A Conquista (romance)
A Conquista é um roman à clef, "romance de formação e de vida boêmia"[1] do escritor brasileiro Coelho Neto. Foi publicado em 1899. Narra as aventuras e desventuras (e falta de dinheiro e às vezes até de perspectivas de sucesso) de sua geração de poetas, teatrólogos, jornalistas, intelectuais, boêmios na cidade do Rio de Janeiro nos anos em que a campanha abolicionista (e o movimento republicano) estão a pleno vapor e que culminam com a libertação dos escravos. "Em A conquista, temos a reconstituição da vida literária dos fins do século XIX, livro do triunfo da geração boêmia. A narrativa nasce das andanças e encontros aleatórios pela cidade. Os boêmios em suas desventuras romanescas flanavam pelo Rio de Janeiro."[2] Dentre os romances brasileiros é o que mais se aproxima da escrita de Eça de Queiroz na variedade de personagens (jovens), profusão de diálogos, riqueza descritiva.[3] Aqui está a "chave" dos nomes no romance e reais dos principais personagens da obra:
O abolicionista José do Patrocínio é chamado pelo nome completo ou pelo sobrenome Patrocínio. A Conquista refere-se à principal conquista comemorada por aquela geração: A Abolição. Descrições do Rio de JaneiroOutro ponto forte da obra, além do ambiente artístico e intelectual, são as descrições vívidas do Rio de Janeiro da época, "a cidade ideal dos que têm na alma uma aspiração". Assim, somos transportados à zona de prostituição do Largo do Rocio, atual Praça Tiradentes ("As mulheres, debruçadas às janelas, entre as cortinas, algaraviavam. [...] Não contentes com a exposição dos corpos ainda chamavam os transeuntes [...] e aquilo lembrava uma cena de mercado oriental"), de uma janela alta (o "mirante") lançamos o olhar sobre o Rio Antigo ("Os rapazes refugiavam-se no mirante [...] vendo, à distância, a massa de verdura do parque da Aclamação [atual Praça da República], o grande quadrilátero do quartel e torres de igrejas, o zimbório da Candelária e os morros esmaltados de casas, alvas no verdor do arvoredo denso."), descobrimos que Cascadura ainda era zona rural ("meteu-se num trem e foi correr os subúrbios achando uma casa modesta, de feição campestre, com muito terreno arborizado e uma cacimba, em Cascadura, numa larga estrada quase deserta que levava aos montes."), percorremos o Largo da Carioca ainda com seu chafariz ("Chegaram ao Largo da Carioca. Em torno de um quiosque iluminado homens apinhavam-se e discutiam alegremente chuchurreando café. Uma negra, sentada nos degraus do chafariz, apregoava, em voz lamentosa, prolongando muito as palavras: 'Miiingau de ta... pioca... tá... quentinho, freguês.' Homens dormiam estirados na pedra, de papo para o ar. Dois cães corriam polo largo perseguindo-se."), descobrimos que alguns cariocas já iam à praia ("Uma multidão chapinhava na areia úmida que guardava a pegada funda até que a onda, subindo preguiçosamente, a desmanchava. Havia barracas de lona como brancas pirâmides, mas a maioria dos que mergulhavam vinha já pronta nas roupas de flanela dos estabelecimentos balneários."), percorremos o mercado do Largo do Paço, atual Praça XV:
Em certo ponto do livro, o autor, citando o dito de Balzac de que as ruas têm "qualidades e vícios humanos", traça um perfil "psicológico" de várias ruas (e uma praia) da cidade que seria mais tarde retomado, em escala maior, por João do Rio em sua A Alma Encantadora das Ruas. Referências
Ligações externas
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