Justo Ukon Takayama

Iustus Takayama Ukon
高山右近
beato
Justo Ukon Takayama
Ilustração de Takayama Ukon
Nascimento 4 de Fevereiro de 1552
Takayama, Japão no período Sengoku
Morte 5 de fevereiro de 1615 (63 anos)
Manila, Capitania-Geral das Filipinas
Veneração por Igreja Católica
Beatificação 7 de Fevereiro de 2017
Osaka, Japão
por Angelo Amato, representando Papa Francisco
Festa litúrgica 3 de fevereiro
Atribuições espada, crucifixo, vestimentas samurai
Portal dos Santos

Takayama Ukon (高山右近?) ou Iustus Takayama Ukon ou ainda Dom Justo Ukon Takayama (4 de fevereiro de 15525 de fevereiro de 1615) foi daimiô cristão e samurai que seguiu o Cristianismo durante o período Sengoku no Japão.

Justo é o seu nome de baptismo, Takayama o seu apelido e Ukon constitui um título de cariz político. No dia 22 de janeiro de 2016, o Papa Francisco assinou o decreto que reconhece o seu martírio. E no dia 7 de fevereiro de 2017, foi beatificado, tornando-se assim, o primeiro beato samurai.

Beatificação

O pedido de beatificação de Justo Ukon Takayama foi realizado pela Arquidiocese de Manila em 1630, tendo sido retomada por bispos japoneses em 1963.[1] No dia 22 de janeiro de 2016 o Papa Francisco assinou um decreto que reconhece o martírio de Dom Justo Ukon Takayama, um samurai japonês do século XVI que preferiu perder seus bens e ser exilado a renunciar sua fé em Cristo.[2] Em 07 de fevereiro de 2017, Justo Ukon Takayama, também chamado de Samurai de Cristo, foi beatificado em cerimônia realizada na arena Osaka-jō Hall, em Osaka, Japão, diante da presença de 12 mil pessoas.[3][4]

Biografia

Dom Justo era filho de Tomoteru Takayama (1531-1596), um vassalo de Hisahide Matsunaga, também conhecido como Zusho,[5] senhor do castelo de Sawa , na província de Yamato. Tomoteru converteu-se ao Cristianismo em 1564 com o nome Dário e persuadiu toda a sua família a ser baptizada com ele.

Dom Justo nasceu a 4 de Fevereiro de 1552, em Takayama, provincia de Settsu, com o nome de Hikogorō. Foi baptizado aos 12 anos, com o nome de Justo. Alguns indicam que foi baptizado pelo padre jesuíta Gaspare de Lella, outros pelo Irmão Lourenço.[6] Na cerimónia de maioridade mudou o seu nome para Shigetomo. E, posteriormente, devido as suas responsabilidades políticas como oficial de Ukonefu adoptará o nome de Ukon, pelo qual ficará conhecido. Dom Justo Takayama Ukon tinha uma irmã e dois irmãos.[7]

Guerras feudais

Dom Justo viveu numa das fases mais conturbadas e instáveis da história do Japão, conhecida como Sengoku Jidai, período dos feudos beligerantes. Era uma época de conturbadas guerras civis entre os diversos senhores feudais.

Em 1565, o senhor feudal Hisahide Matsunaga assassina o general Yoshiteru Ashikaga e começa uma guerra com Miyoshi. Nessa luta, o clã Takayama, derrotado em batalha, foge do castelo de Sawa. Pela intercessão de um amigo de Tomoteru, chamado Koremasa Wada, o clã Takayama entra ao serviço de Nobunaga Oda, em 1568.

Em 1571, o clã Wada confronta Murashige Araki, um vassalo de Katsumasa Ikeda, que servia Miyoshi. Em resposta, Murashige sitia o castelo de Tomoteru. O amigo Koremasa Wada vem em auxílio de Tomoteru, mas morre na batalha. Murashige, não obstante, vê-se incapaz de conquistar o castelo de Tomoteru e retira-se.

Korenaga, filho de Koremasa, torna-se líder do clã Wada. Todavia ele não partilha a simpatia do seu pai pelo clã Takayama. E decide conspirar contra Tomoteru. Quando chegam os rumores de tal conspiração a Tomoteru, ele decide agir primeiro, Em abril de 1573, chama Korenaga para visitar o seu castelo. Esperavam-no 15 samurais e também Ukon. Korenaga é assassinado. O clã Takayama toma posse do castelo do clã Wada em Takatsuki. É apoiado por Murashige Araki, vassalo de Nobunaga Oda.

