Andebeles Nota: Não confundir com Matabeles.
Os andebeles (ndebele) ou andebeles meridionais são um grupo étnico de origem angune que vivem em território sul-africano. Estima-se que este grupo étnico é formado por cerca de 650 mil pessoas sendo um dos poucos povos que conseguiram preservar suas tradições.[1] A arte andebele, um importante aspecto cultural deste povo, é reconhecida internacionalmente pela utilização de cores vibrantes e padrões geométricos em pinturas para as fachadas de suas casas.[1][2] Os grafismos são realizados sem o auxílio de esboços ou medições, sendo utilizada apenas a habilidade manual das mulheres do povo. Além disso, apenas as mulheres se dedicam a esse tipo de arte. As mulheres andebeles são afastadas do convívio social masculino e, ao entrarem na puberdade, passam cerca de três meses aprendendo os segredos das pinturas e artesanatos. Este período de estudo é o que indicará se elas serão boas esposas e boas mães.[1][2] HistóriaA história dos andebeles meridionais está relacionada a formação dos povos angunes que ocupavam as planícies costeiras orientais da África do Sul. Entre os anos 1400 e o início de 1800, vários pequenos clãs de soto-tsuanas (que habitavam o planalto de Dracoberga) e se dividiram e se fundidiram com alguns clãs angunes para formar novos clãs, que passaram a habitar o planalto.[3] Foi o chefe Mafana o primeiro líder de um clã angune a migrar do plantalto de Dracoberga em direção ao norte.[3] Este fato histórico é identificado como evento fundador dos povos andebeles meridionais.[3] O sucessor de Mafana, Mhalanga, teve um filho chamado Musi que se afastou mais ainda de seus povos irmãos em 1600 e estabeleceu-se nas colinas de Gautengue. Após a morte de Musi, seus dois filhos, Manala e Andzundza, entraram em conflito pela chefia do clã, o que ocasionou a divisão em dois clãs: os manalas e os andzundzas. O Conflito Manala-Andzundza forçou uma grande migração na região. Enquanto os manalas permaneceram no norte, eventualmente sendo absorvidos pelos povos soto-tsuanas, os andzundzas migraram para o leste e para o sul.[4] A formação etnico-linguística dos andebeles (matabeles e andebeles meridionais) ocorreu com a interação por guerras e conflitos do clã cumalo dos zulus, liderado por Mzilikazi, que passou a dominar a zona habitada pelo clã andzundza (que ainda não havia se constituído como povo andebele meridional).[3] Muitos membros do clã andzundza foram absorvidos pelo clã cumalo dos zulus durante a conquista do Transvaal. Por fim, os cumalos dos zulus atacaram o craal dos andzundzas em Esikhunjini, onde um dos chefes do clã andzundza, Magodongo, foi sequestrado e posteriormente morto no rio Mkobola.[3] Tais conflitos forçaram o clã andzundza a migrar do Gautengue e do Transvaal para a zona sul de Mepumalanga e para o Estado Livre de Orange.[3] Em 1883, no reinado do chefe Mabhogo, a guerra entre os andzundzas (andebeles meridionais) e os bôeres se iniciou.[3] A guerra com os bôeres forçou Mzilikazi (e o seu clã cumalo dos zulus) a migrar para o norte (Zimbábue), constituíndo os matabeles, enquanto que os andzundzas ficaram no sul (Estado Livre e Mepumalanga), constituíndo-se como andebeles meridionais/andebeles do sul.[3] Durante a guerra com os bôeres os andebeles do sul fugiram e se esconderam em túneis subterrâneos em uma fortaleza nas montanhas, nas cavernas de Mapoch, em Mepumalanga, e assim resistiram por oito meses.[4] As tropas de Mabhogo passaram pelas linhas inimigas sendo indetectáveis. Entretanto, duas mulheres foram sequestradas e torturadas e uma delas revelou o paradeiro de Mabhogo. O relato da mulher ocasionou a derrota do chefe e, por consequência, a estrutura tribal coesa foi quebrada e as terras tribais confiscadas. Apesar da desintegração política, os andebeles conseguiram manter sua unidade cultural.[4] A dominação colonial bôer e depois britânica obrigou os andebeles meridionais novamente a migrar, desta uma vez do sul para o norte de Mepumalanga e para o sul do Limpopo, terras onde atualmente residem.[3] CulturaEstruturas políticas e sociaisA autoridade andebele era pertencente ao chefe tribal que é auxiliado por um conselho familiar ou interno. As alas eram administadas pelos chefes das alas e grupos familiares que eram governados pelos chefes das famílias. A unidade residencial da família (umuzi) era constituída pelo chefe de família e se ele tivesse mais de uma esposa, o umuzi era dividido em duas metades, uma para cada esposa. Ás vezes, o umuzi se transformava em uma unidade residencial mais complexa quando os filhos casados do chefe e os irmãos mais novos uniam-se à família. Cada tribo consistia em vários clãs que reuniam um grupo de indivíduos cujo ancestral na linha paterna era o mesmo.