Breque dos Apps
ContextoA Pandemia de COVID-19 no Brasil colocou as função dos entregadores de aplicativos em uma nova posição de relevância econômica e social. Sendo uma atividade considerada desde o início como essencial, e que efetivamente não parou de trabalhar em nenhum momento de quarentena, os entregadores assumiram uma intensa carga de trabalho, riscos e responsabilização na continuação da atividade. Enquanto uma categoria frequentemente adepta dos discursos de supervalorização do empreendedorismo e do livre mercado, os entregadores eram marcadamente repelentes ao sindicalismo e a defesa das legislações trabalhistas[1][2]. Foi essa mentalidade que sofreu mudanças profundas a partir do início da pandemia, quando as narrativas do entregadores nas redes sociais, e dos entregadores-influencers em particular, começaram a refletir uma nova consciência de sua condição de vulnerabilidade social, bios(in)segurança e carga de trabalho. Um outro efeito da conjuntura foi o desemprego generalizado que aumentou o número de entregadores, o que aumentou consequentemente a concorrência e a concentração de trabalhadores em frente aos restaurantes à espera de serviços. Esses fatores, somados à diminuição do valor das taxas de entrega, geraram uma situação de visibilidade da precariedade do regime de trabalho dos serviços de aplicativo.[2] Os Protestos antirracistas nos Estados Unidos em 2020 tiveram repercussões globais e estabeleceram o clima político do momento. No Brasil, o histórico de violência policial racista e a tensão contemporânea provocada pelo Governo Bolsonaro e sua bagagem ideológica autoritária e displicente sobre a violência militar no período da ditadura militar e atual, motivou a articulação de protestos solidários e análogos. O ato realizado na avenida paulista, articulado pelas torcidas organizadas que se identificaram com a pauta antiracista e antifascista, aconteceu seis dias antes do primeiro Breque dos Apps, e tanto coloborou com o rompimento da passividade e do isolamento quanto promoveu já a visibilidade da pauta dos entregadores e seus grupos e iniciativas, como os Entregadores Antifascistas e o Treta no Trampo.[2] A greveNo dia 25 de julho de 2020 aconteceu o primeiro Breque dos Apps. A ação digital sistemática foi efetiva em conquistar a atenção da mídia, de acadêmicos, do sindicalismo e da esquerda organizada, como também da população em geral[2]. Os entregadores defenderam como pauta o:
A mobilização foi promovida pela iniciativa do grupo e perfil Treta no Trampo (@tretanotrampo), que desde o início produziu continuamente conteúdos em redes sociais de chamado e politização pelas pautas dos entregadores. A ampla rede dos Entregadores Antifascistas também teve lugar central na articulação das paralisações nacionais, um organizador da rede, Paulo Galo (Paulo Roberto da Silva Lima, conhecido como Galo) ganhou notoriedade em suas iniciativas e representação na mídia. A recepção e circulação da pauta nas redes sociais foi massiva[3][2]. Além da mobilização interna da categoria, também se buscou a colaboração dos consumidores em boicotar os aplicativos nos dias de paralisação:
Reação das empresasO iFood foi uma das empresas que mais se empenhou em reparar a imagem pública, anunciando que havia dobrado seu Fundo Solidário e de Proteção. Também declarou que havia destinado R$100 milhões para ações de apoio feitas por entregadores, apesar de que a própria empresa declara que menos de R$400 mil foram destinados aos entregadores parceiros afastados[2]. Repercussão políticaA mobilização causou entusiasmo na esquerda partidária e no sindicalismo, por mostrar, segundo eles, a vigência da luta de classes mesmo nos regimes de trabalhos mais marcados pelas transformações da uberização.[4] Ver tambémReferências
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