Alarico Ribeiro

Alarico Ribeiro
Nascimento 7 de outubro de 1876
Cachoeira do Sul
Morte 2 de outubro de 1905
Cidadania Brasil
Ocupação escritor, poeta

Alarico Herculano de Sampaio Ribeiro (Cachoeira do Sul, 7 de outubro de 1876 - Porto Alegre, 2 de outubro de 1905) foi um advogado, poeta, dramaturgo e jornalista brasileiro.[1]

Biografia

Nascido em Cachoeira do Sul em 7 de outubro de 1876,[2] era filho do doutor Cincinato Herculano de Sampaio Ribeiro e sobrinho do general Frederico Sólon de Sampaio Ribeiro. Teve os irmãos Armando e Aristides, que morreram jovens combatendo na Revolução de 1893, mais o irmão Múcio e duas irmãs. Estudou no Colégio Militar de Porto Alegre[3] e graduou-se na Faculdade de Direito de São Paulo, onde participou das atividades do Clube Vinte de Setembro e entrou em contato com a filosofia de Augusto Comte, sendo um dos articuladores do positivismo no Rio Grande do Sul.[4]

Em seu retorno ao sul fixou-se em Cachoeira, mas a partir de 1891 viveu em Porto Alegre,[5] sendo admitido como funcionário da Secretaria da Fazenda. Em 1893 foi nomeado promotor público da Comarca de Cachoeira.[6] Filiado ao Partido Republicano Rio-Grandense,[7] combateu do lado republicano na Revolução de 1893, recebendo a patente de capitão e comandando um regimento de cavalaria.[3] Seu Glossário Policial, publicado em 1899, foi adotado pelo governo do estado para uso como referência em todas as diligências policiais.[8] Em 1900 era secretário diretor geral da Chefatura de Polícia do estado, posição que manteve até sua morte.[9][10]

No campo das letras, em 1890, junto com Viriato Vieira e Vitorino de Medeiros, fundou o jornal 15 de Novembro em Cachoeira, "três jovens lutadores com quem a República contou sempre, ainda mesmo nos tempos mais difíceis, quando mais aceso ia o assanhamento da reação dinástica".[11] Em 1891 assumiu a direção do jornal.[12] Ainda em 1891 foi contratado como auxiliar da redação pelo jornal A Federação de Porto Alegre,[5] e fundou na capital a revista Mecenas em 1894.[1] Sua comédia A letrada foi apresentada em 1895 em Cachoeira[13] e em 1901 no Theatro São Pedro de Porto Alegre.[14] Em 1903 assumiu a redação da Gazeta do Comércio.[15] Em 1904 era professor do Ginásio do Rio Grande do Sul, mantido pela Faculdade de Engenharia.[16]

Disse Múcio Teixeira que, apesar de ter uma compleição robusta, nunca gozou de boa saúde, sofria de insônia e dispneia, e morreu prematuramente em função de uma "tísica pulmonar de caráter galopante".[3] Em seu falecimento em 2 de outubro de 1905 recebeu várias homenagens, e a Chefatura de Polícia fechou e hasteou a bandeira nacional a meio pau. O obituário no jornal A Federação foi muito elogioso, destacando que como funcionário público "mostrou-se empregado exemplar, dedicando toda a sua inteligência, que era primorosa e cultivada, ao serviço público do Rio Grande. [...] Na Federação, que o teve como colaborador efetivo, ele deixa brilhantes produções de sua privilegiada inteligência. Poeta, literato, jornalista doutrinário e combatente, lutador honesto e digno, sua morte nos desola lancinantemente".[17] O sepultamento no dia seguinte foi muito concorrido, contando com a presença do presidente do estado Borges de Medeiros e assessores, o intendente municipal José Montaury, o chefe de polícia Pedro Mibielli e todo o pessoal do departamento, além de representantes da imprensa e outras autoridades.[18] O tenente-coronel Ernesto Jaeger organizou uma coleta de fundos com a colaboração do jornal para os filhos menores que deixou.[19]

Foi homenageado com a ereção de um obelisco com sua efígie em uma praça do bairro Teresópolis, inaugurado em 20 de setembro de 1911 com grande solenidade e festa.[20] Ruas em Cachoeira do Sul e Porto Alegre foram batizadas com seu nome.[21][22]

Obra

Começou a ser notado na literatura com a publicação em 1889 do panfleto em versos O Trono e os Vencidos, dirigido à Princesa Isabel, que segundo Walter Spalding lhe trouxe renome. Publicou poesias no jornal A Federação, como o longo poema O Pampa (1894), onde atacou os federalistas. Pode ter sido autor de epigramas e sátiras políticas publicadas anonimamente.[23] Foi colaborador regular d'A Federação escrevendo crônicas e comentário político,[24][25] e participou da importante antologia literária Sonoras, publicada em 1891 pela editora Universal de Pelotas e apoiada por Machado de Assis, Olavo Bilac e Raimundo Correia e membros do Partenon Literário, e que segundo Jaqueline da Cunha "centralizou o anseio de consolidação de um repertório de autores e de uma biblioteca regionais".[26]

