De acordo com a professora Rosana Zanelatto (2009), doutora em literatura da Universidade Federal do Mato Grosso do Sul, "Celso Kallarrari compõe uma poesia intimista que se solidariza com o outro e com o mundo. Ele busca não somente as respostas aparentemente fáceis apreendidas nas experiências do cotidiano, mas também nas consubstanciação da palavra em temas raros à tradição da língua portuguesa..." (Zanelatto, 2009).[25] Em As Últimas Palavras, "Ao refletir este cenário caótico e desumanizante em que vivemos, os poemas de Kallarrari […] evidenciam as dificuldades que o sujeito contemporâneo tem de se adaptar ao sistema vigente e viver estas quebras, estas rupturas" (Figuerêdo, 2014)[26]. E, ainda, "As Últimas Horas apresenta, às vezes, mascaradamente, outras de forma clara, a temática acerca do relacionamento homem e máquina, no tempo-espaço atual ou do tempo-espaço virtual" (NERES, 2013)[27].
Na prosa de ficção
Em se tratando da prosa, O Ritual dos Chrysântemos, seu romance de estreia[28], publicado em 2013, fora bem aceito pela crítica, pois, segundo o professor Valci Vieira dos Santos, doutor em Literatura Comparada pela Universidade Federal Fluminense (UFF), evidencia que
"Personagens são construídas em meio a uma sociedade envolta em crises e atitudes transgressoras. Aliás, as atitudes transgressoras avultam-se, desde já, com a própria escrita do texto, cujos fios entrelaçados nem sempre colocam à mostra os caminhos a serem percorridos pelo leitor. A obra rompe com as formas tradicionais de escrita, quando apresenta um texto envolto a uma multiplicidade de aspectos que confirmam a sua natureza polifônica" (Santos, 2014, p. 114)[29].
Em consonância a esse pensamento, Carlos Ribeiro (2015), jornalista, ficcionista e doutor em literatura pela Universidade Federal da Bahia (UFBA), pondera:
"Nesta obra, por exemplo, esses novos elementos que configuram o romance, são classificados como indefinição, fragmentação, interdiscurso e polifonia de vozes de um narrador enigmático, muito misterioso, porque, ao contar a história de Eurico, se confunde com o próprio Eurico,"[30]. […], porque "Ora ele se diz um testemunha, quase ocular, de Eurico, mas ele não se situa, não tem nome, não se sabe quem ele é; apenas que é narrador, e um narrador não onisciente. Ora ele se define como "Eulíricos", num jogo de palavra, de signos, de códigos que Kallarrari demonstra grande competência" (Ribeiro, 2015, p. 66)[31].
"o narrador também se contradiz e caminha no vai e vêm próprio da reconstrução sempre imperfeita do passado, pois “Ao escrever, eu me lembro. Lembro-me de detalhes menores. Reconstruo Euricus. E, ao narrar, eu invento o que não ouvi e reinvento o que sei”. […] Após fecharmos o livro, é impossível dizer quem matou Poliana, se é que alguém a matou. Voltamos às suas páginas, e reencontramos pistas, reflexões, como Mckinleu à procura de significados. É impossível dizer se os demais crimes do crisântemos foram realizados pelo mesmo assassino de Poliana, se ele existiu. Impossível dizer se Mckinleu prendeu Eurico, ou se foi preso por ele. Talvez o autor queira, nessa trama textual, que o leitor dê, à sua ótica, a resolução final"[32].
Em 2016, Celso Kallarrari foi um dos autores selecionados com o conto de estreia “Um corpo íntimo”[5] no Projeto Mapa da Palavra[5][33] da Fundação Cultural do Estado da Bahia – FUNCEB[33][34]. No conto, aparece a temática canibal, recorrente, atualmente, em escritores contemporâneos. Conforme tese de doutorado À mesa com escritores canibais da professora Ivana T. Figueiredo Gund (2018), doutora em literatura brasileira pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), a temática canibal aparece em alguns autores brasileiros:
"Está na violência dos espaços urbanos, com suas patologias, individualidade e desumanização, em textos de Celso Kallarrari, Raphael Montes e David Coimbra […]" (2018, p. 50-51)[35]. "O motivo do canibalismo não cessa de aparecer nas páginas das obras de escritores contemporâneos que recorrem ao tema, em variações ou ângulos de observação bastante inovadores, como são exemplos os textos de Aleilton Fonseca, Fernando Bonassi, Marcelo Mirisola, Lusa Silvestre, Veronica Stigger, André Beltrão, Celso Kallarrari, Raphael Montes" (Gund, 2018, p. 67).[36].
