Córrego do LeitãoCórrego do Leitão
O Córrego do Leitão é um curso de água do estado brasileiro de Minas Gerais. É um afluente da margem direita da bacia do Ribeirão Arrudas, a maior bacia hidrográfica de Belo Horizonte.[1] Como diferencial de outros córregos que têm nascente única, o Córrego do Leitão tem sua cabeceira em três ramificações[2] e uma extensão total de 10,62 km situada na região centro-sul da capital mineira. Aspectos geográficosO córrego nasce no atual bairro Santa Lúcia, percorre a Rua Kepler, Rua Cônsul Antônio Cadar, unindo-se às suas ramificações, até o encontro com o córrego Santa Maria na Barragem Santa Lúcia[3] e segue seu fluxo pelas principais ruas do centro da cidade, passando pela Avenida Prudente de Morais, Rua São Paulo, Rua dos Tupis até chegar à Avenida do Contorno e desaguar no Ribeirão Arrudas.[1] No território atual total da sub-bacia, a porção de área verde presente equivale a 12% do total. Já o espaço constituído de construções e vias de acesso para automóveis corresponde a 88% do todo. Toda a parte que foi submetida a reformas e construções de concreto impermeabilizou a área, anulando a perspectiva geológica de penetração da água que ocasiona grande número de enchentes por onde o leito do Córrego Leitão flui.[4] A Fazenda do LeitãoCom a decadência da extração aurífera no estado de Minas Gerais, o Arraial do Curral Del Rei se manteve economicamente com a venda de produtos agrícolas.[5] A Fazenda do Leitão, ou Fazenda Cândido da Silveira, datada do século XIX, foi importante para essa economia, pois plantava em seu solo café, milho, feijão, trigo, aveia, batata-doce, vinhas, inhame, cana-de-açúcar e alfafa.[5] Com mesmo nome da fazenda, as águas do córrego cortavam o terreno e eram usadas para abastecimento e irrigação do cultivo da terra. A área da fazenda era extensa e chegava até onde hoje se localiza a Avenida Amazonas próximo ao bairro Barro Preto como se pode localizar no mapa produzido pela Empresa de Processamento de Dados de Belo Horizonte – PRODABEL que dá ênfase aos limites da fazenda, a qual era cortada pelo Córrego do Leitão na maior parte do terreno. Com o comando da Comissão Construtora da Nova Capital, o número de operários que chegaram à região que seria construída Belo Horizonte aumentou e os engenheiros chefes, em 1894, autorizaram a construção de moradias provisórias na região da já extinta fazenda e próximo ao curso d’água.[6] Importância do córrego para a construção de Belo HorizonteA Comissão Construtora (CCNC), responsável pela construção da nova capital do estado de Minas Gerais, não utilizou muito as águas do Leitão devido à alta amplitude das cabeceiras e não compensava, segundo os engenheiros chefes, retificar e assorear o canal já que o abastecimento feito pelos córregos da Serra e do Cercadinho já bastavam para a população residente na região.[2] Mas, fora dos limites da Avenida do Contorno, o Leitão foi utilizado para abastecimento de colônias agrícolas como, por exemplo, a Colônia Afonso Pena situada na zona suburbana da cidade.[7] Nos últimos anos antes da fundação oficial da cidade, em 1895, um campo agrícola foi construído nas margens das águas com comando da Secretaria de Agricultura, Comércio e Obras Públicas da CCNC para fazer experimentos de modernização, aprimorar novas técnicas de cultivo e habitar a zona suburbana da cidade.[2] Nas margens do Leitão houve ocorrências de habitações irregulares – sem autorização da CCNC – no ano de 1895 onde hoje está localizada a barragem Santa Lúcia.[8] Habitadas por operários que construíam a nova cidade que não tinham como morar nos limites de Belo Horizonte impostos pela Comissão Construtora. No ano de 1902, essas ocupações sofreram remoções e as famílias foram realocadas para o bairro operário construído na cidade recém-fundada.[8] HabitaçõesCom um papel de segregação, a cidade de Belo Horizonte foi dividida em três áreas com diferentes funções. São elas: zona urbana que abrigava os prédios públicos e moradores de camadas sociais mais altas; zona suburbana onde eram instaladas chácaras e a zona rural que tinha a função de abastecer, com alimentos, toda a cidade.[9] A ocupação da zona urbana nas primeiras décadas de existência da capital foi lenta, regiões como Lourdes e Santo Agostinho não foram urbanizadas e foram ocupadas com cafuas, nas proximidades do Córrego do Leitão, formando a chamada Favela do Leitão.[10] O Córrego do Leitão ficava, em sua maioria, nas colônias agrícolas da cidade. A população que habitava a região sofria com falta de necessidades básicas e até eram vistos como risco à saúde pública pela prefeitura no ano de 1903.