Amanirenas
Amanirenas (também escrita Amanirena), foi a rainha candace do Reino de Cuxe do final do século I AEC até o início do século I EC. É conhecida principalmente por deter a expansão romana em Cuxe, no atual Sudão e fixar a fronteira romana em Maharraqa.[1] Seu título completo era Amnirense qore li kdwe li ("Ameniras, qore e kandake"). O meroítico, a língua nativa do reino de Cuxe, permanece indecifrado; no entanto, inscrições que dão à Rainha Amanirenas o título de "qore" e também de "candace" sugerem que ela era uma rainha governante por seu próprio direito.[2] BiografiaA rainha Amanirenas é uma das rainhas meroíticas mais famosas devido ao seu papel na liderança do exército cuxita contra os romanos em uma guerra que durou três anos (25 ARC a 22 EC). Esta guerra é em parte responsável por travar a expansão de Roma para sul da África. Após uma vitória inicial contra o Egito romano, o prefeito Caio Petrônio expulsou o exército cuxita do Egito e estabeleceu uma nova fronteira romana em Hiere Sycaminos (Maharraqa), 120 quilômetros ao sul de Assuã.[2][3][4] O relato de Estrabão sobre a Guerra Meroítica liderada contra o Império Romano inclui uma rainha chamada candace (Κανδάκη, geralmente latinizada como Candace). Seu nome aparece em estelas ao lado das de Teritecas e Aquinidade, mas a relação precisa entre esses três não é totalmente clara no registro histórico; no entanto, os estudiosos geralmente consideram Aquinidade seu filho e Teritecas seu marido. Ela teria sido sucedida pela candace Amani-Xaquéto.[2] Relato de Estrabão (17.53-54)Invasão cuxita do EgitoAmanirenas foi descrita por Estrabão como cega de um olho. De acordo com seu relato, as forças cuxitas lançaram um ataque contra Tebais e Siene enquanto o então prefeito Élio Galo estava fora, lutando na Arábia em 25 AEC. Eles tiveram sucesso em capturar Siene, Elefantina e Filas. Ao tomarem a cidade, escravizaram os habitantes e destruíram as estátuas de César Augusto. Embora Estrabão não mencione isso especificamente, a cabeça de uma dessas estátuas foi enterrada sob os degraus de um templo, resultando em sua preservação única. O busto permaneceu intacto ao longo dos séculos e agora está exposto no Museu Britânico.[5] Campanha Núbia de PetrônioEstrabão afirma que Caio Petrônio, o novo prefeito do Egito, marchou com “menos de dez mil de infantaria e oitocentas de cavalaria” contra trinta mil homens cuxitas em Siene. Os cuxitas lutaram com “escudos grandes e oblongos feitos de couro de boi cru” e armas simples, como machados, lanças e espadas. Por causa disso, eles foram esmagados pelo ataque de Petrônio. Estrabão descreve as forças cuxitas como “mal organizadas”.[5] As forças cuxitas afirmaram que a sua invasão se devia a um problema com os nomarcas, o tradicional magistrado-chefe do Egito; Estrabão não fornece informações sobre qual seria esse problema. Após a vitória de Petrônio, o exército cuxita fugiu em várias direções: alguns para as cidades, alguns para o deserto e outros para uma ilha próxima.[5] Estrabão atesta que “entre esses fugitivos estavam os generais da Rainha Candace”, rainha dos Etíopes. Ele a descreve como “um tipo de mulher masculina e cega de um olho”. Estrabão quase certamente está se referindo a Amanirenas, que tinha o título de kandake; “Candace” é uma latinização de seu título e não se refere a um governante separado. Depois de capturar as forças em fuga, Petrônio as enviou para Alexandria para aguardar o julgamento.[5] A própria Amanirenas residia em Napata com o filho. À medida que Petrônio se aproximava, tomando Pselquis e Premnis ao longo do caminho, Amanirenas despachou enviados e a mensagem de que ela devolveria os cativos levados em Siene e as estátuas de César. Seu pedido foi ignorado e a cidade foi destruída. Dos cativos sobreviventes que tomou, alguns foram vendidos e outros enviados a Augusto como prisioneiros de guerra.[5] Em resposta, Amanirenas liderou um segundo ataque contra as forças de Petrônio deixadas para trás em Premnis. Estrabão afirma que ela tinha “muitos milhares de homens”. Petrônio superou Amanirenas e chegou primeiro a Premnis, protegendo-o contra seu ataque. Amanirenas enviou embaixadores, que Petrônio escoltou até Augusto, que havia chegado algum tempo antes deste ataque. Augusto não impôs mais tributos e atendeu aos desejos dos embaixadores.[5] Tratado de pazApós o sucesso da campanha núbia de Petrônio, a fronteira sul do Império Romano ultrapassou o Egito até Primis (Forte Ibrim). O tratado de paz resultante viu parte da Faixa das Trinta Milhas, incluindo Primis, evacuada pelos romanos. Os meroítas estavam isentos de pagar tributo ao Império. O tratado permitiu que os romanos continuassem a ocupar Dodecasqueno (“Terras das Doze Milhas”) como zona de fronteira militar. A fronteira romana foi então transferida para perto de Hiere Sicamino (Maarraca).[6] Este tratado permaneceu ativo até o final do século III EC, com as relações entre os cuxitas e o Egito romano permanecendo geralmente pacíficas durante este período.[7] O reino de Cuxe permaneceu uma potência formidável até o seu declínio durante o segundo século EC.[6] LegadoEmbora inicialmente obscura, Amanirenas se tornou uma figura popular devido a publicações populares recentes, como Rejected Princesses: Heroines, Hellions, and Heretics, de Jason Porath, e ao interesse acadêmico renovado na resistência ao domínio romano. A introdução de estudos pós-coloniais e o foco na identidade sob o domínio imperial dentro dos trabalhos clássicos e as publicações resultantes ampliaram a compreensão do assunto, mas as informações sobre Amanirenas permanecem limitadas devido ao meroítico ser uma língua indecifrada. O relato de Estrabão, sendo a única fonte primária traduzida para discutir detalhadamente Amanirenas, limita ainda mais a compreensão da rainha.[5] Ligações externas
Referências
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