O clã Takayama mantém-se sob a influência do clã Araki até 1578. Nesse ano Murashige Araki revolta-se contra Nobunaga. As razões para a revolta não são claras, mas consta que tudo se deve a possível intenção que Nobunaga tinha de despojar Murashige dos seus bens.

Vários castelos que formavam o perímetro em volta de Itami, eram críticos de Murashige Araki. Entre eles estavam o castelo de Ibaraki e o seu senhor Kiyohide Nakagawa, também conhecido como Sebei Nakagawa (1542-1583) e o castelo de Takatsuki e o seu senhor Dário Tomoteru Takayama.

Nobunaga vem em auxílio do seu vassalo Murashige Araki. Cerca o castelo de Takatsuki e manda chamar o Padre Gnecchi-Soldo Organtino.[8]

Sabendo que o clã Takayama tinha devotos cristãos tenta mostrar ao jesuíta os benefícios de uma rendição e a ameaça com a destruição total da igreja no caso de insubmissão. O padre Organtino informa o jovem Ukon das ameaças de Nobunaga. O jovem Ukon, advertido pelo padre Organtino, abandona o castelo a meio da noite, encontra-se com Murashige Araki e pede-lhe perdão. O seu objectivo era de que os fiéis cristãos nos seus domínios não sofressem represálias. O seu pai Dário Tomoteru fica furioso com a sua iniciativa, mas resolve-se o problema dos reféns do clã Takayama, que serão libertos.

Nobunaga recompensa Ukon pelo seu gesto e fica imensamente impressionado com o facto de ele ter convencido Kiyohide Nakagawa a abrir os portões do castelo de Ibaraki aos seus exércitos. Deste modo, Kiyohide consegue manter, sob o domínio de Nobunaga, o castelo de Ibaraki. E também Ukon consegue conservar o castelo de Takatsuki. Ambos, nos seus domínios, destroem vários templos budistas e xintoistas, construindo igrejas em seu lugar.

Inicialmente Nobunaga, que se opunha ao poder dos monges budistas e tinha destruido o templo de Enryaku não mostrou qualquer preocupação pelas medidas de Ukon. Dom Justo Takayama Ukon permaneceria servindo Nobunaga como seu vassalo e guerreiro. Pelos seus contributos na campanha contra Mitsuhide Akechi, aos 21 anos Dom Justo torna-se o senhor do castelo de Takatsuki e recebe também o feudo de Mino. Ambos estavam dependentes do Castelo de Osaka, agora governado por Nobunaga, conselheiro-chefe, delegado plenipotenciário do Imperador (Kanpaku). Sob o patrocínio de Dom Justo Takayama Ukon o cristianismo floresce. Muitos chamam-lhe o guerreiro do Papa, porque nos seus domínios foram construídas várias igrejas e mais de 20 mil homens se converteram. Construiu uma enorme igreja em Kyoto e um seminário em Azuchi. Apoiou as confrarias da misericórdia, que apoiavam os pobres e desprotegidos.[9]

Daimiô

Dom Justo Takayama Ukon era não só um senhor feudal, guerreiro samurai e evangelizador (senkyoshi), mas também um homem culto. Ele foi um dos sete discípulos do mestre Sen no Rikyu (1522-29), que iniciou a conhecida cerimónia do chá (Sado).

O português Padre Luis de Frois, que o conheceu pessoalmente diz: “Justo, senhor do castelo, merece verdadeiramente este nome. Apesar de ser um poderoso senhor, um jovem homem de 28 anos e um dos distintos oficiais de Nobunaga, mostra obediência e humildade para com os padres e a Igreja. Parece mais um servo, que um senhor. Ele observa fielmente as leis de Deus, para maravilha dos infiéis”.

O mesmo missionário jesuíta conta que numa quinta-feira santa, Dom Justo se teria envolvido no deboche em Kyoto para escândalo dos fiéis. Porém, arrependido dos seus actos pecaminosos, na sexta-feira santa aparece como penitente público e ordena que distribuam arroz pelos pobres em reparação pelo escândalo provocado.