Sua obra mais importante é o volume de poesias Oásis (1896), que foi reeditado em 1997 pela Editora da Universidade Federal de Santa Maria e apresentado como "um livro composto por 46 poemas, transitando do verso de tendência política ao de inspiração filosófica, da poesia localista à de preocupação social. Registra o estágio da poesia rio-grandense, ao final do século passado, num estado que saía de uma guerra civil e procurava ganhar expressão junto a seus pares nacionais".[27]

Poeta da escola parnasiana, Múcio Teixeira disse que era "um poeta rico de originalidade e sentimento, não esperdiçando rimas com banalidades metrificadas, mas engastando o diamante da ideia no aro de uma forma concisa e raciocinada".[3] Ativo numa época em que os literatos do estado estavam alinhados em geral à estética romântica e preocupados com a questão do regionalismo, para Guilhermino César foi através dos parnasianos "que o Rio Grande conseguiu produzir três poetas de corte universal, libertos de prejuízos e limitações provincianas: Fontoura Xavier, Alberto Ramos e Alarico Ribeiro".[28] Guilhermino disse ainda que ele foi um poeta "que representou, no Rio Grande do Sul, a melhor tendência da poesia parnasiana brasileira. [...] Pôde enfrentar, contornando os escolhos da banalidade, os mais ousados temas; exprimiu-se invariavelmente com elevação e nobreza. Perguntou sempre, pois o destino do homem era o que mais o preocupava".[2]

Publicações
  • O Trono e os Vencidos, 1889
  • Oásis (poesias), 1896
  • Glossário Policial (instruções), 1899
  • A Letrada (comédia), 1895
  • O Tributo das Árvores (poesias), 1903
  • Os Vencidos - inédito

Referências

  1. a b Núcleo de Pesquisa em Informática, Literatura e Linguística. "Alarico Herculano de Sampaio Ribeiro". Universidade Federal de Santa Catarina
  2. a b César, Guilhermino. História da literatura do Rio Grande do Sul, 1737-1902. Globo, 1971, pp. 294-296
  3. a b c d Teixeira, Mucio Scœvola Lopes. Os gaúchos: estudo do meio physico, do momento histórico, da vida pampeana, do cancioneiro popular e synthese biográphica dos Rio-Grandenses illustres, Volume 2. Ribeiro, 1921, pp. 297-302
  4. Boeira, Nelson. "O Rio Grande de Augusto Comte". In: Dacanal, José H. & Gomzaga, Sergius (org.). RS: cultura & ideologia. Mercado Aberto, 1980, p. 38
  5. a b "Alarico Ribeiro". A Federação, 26/06/1891, p. 1
  6. "Governo do Estado". A Federação, 20/03/1893, p. 1
  7. "Da Cachoeira". A Federação, 19/05/1890, p. 1
  8. "Obras de Direito". Illustração Pelotense, 1921; III (21): 34
  9. "Communicou-se". A Federação, 04/04/1900, p. 2
  10. "Estado do Rio Grande do Sul: Polícia". Almanak Laemmert: Administrativo, Mercantil e Industrial. Companhia Typographica do Brazil, 1906, p. 141
  11. "15 de Novembro". A Federação, 08/01/1890, p. 1
  12. "15 de Novembro". A Federação, 25/11/1891, p. 5
  13. "Serviço Telegraphico". A Federação, 27/06/1895, p. 2
  14. Fischer, Antenor. A literatura dramática do Rio Grande do Sul: (de 1900 a 1950), vol. 2. Doutorado. Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, 2007, p. 208
  15. "Rectificação necessaria". A Federação, 16/01/1903, p. 1
  16. "Gymnasio do Rio Grande do Sul". A Federação, 02/01/1903, p. 3
  17. "Registro mortuario - Alarico Ribeiro". A Federação, 02/10/1904, p. 2
  18. "Registro mortuario - Alarico Ribeiro". A Federação, 03/10/1904, p. 2
  19. "Alarico Ribeiro". A Federação, 28/05/1908, p. 2
  20. "Festa das Árvores". A Federação, 21/09/1911, p. 1
  21. "Rua Alarico Ribeiro". CEP Brasil
  22. "Rua Alarico Ribeiro". Consulta CEP
  23. Spalding, Walter. "Prudente de Morais e o Castilhismo". In: Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, 1968 (280): 38-41
  24. "Por nos ter chegado tarde". A Federação, 01/06/1904, p. 2
  25. "Parte sexta-feira". A Federação, 25/10/1904, p. 2
  26. Cunha, Jaqueline Rosa da. A formação do sistema literário de Pelotas: uma contribuição para a literatura do Rio Grande do Sul. Doutorado. Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, 2009, pp. 137-140
  27. Oásis". Editora da Universidade Federal de Santa Maria
  28. César, Guilhermino. "A vida literária". In: Prado, Aurea (org.). Rio Grande do Sul; terra e povo. Globo, 1964, p. 209