A Sonata para piano n. ° 14, a primeira dos Op. 27, inicia uma nova série de ideias para Beethoven. Com essa sonata, Beethoven abandona a solidez da forma-sonata e alça voos mais audaciosos.
Assim como a sua "irmã famosa", a Sonata ao Luar, esta sonata traz a inscrição "Sonata quasi una fantasia" em seu primeiro movimento. Esse movimento é seccionado e traz várias ideias musicais diferentes. Se fôssemos analisar em termos de forma-sonata, seria como se a "Exposição" tivesse dois temas distintos, o primeiro com os acordes na mão direita e as escalas na esquerda; e o segundo tema com a melodia acompanhada pelos acordes. Depois de apresentar esses temas sucessivamente, Beethoven muda o andamento e coloca um compasso composto -6/8- para nos apresentar o "desenvolvimento". Essa seção do primeiro movimento é bem contrastante com o resto, com arpejos quebrados ascendentes e várias semicolcheias. O caráter instrumental é evidente e contrasta-se bastante com o caráter vocal das primeiras seções do movimento. Depois, Beethoven retorna a calma da abertura da sonata e encerra o movimento, com um attacca subito l'Allegro, que indica a continuidade de movimentos.
Beethoven não quer uma "pausa" entre movimentos. O pianista não tem tempo para "descansar" ou pensar muito antes de "atacar" o Allegro. Beethoven escreve acordes quebrados (três notas) em ambas as mãos. E consegue criar um movimento inteiro baseado nisso. Mais uma prova do talento do compositor que pegou um dos elementos mais básicos da música - um acorde de três notas - e criou um movimento inteiro de uma sonata.
Assim como não deve haver nenhuma interrupção entre o primeiro e segundo movimentos; entre o segundo e terceiros Beethoven também escreveu "attacca subito".
O Adagio, curto, traz um belo tema, acompanhado por acordes na mão esquerda - típico de Beethoven. Além da melodia sublime, Beethoven usa também a síncope para quebrar a pulsação rítmica em várias oportunidades. O adagio termina com um improviso escrito, preparando o movimento final. (Sim, aqui também Beethoven escreve "attacca subito", de modo que a sonata inteira, deve ser tocada praticamente num só fôlego).
O allegro vivace final é bem movimentado, com um tema cativante e vem na forma de um elaborado rondo. O interessante nesse movimento é como termina. Na coda final, Beethoven traz de volta o tema do Adágio, como uma reminiscência para então sim, acabar a sonata num final triunfante.
Beethoven quer que a sonata inteira seja compreendida como uma peça única, como uma fantasia de várias ideias distintas. A mesma ideia o levou a escrever sua sonata seguinte.
Fonte
BERBER, (apelido). Sonata Op. 27 n. 1. Extraído do sítio do Fórum musical Presto, [1], publicado com permissão do autor. Acesso em: 24 de junho de 2007.
Bibliografia
Gordon, Steward (2005) Editorial matter to his edition of the Beethoven piano sonatas, Volume II. Alfred Music Publishing.
Jones, Timothy (1999) The "Moonlight" and other sonatas, Op. 27 and Op. 31. Cambridge: Cambridge University Press.
Lockwood, Lewis (1996) "Reshaping the genre: Beethoven's piano sonatas from Op. 22 to Op. 28 (1799–1801)". Israeli Studies in Musicology 6: 1–16.
Marson, Nicholas (2000) "The sense of an ending": goal directedness in Beethoven's music. In Glenn Stanley, ed., The Cambridge Companion to Beethoven. Cambridge: Cambridge University Press.
Rosen, Charles (2002) Beethoven's Piano Sonatas: A Short Companion. New Haven: Yale University press.
Sisman, Elaine (1998) After the heroic style: "fantasias" and the characteristic sonatas of 1809. In Stanley, Glenn (1998) Beethoven Forum VI. University of Nebraska Press.
Referências
↑COOPER, Barry. Beethoven: Um Compêndio. Tradução de Mauro Gama e Cláudia Martinelli Gama. Rio de Janeiro, Jorge Zahar Editor. 1996. ISBN 85-7110-349-6