Depois da morte de Nobunaga, Dom Justo combaterá com distinção ao lado de Hideyoshi Toyotomi, recebendo o seu reconhecimento como guerreiro. Não obstante, no funeral de Nobunaga responde a Hideyoshi que não participará em rituais budistas, afirmando: “é contra a minha religião”.

Com o triunfo de Hideyoshi em Yamagazaki gera-se uma disputa entre os sucessores de Nobunaga. As tensões transformam-se numa guerra entre Hideyoshi Toyotomi e Katsuie Shibata. Em 1582 Hideyoshi envia Ukon Takayama (senhor de Takatsuki) e Kyohide Nakagawa (senhor de Ibaraki) ao norte de Omi e pede-lhes que bloqueiem os movimentos de Shibata abaixo de Echizen. Takayama fixa-se em Iwasakiyama e Nakagawa em Shizugatake. Em 1583, Katsuie envia um exército, liderado por Morimasa Sakuma. Nessa campanha, Dom Justo é forçado a abandonar as fortificações e a fugir de Shizugatake para Tagami. No cerco de Shizugatake, Kyohide Nakagawa é morto. Porém, Morimasa Sakuma não consegue tomar o castelo e acabará por ser derrotado em batalha contra Hideyoshi.

Em 1584, Dom Justo Ukon Takayama serve Toyotomi Hideyoshi na invasão da Ilha de Shikoku. Em 1585, é transferido para Akashi, na província de Harima. Como senhor de Akashi, tal como em Takatsuki, Dom Justo procura converter os seus súbditos. Dos seus 25 mil súbditos, 18 mil tornam-se cristãos. As suas actividades evangelizadoras enfurecem os monges budistas, mas não chamam a atenção de Hideyoshi.

A campanha na Ilha de Kyushu em 1587 seria uma das últimas batalhas de Dom Justo.O xogum Hideyoshi Toyotomi, na região de Yamato derrotara os monges militares budistas, com a assistência de Dom Justo Takayama Ukon. O novo governante do Japão, Hideyoshi Toyotomi, procuraria a partir de então suprimir o cristianismo.

O general Hideyoshi Toyotomi sente que o cristianismo pode se tornar numa força de oposição ao seu governo e, em 1587, ordena que todos os japoneses abandonem a fé católica. Apela também a que todos os senhores feudais renunciem ao cristianismo. Existiam mais de 86 que se teriam convertido ao catolicismo. Todos os missionários e religiosos são expulsos. Ukon recusa abjurar da sua fé e é despojado de todos os seus títulos, dos seus domínios, bens e propriedades.

A 24 de julho de 1587 Dom Justo recebe uma mensagem de Hideyoshi pedindo que ele abandone a fé católica. Se não o fizer perderá os feudos que lhe foram concedidos. Dom Justo Takayama Ukon responde-lhe que embora seja seu vassalo, se sente preparado para abdicar das suas riquezas, poder e títulos para seguir um grande senhor, Jesus Cristo.

Hideyoshi reconsidera. Diz-lhe que perderá os feudos, mas que ficará ao serviço de Narimasa Sassa, senhor (damyo) de Higo, em Kyushu. Em alternativa pode ser exilado para a China com os missionários jesuítas, se desejar. Takayama diz que prefere ser exilado. Dom Justo Takayama Ukon retira-se então para Hyuga, onde será acolhido pelo seu amigo Agostinho Yukinaga Konishi, um poderoso senhor feudal cristão.

Em 1588 depois de se refugiar entre amigos em Kyushu é enganado por Hideyoshi para um encontro em Kyoto e entregue aos cuidados de Toshiie Maeda, senhor de Kanazawa. Hideyoshi espalha o rumor de que Ukon estaria a ser reabilitado. Depois de dois anos combatendo ao lado de Toshiie Maeda em Kanto, Hideyoshi convida-o para uma cerimónia do chá em Kyoto. Mantém-se tudo igual. Permanecerá, sem títulos ou feudos, em Kanazawa.

