Campo limpo é um tipo de vegetação campestre brasileira caracterizado por extensões de terras recobertas por plantas herbáceas, principalmente gramíneas, e sem matas. Ocorre em terrenos planos, em vales e colinas. Consiste de uma camada rasteira de gramíneas e ervas, sem árvores ou arbustos que se destaquem acima desse estrato.[1] É comumente encontrada junto às veredas, olhos d'água e em encostas e chapadas.
O termo é aplicado em geral a campos do Brasil Central e Meridional. Para os campos limpos da região Norte, ver campina amazônica e campos de várzea.
Conceito
Em sentido restrito, a denominação é usada para uma fitofisionomia da província fitogeográfica do Cerradosensu lato (e.g., Coutinho (1978)[2][3]. No entanto, há autores (ex., Ribeiro & Walter, 1998) que não incluem o campo limpo na província do Cerrado sensu lato, mas sim apenas no domínio ou bioma do Cerrado.[4][5][p.94]
Em sentido amplo, Rizzini (1997), usa o termo "campo limpo" para a vegetação que ocorre tanto no Brasil Central (campos limpos do Cerrado, incluindo os campos rupestres de MG e os campos gerais de Abaeté, MG) quanto no Brasil Meridional (os Pampas no RS).
Rizzini (1997) considera os campos limpos como distintos dos campos altimontanos (= campos alpinos, das Serras do Mar e da Mantiqueira),[6] e dos campos do Alto Rio Branco (correspondentes, no esquema do IBGE, 2012, à savana-estépica dos campos de Roraima).
Além disso, o autor evita distinção entre campos limpos e campos rupestres feita por Magalhães (1966), preferindo usar apenas a denominação campos limpos, por três motivos: 1) os campos altimontanos, floristicamente diferentes, também ocorrem em áreas pedregosas, 2) a mesma comunidade e flora dos "campos rupestres" pode ocorrer em zona pedregosa ou livre de pedras, e 3) a expressão campos limpos é consagrada por longo e intenso uso.[7][8]
No seu trabalho sobre os Pampas, Lindman (1900) cita a distinção, feita no Brasil Tropical, entre campos limpos (ou campos descobertos, chapadas, chapadões) e campos sujos (similares aos campos cobertos, ou cerrados). Afirma que os campos do Rio Grande do Sul são, neste sentido, todos campos limpos (mesmo o tipo chamado "campo subarbustivo ou sujo"), pois os subarbustos, arbustos ou árvores baixas lá existentes são de altura que não ultrapassa a da vegetação herbácea, ou ocorrem de maneira agrupada (em vez de dispersa), bem delimitada em relação aos campos.[9][10][11][12]
Na terminologia do IBGE (2012), são usadas as expressões "savana gramíneo-lenhosa" (campo limpo do Cerrado) e "estepe gramíneo-lenhosa" (campo limpo dos Pampas).[14]
Lindman (1900) classificou os campos do Rio Grande do Sul em vários tipos, em especial, subarbustivos e paleáceos.
Usteri (1906) dividiu os campos de São Paulo em campos (em sentido estrito, isto é, campos secos) e brejos (ou turfeiras, subdivididas em altas e baixas).[16][17]
Hoehne (1930), no Paraná, distinguiu campos do litoral, campos secos, campos úmidos e brejos.[18]
De modo similar, Joly (1950), adotando uma terminologia popular, distinguiu em São Paulo: campos (isto é, campos secos), baixadas (áreas temporariamente inundadas) e brejos (permanentemente inundados).[19]
Rizzini (1997) distinguiu os seguintes tipos de campo limpo no Brasil:[20]
Campos centrais (MG, GO, e periferias de MT, SP e BA)
Campos "gerais" (ocorre em áreas de solo compacto em Abaeté, MG)
Campo planáltico (forma empobrecida do campo quartzítico, ocorre em áreas mais baixas dos planaltos central e austral, em MG, GO, SP e na campanha gaúcha)
Campo arbustivo (ocorre em Cristalina, em Goiás e em parte da Serra do Cipó, em Minas Gerais)
Quando presentes, arbustos e subarbustos apresentam um caráter esclerófilo mais acentuado nos campos centrais do que nos meridionais.[21] Além disso, os campos centrais, do sudeste, se diferenciam dos campos meridionais do Paraná (campos gerais) pela presença de cerradão nos primeiros, enquanto os últimos têm predomínio de campo propriamente dito, interrompido apenas eventualmente por capões e matas ciliares ao longo dos rios e ribeirões.[22]
No esquema das fitofisionomias de Cerrado de Ribeiro e Walter (1998), os campos limpos, considerados distintos dos campos rupestres, possuem três tipos:[4][5][p.150]
Campo limpo seco: com lençol freático profundo
Campo limpo úmido: com lençol freático alto
Campo de várzea (ou várzea, brejo): áreas inundadas periodicamente
Pode ser encontrado em diversas posições topográficas, com diferentes variações no grau de umidade, profundidade e fertilidade do solo.[25]
Tais campos são de ocorrência natural – diferente de uma pastagem – mas, em certos casos, têm origem antrópica.
