Berbigão do Boca
O Berbigão do Boca é uma festa e um bloco[nota 1] da cidade brasileira de Florianópolis que tradicionalmente abre os festejos de carnaval da cidade. Criado em 1992 e tendo saído pela primeira vez em 1993, surgiu com o objetivo de estender por mais tempo e animar o carnaval de Florianópolis e se tornou um dos eventos mais tradicionais da cidade, sendo provavelmente o evento de carnaval local mais conhecido nacionalmente.[1] Nomeado em homenagem a um de seus fundadores, Paulo Bastos Abraham, conhecido como Boca, e ao berbigão, fruto do mar típico da cidade, a festa tem entre suas tradições o concurso culinário com receitas do molusco e o desfile pelas ruas do Centro ao som da tradicional marchinha do Berbigão com os bonecos gigantes, que representam pessoas que tiveram relevância na vida da cidade e do carnaval local. HistóriaNo início do anos 1990, o Carnaval de Florianópolis tinha passado recentemente por uma transformação física e estrutural. Alguns anos antes, o aterro da Baía Sul e as pontes mudaram o cenário do Centro da cidade. As festas de carnaval, que tradicionalmente aconteciam no entorno da Praça XV de Novembro, se dividiram, com os desfiles das escolas de samba deixando a praça e indo para a Avenida Paulo Fontes, e depois para a Passarela Nego Quirido. Muitos foliões não gostaram da mudança e diziam que o carnaval florianopolitano estava perdendo sua força de outrora.[2] Na quarta-feira de cinzas de 1992, no bar do Clube Doze, em Coqueiros, um grupo de sete foliões estava reunido. O grupo era formado por Ricardo Bastos Ferreira, o Caco, Euclides Bianchini, o Tico, Paulo Roberto da Rosa, o Paulão, Sérgio Rebelo, o Serginho, Adil Rebelo, o Rebelinho, Leonardo Garofallis, o Nado, e Paulo Bastos Abraham, o Boca. Em entrevista, Nado comenta que Boca estava chateado com o fato de que, naquela mesma hora, em Pernambuco, o Bacalhau do Batata ainda arrastava uma multidão com os bonecos de Olinda, enquanto em Florianópolis o carnaval estava acabado e cada vez mais desanimado, sugerindo a criação de um bloco pra estender a folia como faziam os pernambucanos. Os outros gostam da ideia e sugeriram criar um bloco pra animar as pessoas, mas ao invés de fechar o carnaval como o Bacalhau, abrir a folia, aproveitando que, naquele ano, o tradicional Enterro da Tristeza, que sai na quinta antes do carnaval abrindo a semana, não tinha desfilado.[2][3] Os amigos então fixaram uma data - na sexta anterior a sexta de carnaval - e um local - na região do Mercado Público e no Largo da Alfândega, dois dos locais mais tradicionais do Centro. O nome foi sugerido por Nado, em homenagem ao berbigão, molusco popular da culinária de Florianópolis, e ao Boca, porque, além de ser ele que estava reclamando inicialmente, também era considerado pelos outros o maior folião daquele grupo - ele tinha fundado o bloco de sujos Sou + Eu alguns anos antes. Boca é o diretor do Berbigão até hoje. Nado também ainda faz parte da diretoria.[2][4] Em 1993, o bloco sai as ruas pela primeira vez, e logo cai no gosto popular. Em 1995, surgem os primeiros bonecos, ligados a uma tradição local, a das maricotas do Boi de Mamão. Até 2000, o vão central do Mercado Público foi usado, mas o sucesso de público leva a festa a ocupar também o Largo da Alfândega, e na atualidade, se usa um pavilhão montado na Avenida Paulo Fontes, ao lado do Mercado. Em 2003, um decreto declara o Berbigão a abertura oficial do Carnaval de Florianópolis. Em 2012, a festa foi declarada oficialmente Patrimônio Imaterial de Florianópolis.[5][6][7] Em 2017, um livro de receitas de Berbigão foi lançado em comemoração aos 25 anos da festa.[8] Desde 1993, a festa acontece quase que anualmente - as exceções foram nos anos de 2007, 2017 e, devido a pandemia de COVID-19, entre 2021 e 2022[9][10][11] - atraindo, em seus últimos anos, cerca de cem mil pessoas durante todo o período da festa e entre 50 e 60 mil no arrastão pelas ruas, o auge do evento.[12][13][14] Bonecos gigantesEm 1995 estreiam os bonecões do Berbigão, que remetem as maricotas do Boi de Mamão, uma tradição da colonização açoriana similar aos gigantones. É provável também que os bonecos do carnaval de Olinda, já famosos, também tenham influenciado, mas diferente destes, existe uma regra para sua criação: essas esculturas representam pessoas falecidas que se destacaram em vida na cultura popular florianopolitana e, em especial, mas não obrigatoriamente, no carnaval da cidade. Muitas vezes se brinca dizendo que a pessoa "virou boneco" e não que morreu.[15][16] Atualmente são quarenta e dois bonecões.[17] O artista plástico Allan Cardoso é o criador dos bonecões.[18] Os bonecos
EventosA festa do Berbigão dura entre dez e doze horas, começando ao meio-dia da sexta anterior a sexta-feira de carnaval e terminando no fim da noite. Diversos eventos acontecem nesse tempo. No início, o festival gastronômico, onde os competidores disputam com pratos que tenham o berbigão como o destaque da receita.[19] O festival foi idealizado por Maurício Amorim, que o coordenou por muitos anos. Também são apresentados os novos bonecos, são dados os troféus Amigo do Berbigão do Boca e bandas, artistas e entidades culturais em geral se apresentam. Já a rainha do Berbigão é eleita alguns dias antes da festa. Tradicionalmente, no Berbigão o prefeito entrega a chave da cidade ao Rei Momo, momento que simbolicamente dá início ao carnaval. Finalmente, no início da noite, começa o arrastão, quando a festa vira um bloco que toma as ruas da cidade com a corte do carnaval e os bonecos. O desfile é o auge da festa, e cerca de sessenta mil pessoas participam do desfile, que sai do local da festa no Largo da Alfândega e atravessa o Centro indo até a Praça XV e retornando a Alfândega em cerca de duas ou três horas de bloco. O Berbigão também oferece, alguns dias depois da festa, o Tamborim de Ouro para a escola melhor avaliada pelos jurados próprios do Berbigão nesse quesito, que não é contemplado nas notas do desfile das escolas de samba.[20] MúsicaUma das tradições do Berbigão do Boca é que o arrastão toca uma única marchinha, o samba-hino do Berbigão do Boca. Foi composta por Pedro Paulo Fazzini, o Pedrinho do Pandeiro. Dudu França, amigo de Pedrinho, fez a gravação oficial.[21]
NotasReferências
Ligações externas |