[4] CasamentoQuando estão na idade ideal para o matrimônio, as mulheres recebem um xale que simboliza o status de mulher casada e uma boneca cujo nome atribuído pela dona será dado a sua primeira filha.[1] No casamento, a noiva não deve sorrir, pois se espera que ela demonstre tristeza ao sair da casa de seu pai. Outro ritual relativo às mulheres é que a noiva tem seu cabelo raspado na frente para poder colocar um acessório de casamento em sua cabeça que é confeccionada com fibras vegetais. Além disso, a mulher também usa um painel central endurecido com uma mistura de terra e migau de ardósia decorado com miçangas e uma pena de ave rara para poder cobrir a peça em sua cabeça. O corpo da noiva é pintado com gordura de ardósia e em seu rosto é aplicada vaselina para dar brilho a sua face, com o intuito de deixá-la atraente. A cerimônia de casamento é demorada e deixar o acessório cair da cabeça ou quebrar, durante a cerimônia, é uma vergonha.[1] Além disso, as mulheres casadas usavam um avental de cinco dedos (ijogolo) para representar o ápice do casamento, que só ocorre depois do casamento do primogênito. O cobertor de matrimônio (nguba) usado por mulheres casadas era decorado com miçangas para registrar os eventos significativos na vida de uma mulher, por exemplo, tiras longas de contas representavam a cerimônia de iniciação do filho da mulher e mostrava que a mulher havia alcançado um status mais alto na tribo. As tiras também simbolizavam a alegria de o filho ter alcançado a masculinidade e, ao mesmo, tempo a tristeza de perdê-lo para o mundo adulto.[4] O casamento só eram celebrados entre membros de diferentes clãs. A noiva era mantida em isolamento por duas semanas antes do casamento, longe dos olhares dos homens, em uma estrutura construída na casa de seus pais. A noiva receberia o cobertor matrimonial durante o casamento e adicionaria miçangas a ele.[2] CrençasA sociedade andebele tradicional, acreditava que forças externas ocasionavam doenças, como feitiços ou maldições. O curandeiro oficial da tribo tira o poder de derrotar essas forças. Os médicos tradicionais eram médiuns que possuiam a capacidade de invocar espíritos ancestrais.[4] Grafismos andebelesAs paredes traseiras e laterais das casas eram pintadas com tons terrosos e formas geométricas modeladas com os dedos. As bordas eram pintadas com cores escuras, forradas de branco, em janelas menos importantes no pátio interno e nas paredas externas.[4] Os artistas andebeles contemporâneos utilizam uma paleta de cores com uma variedade maior de tons e matizes do que os artistas tradicionais que costumavam utilizar tons terrosos produzidos com ocre moído, argilas de cores naturais ( marrom, verrmelho escuro, branco, rosa e amarelo ouro, verde, azul) e o preto era extraído do carvão vegeta e as pinturas eram feitas com os dedos.[2] As cores vivas eram feitas na ordem do dia. E, conforme o contato dos andebeles com a cultura ocidental foi aumentando, os artistas passaram a empregar certas mudanças em sua arte. Além da adição das cores vivas, foram adicionadas representações estilizadas aos desenhos geométricos tradicionais.[4] Antigamente, os pigmentos naturais eram utilizados com mais frequência para pintar as paredes de barro, entretanto, estes pigmentos eram desmanchados pelas chuvas de verão. Atualmente, os pigmentos acrílicos são mais utilizados.[2] A artista andebele, Esther Mahlangu é reconhecida internacionalmente pela aplicação dessas técnicas gráficas em sua arte ousada com designs que têm ligação com miçangas, adornos e joias andebeles.[5] Mahlangu trabalhou em obras para uma exposição coletiva influente em Paris, o que fez a herança de seu povo ser reconhecida no cenário internacional. Além disso, a artista já foi contratada, pela BMW, para pintar um Art Car tornando-a a única artista feminina e não ocidental a ingressar em fileiras que incluíam Alexander Calder, Andy Warhol e David Hockney.[5] Os designs de Mahlangu trazem traços evidentes nas roupas das mulheres andebeles que que identificam os status de solteira, noiva ou casada. Ainda que, ela tenha utilizado tons terrosos inicialmente, a tradição adotou tons vibrantes, substituindo o ocre moído e musgo por rosa choque e azul elétrico.[5] Ver tambémReferências
Bibliografia
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