Referências
↑Águas Emendadas / Distrito Federal. Secretaria de Desenvolvimento Urbano e Meio Ambiente; Fernando Oliveira Fonseca (org.)- Brasília:Seduma, 2008.542p:il.color.ISBN 978-85-61054-00-7
↑COUTINHO, L.M. O conceito do cerrado. Revista brasileira de botânica, v.1, n.1, p.17-24, 1978.
↑Rodrigues, R. R. 1999. A vegetação de Piracicaba e municípios do entorno. Circular Técnica IPEF, n. 189, p. 1-17, [1].
↑ abRIBEIRO, J. F.; WALTER, B. M. T. Fitofisionomias do bioma Cerrado. In: SANO, S. M.; ALMEIDA, S. P. (ed.). Cerrado: ambiente e flora. Planaltina: EMBRAPA - CPAC, 1998. p. 89-166. link. (2a ed., 2008).
↑ abWALTER, B. M. T. (2006). Fitofisionomias do bioma Cerrado: síntese terminológica e relações florísticas. Tese de Doutorado, Universidade de Brasília, [2].
↑Lindman, C. A. M. (1900). Vegetationen i Rio Grande do Sul (Sydbrasilien). Stockholm: Nordin & Josephson, [3].
↑Lindman, C.A.M. (1906). A Vegetação no Rio Grande do Sul (Brasil Austral). Trad. de A. Loefgren. Porto Alegre: Universal.
↑Lindman, C.A.M. & Ferri, M.G. (1974). A Vegetação no Rio Grande do Sul. EDUSP/Itatiaia: São Paulo/Belo Horizonte, [4]. [Edição fac-similar da tradução de 1906, inclui um prefácio e um capítulo adicional por Ferri.]
↑Lindman, C. A. M. (1903). p. 474-481. In: Höck, F. (1903). Pflanzengeographie. Just's Botanischer Jahresbericht 1901, 29(1): 316-500, [5].
↑Löfgren, A. (1898). Ensaio para uma distribuição dos vegetaes nos diversos grupos florísticos no estado de São Paulo. Boletim da Comissão Geográfica e Geológica de São Paulo, n.11, p. 5-50, 2a ed., link. [1a ed., 1896, link.]
↑Usteri, A. (1906). Contribuição para o conhecimento da flora dos arredores da cidade de São Paulo. Anuário da Escola Politécnica. link.
↑Usteri, A. (1911). Flora der Umgebung von Stadt São Paulo in Brasilien. Gustav Ficher, Jena. link.
↑HOEHNE, F. C. Das Gramineas forrageiras em geral, do Paraná. In: Araucarilandia. São Paulo: Melhoramentos, 1930. pp. 101-105. [reedição, 2014, link.]
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↑Rizzini, C.T. (1997). Tratado de fitogeografia do Brasil: aspectos ecológicos, sociológicos e florísticos. 2a edição. Rio de Janeiro, Âmbito Cultural. Volume único, 747 p. [cf. p. 505-510.]
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↑STELLFELD, C. Fitogeografia geral do Estado do Paraná. Arquivo do Museu Paranaense, Curitiba, n. 7, p. 309-350, 1949. [Boletim geográfico a. VIII, n. 87, p. 301-336, 1950, link.]
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