi criada uma galeria e um novo centro comercial. Inaugurado em 1993, o Buenos Aires Design dedica-se exclusivamente ao desenho, conta com um pátio de refeições é sede da sucursal de Buenos Aires do Hard Rock Café desde 1997. Além disso, desde 2003 funciona, num dos edifícios concebidos por Testa, o Auditório de Buenos Aires.[14] ActualidadeActualmente, o Centro Cultural Recoleta tem 27 salas de exposição, um micro-cinema, um auditório e um anfiteatro. Lá desenvolvem-se diversas actividades, desde exposições de artes plásticas a concertos, passando por representações teatrais, recitais e outros eventos. Tem ainda uma área que oferece cursos e oficinas e um laboratório de investigação e produção musical com tecnologia de ponta.[1] Referências
Ligações externas
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