Capela de São Miguel (São Teotónio)
A Capela de São Miguel, igualmente conhecida como Ermida de São Miguel, é um monumento religioso demolido e um sítio arqueológico na freguesia de São Teotónio, no Município de Odemira, na região do Alentejo, em Portugal. DescriçãoO imóvel consistia numa capela de tipologia rural, que estava situada junto à Rua da Igreja, num ponto elevado na povoação de São Miguel.[1] Este local formava um patamar proeminente na margem setentrional da várzea da ribeira de Odeceixe.[2] O edifício era de pequenas dimensões, com uma planta longitudinal e escalonada, orientada de nascente a poente,[2] que era formada por uma só nave e capela-mor, cobertos por telhados de duas águas.[1] A nave estava disposta de forma transversal, uma vez que a sua largura era superior ao comprimento, enquanto que a capela-mor apresentava uma planta de forma quadrada.[1] O exterior era muito sóbrio, sem quaisquer motivos decorativos, sendo as paredes rebocadas.[1] As paredes eram construídas em alvenaria rústica, unida por argamassa e cal, areia e barro.[2] A fachada principal tinha um só pano e era encimada por uma empena, sendo rasgada por uma porta de verga recta.[1] Sobre o lado esquerdo da empena erguia-se um campanário de espadana em arco de volta perfeita, e com olhal também em arco pleno.[1] A fachada Norte estava dividida em dois panos, correspondendo aos espaços da nave e da capela-mor, e era rasgada por uma porta, enquanto que a Sul era igual, mas não possuía quaisquer aberturas.[1] O alçado oriental, que correspondia à cabeceira, tinha só um pano.[1] No interior destacava-se a pia de água benta em cantaria, situada no lado da Epístola na nave, e o arco triunfal em arco de volta perfeita, que possuía uma moldura imitando cantaria suportada por impostas.[1] Junto à capela existia uma área sepulcral, existindo relatos orais da presença de várias sepulturas, de forma simples ou estruturadas por lajes e com tampas, situadas nos lados nascente, Norte e Sul, e que se situavam até cerca de trinta metros de distância.[2] Com efeito, durante os estudos arqueológicos foram descobertos três grupos de vestígios osteológicos humanos, numa área que originalmente correspondia ao adro, pelo que provavelmente serão do mesmo período da capela.[2] HistóriaA área onde se erguia o edifício foi habitada pelo menos desde a época romana, podendo ter sido originalmente uma villa.[1] A capela poderá ter sido construída em cima de um antigo templo pagão, uma vez que normalmente as capelas consagradas a São Miguel eram edificadas sobre antigas estruturas pagãs, situadas em locais elevados.[1] Também existem relatos orais confimando a existência de muros no lado Sueste da ermida, que apresentavam uma sistema construtivo típico do período romano, que poderão ter sido cobertos por uma terraplanagem dos terrenos, em 2004.[2] O espólio encontrado no local está integrado em cronologias da era romana até à Idade Moderna, passando pela período islâmico.[2] De especial interesse são os fragmentos de peças em cerâmica, que incluem taças meladas produzidas em torno dos séculos X ou XI, com pintura a óxido de manganês, uma jarrinha em pasta rosada, igualmente fabricada em torno e decorada com óxido de manganês, formando bandas horizontais lisas e onduladas, que provelmente pertence aos séculos IX ou X, terra sigillata sudgálica do século I e clara A do século II, e uma asa de ânfora Dressel 14 lusitana, dos séculos I a III.[2] Outros materiais recolhidos no local incluem vestígios osteológicos humanos, restos de moluscos marinhos, escórias da redução de ferro, e uma vareta de bronze.[2] A capela em si poderá ter sido construída nos finais do século XVI ou princípios do século XVII, sendo de 1638 o registo mais antigo à sua presença.[2] Foi encerrada ao culto no século XX e ficou ao abandono, embora a imagem do padroeiro tenha sido conservada na sacristia da Igreja Paroquial de São Teotónio.[1] O monumento foi demolido em 2004, pela Junta de freguesia de São Teotónio.[2] Em 2011 o local foi alvo de trabalhos arqueológicos, no sentido de averiguar se existiam vestígios de ocupação anteriores à construção da capela, e se foram danificados pelo processo de demolição.[2] Ao mesmo tempo, também se procurou estudar o impacto que a construção de um novo edifício teria nos vestígios arqueológicos.[2] Foram descobertas as fundações da fachada da capela, e os restos osteológicos de dois indivíduos em frente, um deles uma criança.[2] Estas inumações foram feitas em camadas de vestígios do período muçulmano, que se situam principalmente numa depressão na rocha base, prolongando-se depois sob a fachada e a nave da antiga capela, sendo o espólio composto principalmente por telhas de canudo com digitações onduladas laranjas e violáceas.[2] Também foram descobertos alguns materiais da época do alto Império Romano, que estava misturados com as fundações da ermida e os restos das terraplanagens feitas em 2004.[2] Em 2014 foram feitos novas pesquisas arqueológicas, igualmente no contexto da demolição da capela.[2] Em Abril de 2016, o presidente da Câmara Municipal de Odemira esteve reunido com o padre Júlio Lemos sobre a a possibilidade de reconstrução da Capela de São Miguel, entre outros assuntos.[3] Nessa altura, a autarquia estava a estudar a localização e o tipo de projecto que seria aplicado na construção de um novo edifício, enquanto que no sítio da antiga capela deveria ser instalado um monumento aos Caminhos de Santiago.[3] Ver também
Referências
Ligações externas
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