Bestã
Bestã (em grego: Βεστάμ / Βεστάν; romaniz.: Bestám / Bestán; em persa médio: Besṭām) foi um nobre da família Ispabudã, tio materno do xá sassânida Cosroes II (r. 591–628). Ele ajudou Cosroes a retomar seu trono após a rebelião de Vararanes VI (r. 590–591), mas depois liderou uma revolta, que abrangeu o Oriente iraniano inteiro antes de ser suprimido. NomeBestã é um nome iraniano, com provável origem em *vistaxma, mas cuja atestação não ocorre no Avestá, nas inscrições em persa antigo aquemênida ou médio sassânida. Segundo Ferdinand Justi, o nome significa "detentor de um poder de longo alcance". Foi registrado como Vstam e Vēstam (quiçá de *Vaistaxma) em armênio, Βεστάμ (Bestám) e Βεστάν (Bestán) em língua grega e em persa novo como Gostah(a)m ou Besṭām. É provável que esteja relacionado ao nome Histecmas citado por Ésquilo.[1] BiografiaInício da vidaBestã era filho de Sapor (Asparapete) e neto de Aspebedes (Baui). Pertencia a família Ispabudã, um dos sete clãs partas que formaram a elite da aristocracia do Império Sassânida. Sabe-se que teve um irmão chamado Bindoes e uma irmã de nome incerto que se casou com o xá Hormisda IV (r. 579–590) e foi a mãe do herdeiro dele, Cosroes II.[2][3] No final do reinado de Hormisda, a família de Bestã sofreu, junto com os outros clãs aristocráticos, durante as perseguições lançadas pelo xá: Sapor foi assassinado, e ele sucedeu seu pai como aspabedes do Ocidente. Finalmente, tais perseguições levaram o general Barã Chobim (que intitulou-se Vararanes VI) a revolta em 590. Vararanes, cuja revolta rapidamente atraiu grande apoio, marchou sobre a capital, Ctesifonte.[4] Nesse tempo, na capital, Hormisda tentou marginalizar Bestã e seu irmão Bindoes, mas foi dissuadido, de acordo com Sebeos, por seu filho Cosroes II. Bindoes foi preso, mas Bestã aparentemente fugiu da corte; logo depois, contudo, os dois irmãos aparecem como os líderes de um golpe palaciano que depôs, cegou e matou Hormisda, elevando seu filho Cosroes ao trono.[5] Incapaz de opor-se a marcha de Vararanes VI sobre Ctesifonte, Cosroes e os dois irmãos fugiram para o Azerbaijão. Bestã ficou para trás para reunir tropas, enquanto Bindoes escoltou Cosroes para o Império Bizantino. No começo de 591, Cosroes retornou com auxílio militar dos bizantinos e foi acompanhado por 12 000 cavaleiros armênios e oito mil tropas do Azerbaijão recrutadas por Bestã. Na batalha do Blaratão, o exército de Vararanes VI sofreu uma derrota decisiva, e Cosroes II reclamou Ctesifonte e seu trono.[3][6][7] Últimos anos e rebelião
Após sua vitória, Cosroes II recompensou seus tios com altas posições: Bindoes tornou-se tesoureiro e primeiro ministro e Bestã recebeu o posto de aspabedes do Oriente, englobando Tabaristão e Coração.[8] Logo, contudo, Cosroes mudou suas intenções: tentando dissociar-se de seu pai assassinado, o xá decidiu executá-los. Bindoes foi logo condenado à morte e de acordo com uma fonte siríaca capturado enquanto tentava fugir para junto de seu irmão no Oriente.[3][9] Ao saber do assassinato de seu irmão, Bestã ergue-se em revolta aberta. De acordo com Abu Hanifa de Dinavar, Bestã enviou uma carta para Cosroes anunciando sua pretensão ao trono através de sua herança parta (arsácida):
A revolta de Bestã, como a de Vararanes VI, encontrou apoio e espalhou-se rapidamente. Magnatas locais bem como os restos dos exércitos de Vararanes VI reuniram-se com ele, especialmente após casar-se com Gordia, a irmã de Vararanes. Bestã repeliu vários esforços dos leais a Cosroes de dominá-lo, e ele logo dominou todo o quadrante Oriental e norte do Império Sassânida, um domínio que se estendeu do rio Oxo à região de Ardabil, no Ocidente. Ele até fez campanha no Oriente, onde subjugou dois príncipes heftalitas da Transoxiana, Xaugue e Pariouque.[3][10] A data da revolta de Bestã é incerta. De suas moedas sabe-se que sua rebelião durou por sete anos. As datas comumente aceitas são ca. 590–596, mas alguns estudiosos como J.D. Howard–Johnston e P. Pourshariati empurram o evento para mais tarde, em 594/5, para coincidir com a rebelião armênia da família Vanúnio.[11] Como Bestã começou a ameaçar a Média, Cosroes enviou vários exércitos contra seu tio, mas não conseguiu alcançar um resultado decisivo: Bestã e seus seguidores retiraram-se para a região montanhosa de Guilão, enquanto vários contingentes armênios do exército real rebelaram-se e desertaram para Bestã. Finalmente, Cosroes convocou os serviços do armênio Simbácio Bagratúnio, que enfrentou Bestã próximo de Cumis. Durante a batalha, Bestã foi assassinado por Pariouque, incitado seja por Cosroes, seja por sua esposa Gordia. No entanto, as tropas de Bestã conseguiram repelir o exército real em Cumis, e foi necessário outra expedição de Simbácio no ano seguinte para finalmente debelar a rebelião.[3][12] LegadoA cidade de Bastã, no Irã, pode ter seu nome derivado de Bestã, bem como o sítio monumental de Taque e Bostã. Apesar da rebelião e morte de Bestã, o poder da família Ispabudã era grande demais para ser quebrado. De fato, um dos filhos de Bindoes foi instrumental no julgamento de Cosroes II após sua deposição em 628, e dois dos filhos de Bestã, Vinduia e Tiruia, junto com o primo deles Narsi, foram comandantes do exército persa que confrontou os árabes muçulmanos em 634.[3][13] Referências
Bibliografia
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