Carlos Antunes (político)
Carlos Antunes (Vieira do Minho, Rossas, Serra da Cabreira, Aldeia de São Pedro, 1938 - Lisboa, Alvalade, 23 de Janeiro de 2021) foi um político português, militante antifascista. Fundou juntamente com Isabel do Carmo, sua ex-companheira, as Brigadas Revolucionárias (BR), um grupo terrorista[1] nascido em 1970, que defendia a luta armada como forma de derrubar o Estado Novo mas cuja actividade só terminou, já depois do 25 de Abril, em Junho de 1978, com a sua prisão. Em Outubro de 1973, fundou juntamente com Isabel do Carmo o Partido Revolucionário do Proletariado (PRP), de ideologia socialista revolucionária veementemente anti-parlamentarista e anti-marxista-leninista, passando este a actuar de forma articulada com as BR. Após o 25 de Abril, continuou a defender a violência armada, considerando-a legítima se feita em nome da defesa dos trabalhadores, enquadrada na luta de massas. O PRP/BR veio a ganhar algum protagonismo durante o PREC pela sua proximidade ao COPCON e ao Otelo Saraiva de Carvalho.[2] Em 1978, foram presos no decorrer de uma operação policial, vindo a ser julgados e condenados em 1980. Este julgamento seria no entanto declarado inconstitucional pelo Supremo Tribunal de Justiça e repetido em 1982.[3][4] Neste segundo julgamento viriam absolvidos da autoria moral dos crimes que eram acusados uma vez que os autores materiais foram amnistiados pela lei da amnistia.[5][6] Posteriormente, já em liberdade, liderou e foi membro da Comissão Pró-Amnistia Otelo e companheiros que defendia uma amnistia para os membros das FP-25.[7] BiografiaCarlos Carneiro Antunes, de seu nome completo, nasceu em junho de 1938, na aldeia de São Pedro, na serra da Cabreira, no distrito de Braga,[8][9], também sendo referida a data de 1940 para o seu nascimento[2][10]. Aderiu ao Partido Comunista Português (PCP) em 1955, com apenas 16 anos[8] sendo o responsável pela organização clandestina do partido no Minho.[9] Passou à clandestinidade em 1959, passando a usar o nome de código Sérgio ou Jacques, tornando-se funcionário do secretariado do Comité Central.[11] Em 1963 tornou-se membro da direção da Rádio Portugal Livre, instalada na Roménia. Ali viveu até 1966, partindo depois para Paris, onde foi o responsável pela organização do PCP no estrangeiro e participou na criação dos Comités de Ajuda ao Povo Português, e onde trabalhou com Álvaro Cunhal, histórico dirigente comunista português.[2][9] Foi em Paris que começaram as suas divergências com Cunhal, sobretudo em relação à ocupação da Checoslováquia pelas tropas do Pacto de Varsóvia, e sobre a posição dos comunistas portugueses perante a guerra colonial, defendendo que o regime salazarista só cairia por via das armas, e não de forma pacífica, como pensava Cunhal.[2] Carlos Antunes e Isabel do Carmo encontram-se por acaso em Paris e percebem que há entre eles uma afinidade política. Afastou-se de Cunhal em 1968, fundando em 1970, com Isabel do Carmo, igualmente dissidente do PCP, as Brigadas Revolucionárias, organização que defendia a luta armada como forma de derrubar o regime fascista. Entretanto em Outubro de 1973 cria juntamente com a sua companheira da altura, Isabel do Carmo, o Partido Revolucionário do Proletariado (PRP).[9] [12] Ainda antes do 25 de Abril de 1974, numa reunião em Milão, Carlos Antunes informou Joaquim Chissano, dirigente da FRELIMO, e posteriormente Presidente de Moçambique, de divergências no seio das Forças Armadas Portuguesas face à continuidade da guerra colonial.[2] Após a Revolução, não abdicou da violência, considerando-a legítima se feita em nome da defesa dos trabalhadores, enquadrada na luta de massas. Durante o Verão Quente de 1975, a influência do PRP assume importância em alguns sectores militares ligados ao COPCON.[2] É um dos subscritores do chamado "Documento Copcon" cujo nome verdadeiro era “Autocrítica revolucionária do Copcon/Proposta de trabalho para um programa político”[13] Este documento, redigido pelo Major Mário Tomé com o patrocínio de Otelo Saraiva de Carvalho e outros oficiais ligados ao COPCON, foi a resposta da ala militar mais radical ao chamado "Documento dos Nove" ou "Documento Melo Antunes".[14] Após o 25 de Novembro de 1975, e perante a continuação de acções e atentados reivindicados pelo PRP, são abertos processos contra Isabel do Carmo e Carlos Antunes, como autores morais de ações de violência armada e assaltos a bancos.[2] Foram ambos presos numa operação policial, no Porto, fruto de uma operação policial, onde resultou a morte do agente da PJ, José Carvalho. Foi acusado e colocado em prisão preventiva em Junho de 1978, menos de um mês depois da criação da Organização Unitária de Trabalhadores (OUT), e que resultou na cisão ocorrida uns meses mais tarde, liderada por Pedro Goulart.[9] No julgamento, iniciado em 1979, Carlos Antunes e Isabel do Carmo são condenados, respetivamente, a 11 e 15 anos de prisão.[15] Nesse ano, os dissidentes do PRP em conjunto com Otelo e Mouta Liz, formam as Forças Populares 25 de Abril.[2] Carlos Antunes permaneceu preso até 1982, sendo julgado e absolvido cinco anos depois.[9][7] Depois de sair da prisão, aderiu ao ecossocialismo, sendo autor do livro "Ecosocialismo, Uma alternativa verde para a Europa". Em abril de 2014, entra no filme “Outra Forma de Luta”, do realizador João Pinto Nogueira.[2] A 29 de Dezembro de 2020 foi internado nos cuidados intermédios do Hospital de Santa Maria, em Lisboa, depois de ter sido infetado com COVID-19 durante o Natal, lutando nas duas semanas seguintes contra uma pneumonia viral e bacteriana. Também a sua ex-companheira, médica e ativista política Isabel do Carmo, assim como todos os familiares que se reuniram no Natal, contraiu COVID-19 e esteve internada no hospital entre os dias 11 e 20, recuperando em casa. Na manhã de 23 de Janeiro de 2021, Carlos Antunes entrou em coma, vindo a morrer durante a tarde, contando então 82 anos.[9] Referências
Ligações externas
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