Batalha de Fariskur (1250)

Luís IX foi feito prisioneiro e resgatado.

Batalha de Fariskur foi a última grande batalha da Sétima Cruzada. A batalha foi travada em 6 de abril de 1250, entre os cruzados liderados pelo rei Luís IX da França (mais tarde São Luís) e as forças egípcias lideradas por Turã Xá da dinastia aiúbida.

Após a derrota dos cruzados na Batalha de Amançora, a Batalha de Fariskur resultou na derrota completa do exército cruzado e na captura de Luís IX.

Contexto

Luís IX

Os navios entraram nas águas egípcias e as tropas da Sétima Cruzada desembarcaram em Damieta em junho de 1249. Luís IX enviou uma carta a Sale Aiube, o sultão aiúbida do Egito. O emir Fakhr ad-Din Yussuf, comandante da guarnição aiúbida em Damietta, recuou para o acampamento do sultão em Ashmum-Tanah.[1] Depois de ocupar o porto egípcio de Damieta em junho de 1249, Luís decidiu marchar para o Cairo, encorajado pela chegada de reforços liderados por seu terceiro irmão, Afonso III de Poitiers, e pela notícia da morte de Sale Aiube. Os francos conseguiram atravessar o Canal de Ashmum (hoje conhecido pelo nome de al-Bahr al-Saghir) e lançaram um ataque surpresa contra o acampamento egípcio em Gideila, 3 quilômetros de distância de Almançora.[2]

As tropas egípcias no acampamento, que foram pegas de surpresa, recuaram para Almançora e os cruzados seguiram em direção à cidade. A liderança da força egípcia passou para os comandantes mamelucos Faris ad-Din Aktai, Baibars e Cutuz, que conseguiram reorganizar as tropas em retirada. Xajar Aldur, que estava no comando do Egito, concordou com o plano de Baibars para defender Almançora. Baibars ordenou a abertura de um portão para deixar os cavaleiros dos cruzados entrarem na cidade. Os cruzados invadiram a cidade que pensavam estar deserta e acabaram presos lá dentro. Os cruzados foram sitiados de todas as direções pelas forças egípcias e pela população da cidade, sofrendo pesadas perdas. Roberto de Artois (irmão de Luís IX) que se refugiou numa casa e William de Salisbury estavam entre os que foram mortos em Almançora. Apenas cinco Cavaleiros Templários sobreviveram à batalha. Os cruzados foram forçados a recuar em desordem para Gideila, onde acamparam dentro de uma vala e muro. No início da manhã de 11 de fevereiro, as forças muçulmanas lançaram uma ofensiva contra o acampamento dos francos. Durante muitas semanas os francos foram forçados a permanecer no seu acampamento, suportando uma exaustiva guerra de guerrilha. Muitos cruzados foram capturados e levados para o Cairo.[3]

Batalha

Em 27 de fevereiro, Turã Xá, o novo sultão, chegou ao Egito vindo de Hasankeyf e foi direto para Almançora para liderar o exército egípcio. Os navios eram transportados por terra e lançados no Nilo (em Bahr al-Mahala) atrás dos navios dos cruzados, cortando a linha de reforço de Damieta e sitiando a força cruzada do rei Luís IX. Os egípcios usaram fogo grego e destruíram e apreenderam muitos navios e embarcações de suprimentos. Logo os cruzados sitiados estavam sofrendo com ataques devastadores, fome e doenças. Alguns cruzados perderam a fé e desertaram para o lado muçulmano.[4][5]

O rei Luís IX propôs aos egípcios a rendição de Damieta em troca de Jerusalém e algumas cidades na costa síria. Os egípcios, cientes da situação miserável dos cruzados, recusaram a oferta do rei sitiado. Em 5 de abril, cobertos pela escuridão da noite, os cruzados evacuaram seu acampamento e começaram a fugir para o norte, em direção a Damieta. Em seu pânico e pressa, eles se esqueceram de destruir uma ponte flutuante que haviam construído sobre o canal. Os egípcios atravessaram o canal pela ponte e seguiram-nos até Fariskur, onde destruíram completamente os cruzados em 9 de abril.[6]

Consequências

A derrota dos cruzados e a captura do rei Luís IX em Fariskur causaram choque na França. Os cruzados estavam a circular informações falsas na Europa, alegando que Luís IX tinha derrotado o sultão do Egito numa grande batalha e que o Cairo tinha sido entregue às suas mãos. Quando a notícia da derrota francesa chegou à França, ocorreu um movimento histérico chamado Cruzada dos Pastores.[7]

Luís IX foi resgatado por 400 mil dinares. Depois de prometer não retornar ao Egito novamente e entregar Damieta aos egípcios, ele foi autorizado a partir em 8 de maio de 1250 para Acre com seus irmãos e 12 mil companheiros prisioneiros, incluindo alguns de batalhas mais antigas, que os egípcios concordaram em libertar. Muitos outros prisioneiros foram executados.[8][9] A rainha de Luís, Margarida de Provença, sofria de pesadelos. A notícia (a captura de seu marido Louis) a aterrorizou tanto que, toda vez que adormecia, imaginava que seu quarto estava cheio de muçulmanos barbudos, e gritava: "Socorro! Socorro!".[10]

