Adolfo César de Noronha
Adolfo César de Noronha (Funchal, 9 de setembro de 1873 — Funchal, 6 de abril de 1963) foi um naturalista e homem de cultura madeirense.[1] É conhecido por ter sido o grande impulsionador do Museu de História Natural do Funchal. BiografiaOriundo de uma família com ligações à ilha do Porto Santo, Adolfo César nasceu na residência da família Noronha (Rua das Cruzes 3, casa que tinha sido o primeiro hospital da ilha) no Funchal, ilha da Madeira, cidade onde completou o ensino secundário no Liceu Nacional do Funchal. Continuou a sua formação fora da Madeira, tendo frequentado a Escola Politécnica de Lisboa e a Academia Politécnica do Porto.[1] Regressou ao Funchal, cidade onde a 11 de dezembro de 1914 foi nomeado bibliotecário da Biblioteca Municipal do Funchal, ascendendo em 1928 a seu director, cargo que ocupou até à aposentação em 1943.[1] Para além das suas funções como bibliotecário e director da Biblioteca Municipal do Funchal, dedicou-se à história natural do arquipélago da Madeira, com a realização de observações meteorológicas, colheita de espécimes vegetais e animais e, particularmente, constituindo-se com o seu conhecimento local e capacidade de falar inglês, francês e alemão, em ponto de apoio às expedições científicas internacionais que foram visitando as ilhas. A sua recolha de fósseis e as observações ornitológicas e, em especial, de peixes de profundidade capturados pelos pescadores de peixe-espada-preto foram notáveis e em muitos casos seminais. As suas colheitas serviram de base a estudos conduzidos por cientistas da época, com destaque para Ernesto Schmitz (aves) e para Ziwko J. Joksimowitsch (o paleontólogo sérvio Živko Joksimović), Leo Paul Oppenheim e Johannes Böhm (fósseis)[2]. No que respeita à fauna marinha, para além de múltiplos espécimes de peixes resultantes de capturas acidentais na pesca do espadarte, recolheu esponjas e briozoários, muitos deles pertencentes as espécies novas para a ciência. O caso mais conhecido foi a descoberta durante operações de dragagem realizadas em 1909 no litoral da ilha do Porto Santo de uma esponja incrustante, com espículas calcárias e siliciosas, a que foi dado o nome de Merlia normani. Estas dragagens foram feitas em conjunto com o espongiologista britânico Randolph Kirkpatrick, que publicou a descrição daquela esponja.[3] O mesmo cientista dedicou-lhe o género de esponjas Noronha Kirkpatrick, 1908,[4] presentemente considerado um sinónimo taxonómico de Merlia.[5] Da sua colaboração e correspondência com cientistas de várias nacionalidades resultou ser o seu nome epónimo de vários taxa, entre os quais Schizoporella noronhai (um briozoário abissal), Pecten noronhai e Spondylus noronhai (moluscos bivalves fósseis). Liderou em 1922 uma expedição científica às ilhas Selvagens, que visitara em 1906 e 1909, na qual participaram, entre outros, Adão Nunes e Damião Peres. Devido a dificuldades com o transporte de volta à ilha da Madeira, o grupo permaneceu dois meses naquelas ilhas, sendo o regresso ao Funchal motivo de recepção, noticiado pelo Diário de Notícias do Funchal de 13 de junho desse ano de 1922. As observações meteorológicas e os espécimes recolhidos foram enviadas a especialistas internacionais.[1] A sua principal contribuição para a ciência ocorreu no campo do estudo dos peixes das águas profundas do arquipélago da Madeira, matéria em que foi pioneiro. Aproveitando as técnicas de pesca abissal desenvolvidas para a captura do peixe-espada-preto, para além de desenvolver um estudo aprofundado desta espécie, que publicou em 1925,[6] estudou os peixes de profundidade que eram capturados acidentalmente na pescaria do Aphanopus carbo. Desse estudo resultaram duas novas espécies para a ciência: um peixe da família dos escolares, Diplogonurus maderensis;[7] e um raro tubarão de profundidade, que dedicou ao seu amigo Alberto Artur Sarmento com o binome Squaliolus sarmenti.[8] Para além de ter sido um dos colaboradores de Fernando Augusto da Silva e Carlos Azevedo de Meneses na preparação do Elucidário Madeirense (1922), num trabalho de co-autoria com Alberto Artur Sarmento, publicou em 1934 uma de divulgação intitulado Os Peixes dos Mares da Madeira.[9] Em 1948 elaborou o segundo volume (dedicado aos peixes) da obra Vertebrados da Madeira, editado pela Junta Geral do Distrito Autónomo do Funchal.[10] Para além da sua contribuição como naturalista, a sua acção foi determinante na reinstalação da Biblioteca Municipal do Funchal, ao tempo instalada no edifício dos Paços do Concelho em instalações exíguas, e na iniciativa de adquirir um edifício que permitisse a criação de um museu que pudesse alojar as colecções de história natural e outro património pertencente ao Município do Funchal.[1] Conseguiu em 1929 que com a criação do Museu Regional da Madeira e a aquisição do Palácio de São Pedro (Funchal) essas condições fossem criadas. Para isso foi decisiva a sua iniciativa de obter a emissão de um selo postal da Madeira cuja receita reverteu para a aquisição. Com a colaboração de Günther E. Maul, o museu abriu em 1933, dando origem ao actual Museu de História Natural do Funchal. Casou-se com Georgina Rebelo de Oliveira a 23 de fevereiro de 1923, no Funchal e alugou uma casa na Rua do Quebra-Costas. Quando ficou viúvo em 1945 voltou a viver na casa de família onde tinha nascido, propriedade das suas sobrinhas Adelaide Susana de Noronha Wilbraham Soares de Sousa (1915-2017) e Laura Cristina de Noronha Wilbraham (1917-2008). Aposentou-se a 9 de setembro de 1943, tendo nessa data a Câmara Municipal do Funchal atribuído o seu nome à sala principal do Museu. Veio a falecer a 6 de abril de 1963 na casa onde tinha nascido, 89 anos antes. Obras publicadasEntre muitas outras, é autor das seguintes obras:
Notas
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