Na visão desta autora, a ação canibal presente no conto Um Corpo Íntimo não se restringe meramente ao ato incontrolável pelo corpo daquela que nutre o “primeiro homem”, ou seja, o filho, mas também na estrutura do texto, porque, nele, "se apresenta um escritor que tem uma palavra cortante. Um escritor que esquarteja, mesmo que de forma ficcional o corpo que se apresenta como um corpus textual, que se apresenta aos pedaços e exige um leitor-anatomista capaz de reescrevê-lo ou reconstruí-lo" (Gund, 2019, p. 33-47).[37]
“O autor faz um trabalho magnífico com a linguagem, pois mostra a mais improvável e proibida história de amor em um terrível cenário, que é o período mais negro da história brasileira: os anos de chumbo da ditadura militar”. E acrescenta, afirmando que há "um jogo psicológico que nos é apresentado através de uma escrita bem feita, minuciosamente cuidada, instigante e envolvente. A história não é narrada da convencional maneira linear. Apesar disso, apresenta uma escrita sofisticada, enxuta, o que permite identificar uma sequência, espacial e temporal, lógica no enredo".[39]
No mesmo ano, dia 2 de dezembro, o autor foi homenageado pela Academia Teixeirense de Letras, na Câmara Municipal de Teixeira de Freitas, Bahia, por ter recebido o prêmio pelo romance inédito Desgrandeza.[40] O romance foi publicado em 2019 por uma editora baiana.[41][42]
"Celso Kallarrari detém-se em uma peculiaridade do estado de Minas Gerais, qual seja, o fabrico de laticínios determinado pela pecuária. Isso influencia nossos hábitos alimentares, tornando indispensável, na mesa do mineiro, o famoso queijo de Minas, de sabor inconfundível. […] A história é narrada em estilo atraente e excelente linguagem. Valoriza a diversidade linguística, conforme orientam os Parâmetros Curriculares Nacionais do Ensino da Língua Portuguesa".[44][45][46]
↑Kallarrari, Celso. O Discurso Religioso em Dom Casmurro. In. Germina. Revista de Literatura & Arte, agosto/2015. Acessado em 16 de julho de 2017. ISSN 2447-3537
↑Kallarrari, Celso; BESSA, Décio, PEREIRA, Aline. Estudos Linguísticos e Formação Docente. Campinas, SP: Pontes, 2016, p. 187. ISBN 85-7113-777-6
↑Kallarrari, Celso.Ecumenismo: história, perspectivas e desafios das tradições oriental e ocidental. Conferência do Prof. Dr. Pe. Celso Kallarrari (Igreja Ortodoxa Siríaca de Antioquia/UNEB. In. II Simpósio Internacional de Teologia Oriental. 50 anos de Unitatis Redintegratio e Orientalium Ecclesiarum. Faculdade de São Basílio Magno - FASBAN, 26 a 27 de agosto de 2014. Acesso em 12 de agosto de 2017.
↑YESHUA, Carlos Souza. Dicionário de Escritores Contemporâneos da Bahia. 2ª edição. Salvador, Bahia: CEPA – Círculo de Estudo, Pensamento e Ação, 2015, p. 86-87. ISBN 85-7239-037-8
↑Gund, Ivana Teixeira Figueiredo.Canibais contemporâneos em imagens textuais e fílmicas. In. Linguagem em (Re)vista. Linguagens e Culturas: Identidade, Ensino e Literatura, ano 14, Nº 27-28, 2019, p. 33-47). Acessado em 30 de janeiro de 2020.
↑Kallarrari, Celso. Desgrandeza. Itabuna/BA: Mondrongo, 2019, p. 268, ISBN 9786580066605
↑Kallarrari, Celso. Desgrandeza. 1ª edição. Editora Mondrongo, 2019.