Consequência histórica

O papa enviou emissários aos mongóis. Ascelino da Lombardia recebendo (à esquerda) e remetendo (à direita) uma carta ao general mongol Baiju

A Sétima Cruzada chegou ao fim em Fariskur em 1250, marcando uma virada histórica para todos os grupos regionais existentes naquela época. O Egito derrotou a cruzada de Luís e provou ser a cidadela e o arsenal do islamismo. A Sétima Cruzada foi a última grande ofensiva empreendida pelos cruzados contra o Egito. Os cruzados nunca conseguiram recuperar Jerusalém e os reis da Europa, exceto Luís IX, começaram a perder o interesse em lançar novas cruzadas. Mas pouco depois da batalha de Fariskur, o sultão aiúbida Turã Xá foi assassinado na própria Fariskur[11][12] e os mamelucos, os mesmos campeões vitoriosos de Almançora, tornaram-se os novos governantes do Egito. O mapa de poder da bacia do Mediterrâneo meridional e oriental foi dividido entre quatro domínios principais: o Egito mameluco, a Síria aiúbida, os francos do Acre e as cabeças de praia cristãs sírias e o estado cristão levantino da Armênia Cilícia. Enquanto os mamelucos do Egito e os aiúbidas da Síria se tornaram rivais conflitantes, os francos e os armênios cilícios, além do Principado de Antioquia, eram aliados. Os mongóis, que irromperam repentinamente da estepe eurasiana, tinham seus exércitos em 1241 cavalgando para o oeste até o rio Oder e a costa nordeste do Adriático e durante a Batalha de Fariskur eles estavam penetrando profundamente em todas as regiões adjacentes.[13](p97)

Ver também

Referências

  1. Ashmum-Tanah, now town of Dakahlia – Al-Maqrizi, note p. 434/vol. 1
  2. «Google Maps». Google Maps. Consultado em 2 de abril de 2017 
  3. Al-Maqrizi, p. 447/vol. 1
  4. Matthew Paris, Louis IX`s Crusade , p. 108 / vol. 5.
  5. Al-Maqrizi, p. 446/vol. 1
  6. Tucker, Spencer C. (2010). «Overview of 1200–1400: Chronology». In: Tucker, Spencer C. A Global Chronology of Conflict: From the Ancient World to the Modern Middle East. Vol.1: ca. 3000 BCE–1499 CE. Santa Barbara, Calif.: ABC=CLIO. ISBN 9781851096671 
  7. Matthæi Parisiensis, pp. 246–253
  8. Al-Maqrizi, p. 455/ vol. 1. – Ibn Taghri, pp. 102–273/vol. 6.
  9. Al-Maqrizi, p. 460/vol. 1
  10. Lord of Joinville, 201 / Chapter XVII.
  11. Ibn Taghri, pp. 102–273/vol. 6
  12. Al-Maqrizi, p. 458/vol. 1
  13. Chambers, James (1979). The Devil's horsemen : the Mongol invasion of Europe 1st ed. New York: Atheneum. ISBN 0-689-10942-3. OCLC 4504684 

Bibliografia

  • Abu al-Fida, Tarikh Abu Al-Fida, The Concise History of Humanity.
  • Al-Maqrizi, Al Selouk Leme'refatt Dewall al-Melouk, Dar al-kotob, 1997. In English: Bohn, Henry G., The Road to Knowledge of the Return of Kings, Chronicles of the Crusades, AMS Press, 1969.
  • Bohn, Henry (1969). Chronicles of the Crusades. [S.l.]: AMS Press 
  • Dupuy, Trevor N The Harpers Military Encyclopedia of Military History, New York:HarperCollins, 1993. ISBN 0-06-270056-1
  • Hassan, O., Al-Zahir Baibars, Dar al-Amal 1997
  • Ibn Taghri, al-Nujum al-Zahirah Fi Milook Misr wa al-Qahirah, al-Hay'ah al-Misreyah 1968
  • Qasim, Abdu Qasim Dr., Asr Salatin AlMamlik (Era of the Mamluk Sultans), Eye for human and social studies, Cairo 2007
  • Sadawi, H., Al-Mamalik, Maroof Ikhwan, Alexandria
  • Skip Knox, Dr. E.L., The Crusades, Seventh Crusade, A college course on the Crusades, 1999
  • Toynbee, Arnold J., Mankind and Mother Earth, Oxford University Press 1976
  • Paris, Matthew, The Chronicles of Matthew Paris (Matthew Paris: Chronica Majora) translated by Helen Nicholson 1989.
  • Paris, Matthew, Roger of Wendover, and Richards, Henry, Matthæi Parisiensis, monachi Sancti Albani, Chronica majora, Longman & Co. 1880.
  • Joinville, Jean de, The Memoirs of the Lord of Joinville, translated by Ethel Wedgwood (1906)
  • The New Encyclopædia Britannica, H. H. Berton Publisher, 1973
  • The New Encyclopædia Britannica, Macropædia, H. H. Berton Publisher, 1973–1974
  • www.historyofwar.org
  • Konstam, Angus (2002). Historical Atlas of The Crusades. [S.l.]: Thalamus Publishing