[8] A partir de 1930, a pressão do poder público contra os moradores de vilas e favelas localizadas dentro da Avenida do Contorno aumentou sob o argumento de melhorias do saneamento urbano e de as favelas serem perigosas para a sociedade.[8] A Favela do Leitão foi removida para a construção dos bairros de Lourdes e Santo Agostinho.[8] Todo esse movimento de reocupação da região mudou o seu perfil, convertendo-a em área de moradia das classes médias e altas. Já em 1950, houve a maior concentração de obras de urbanização do vale do Córrego do Leitão, na área da antiga colônia agrícola. Com isso, houve também a ocupação próximo ao leito do Leitão pela Favela do Alvorada.[8] Em 1970, deu-se a remoção daquela população pobre com o objetivo da canalização e da criação de uma avenida sanitária na área. Os moradores que povoavam a região tiveram que se mudar para o Morro do Papagaio, já existente desde a década de 1920, cerca de três quilômetros de distância da localidade anterior.[8] Canalizações e obrasAs primeiras obras no Córrego do Leitão são datadas de 1925 durante o governo do prefeito Flávio dos Santos.[1] Foi feito, neste ano, canalização, alargamento e introdução de coletor de esgoto na área central de Belo Horizonte. O prefeito defendia a canalização do córrego por ele passar por uma área nobre da cidade, pautando-se em critérios de embelezamento urbano.[1] Dez anos depois da primeira intervenção houve a próxima. Em 1935 ocorreu a cobertura do Leitão entre a Rua São Paulo e Avenida do Contorno. Mas o trecho de canalização mais extenso ocorreu entre as décadas de 1960 e 1970, quando um longo trecho do Leitão foi canalizado, tamponado e a rua asfaltada, criando a Avenida Prudente de Morais, já fora dos limites da Avenida do Contorno. Algumas propagandas oficiais eram feitas na época enaltecendo a decisão do governo municipal pelo feito de canalizar essa região do bairro Cidade Jardim. Um deles, presente no canal do YouTube do Museu da Imagem e do Som de Belo Horizonte, mostra os problemas de enchente antes da canalização e depois como eles se resolveram com as obras.[11] Os prefeitos da década de 1960 e 1970, que viam como única solução de conter as enchentes era o tamponamento dos leitos de água, não contavam que, em 1990, as enchentes voltariam a causar danos à cidade. Vinte anos após a inauguração da Avenida Prudente de Morais houve a primeira enchente da via.[3] Para solucionar esse problema, foram refeitos os sistemas de drenagem do córrego e integraram o Leitão na Barragem Santa Lúcia para diminuir o escoamento de água em alto nível.[3] Barragem Santa LúciaA região onde hoje se encontra a Barragem Santa Lúcia começou a ser habitada em 1984 pela Fazenda do Cercadinho de propriedade de José Cleto da Silva Diniz.[12] Logo no início das primeiras obras da CCNC a área foi desapropriada e construída, entre 1899 e 1914, a colônia agrícola Afonso Pena que servia de abastecimento alimentício e de matéria prima para a cidade que estava em obras.[12] Após a extinção da colônia, o Aglomerado Santa Lúcia, onde se localizam a Vila Santa Rita de Cássia (ou Morro do Papagaio), a Vila Estrela, a Barragem Santa Lúcia, Vila Esperança (Bicão) e a Vila São Bento[12] ficaram com parte do território da antiga área agrícola. Com ideia de conter as inundações do Córrego do Leitão nos bairros Lourdes, Santo Antônio e Cidade Jardim, foi pensada, em meados da década de 1950,[13] a construção da barragem Santa Lúcia. Nessa época, iniciavam-se os planos de expansão da zona sul de Belo Horizonte, para abrigar bairros residências das classes altas e médias.[14] No final dos anos 1960, houve um alto número de ações de urbanização para a criação de bairros como o Santa Lúcia e o São Bento, o que causou o assoreamento da barragem devido à terraplanagem para construção das novas casas.[13] A barragem foi fundada, em definitivo, no ano de 1969.[3] No ano de 1990, a Prefeitura de Belo Horizonte estabeleceu por meio da Decreto Municipal nº 6.544 a criação do Parque do Santa Lúcia no entorno da represa,[15] denominado Eduardo Couri a partir de 1997.[16] A área total do parque é de 98 mil metros quadrados, com quadras de futebol e pistas de atletismo.[13] Eduardo Couri foi um jornalista e colunista social do Jornal Estado de Minas. Morava no encontro da Avenida Olegário Maciel com Bernardo Guimarães e noticiava as grandes festas que ocorriam nos salões e clubes de luxo de Belo Horizonte.[17] Referências
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