Em fevereiro de 1614, já sob o governo de Ieyasu Tokugawa, é lhe negado o martírio cruento e condenado ao exílio nas Filipinas. Depois de uma viagem de 150 dias em pleno inverno de Kanazawa a Nagasaki, a 8 de Novembro de 1614, embarca, com 300 cristãos, em direcção a Manila. A sua esposa e filha acompanham-no.[10]

Martírio

Ukon Il Samurai
 Itália Japão
2016 •  cor •  37 min 
Género documentário
Direção Lia Beltrami
Produção Andrea Morghen
Narração Fabrizio Puco
Oreste Baldini
Música Alberto Beltrami
Cinematografia Denis Morosin
Distribuição Itália San Paolo Edizioni
Lançamento Itália 17 de abril de 2016
Idioma italiano
Orçamento 40 mil

Chega as Filipinas a 21 de dezembro, onde é acolhido entusiasticamente pelos missionários jesuítas e crentes filipinos. Mas devido à sua idade avançada e ao esforço da viagem faleceria um mês depois. Os colonizadores espanhóis ainda lhe apresentam a proposta de um ataque ao Japão para proteger os cristãos, oferta que ele recusa liminarmente. Na Igreja Católica considera-se a morte de Dom Justo Takayama Ukon como martírio incruento ou martírio branco. À semelhança de Jesus escolhe o caminho do rebaixamento ou humilhação, ele que era rico torna-se pobre.

Ukon foi retratado recentemente como personagem secundária na telenovela nipónica da NHK, Gunshi Kanbei, em 2014. No enredo é apresentado como um senhor feudal que teve de fazer coisas desagradáveis para proteger o seu clã e a sua familia. Graças a ele Kanbei Kuroda converte-se ao catolicismo. Quando os generais Hideyoshi e, depois, Ieyasu forçam os cristãos a abjurar da sua fé, Ukon permanece firme. Ele prefere perder os seus domínios e ser exilado a abdicar do catolicismo.

O actual Bispo de Kyoto, Yoshinao Otsuka, diz a próposito de Dom Justo: "Ukon, sempre que foi chamado a uma escolha, colocou a sua fé à frente das suas ambições de sucesso e fortuna".[11]

Documentário

Em 17 de Abril de 2016 foi lançado um documentário sobre a vida de Justo Ukon Takayama.[12] O documentário foi produzido pela produtora italiana Aurora Vision, em colaboração com a Trentino Film Commission e com a Companhia de Jesus italiana.

Referências

  1. «Filipinas celebra festa do Beato Justo Takayama Ukon, o Samurai de Cristo.». Gaudium Press. 6 de Fevereiro de 2018. Consultado em 12 de fevereiro de 2018 
  2. Neiva, Sir Charles (28 de Janeiro de 2016). «Samurai mártir será beatificado». Santa Carona. Consultado em 13 de junho de 2016 
  3. Samurai de Cristo é beatificado no Japão - Revista Veja
  4. Missa de beatificação de Justo Takayama Ukon (7,33MB)
  5. LAURES, Johannes (1959). Two Japanese Heroes. Tokyo: Bridgeway press. 13 páginas 
  6. ARIMICHI, Ebisawa (1942). Irmão Lourenço, the First Japanese Lay-Brother of the Society of Jesus and his Letter (Monumenta Niponica, Vol.5). Tokyo: Sophia University. pp. 225–233 
  7. Ebisawa Arimichi, Takayama Ukon (Biography Monographs) [New Edition], Yoshikawa Kobunkan, 2009.
  8. Urugan Bateren. Organtino Gnecchi Soldi, sacerdote gesuita (1532-1609) apostolo di Miyako e secondo padre della cristianità giapponese. Milano: Ferroedizioni. 2009 
  9. Shimazaki Kenji, Kirishitan Daimyo Takayama Ukon no Ashiato o Aruku - Yukari no chi shashin-shu (Walking in the Footsteps of the Christian Daimyo Takayama Ukon: Photo album of places connected with him), Sangaku Publishing, 2014.
  10. Nakanishi Yuki, ed., Takayama Ukon Kirishitan Daimyo e no Shin Shiten (Christian Daimyo Takayama Ukon: A new perspective), Miyaobi Publishing, 2014.
  11. «Ukon Takayama, the 'Samurai of Christ', to be beatified». 11 de outubro de 2014. Consultado em 13 de junho de 2016 
  12. The story of the japanese samurai who could be declared a saint - Rome Reports

Bibliografia

  • John Laures, Studies in Takayama Ukon, Imprensa Nacional, 1955
  • Johannes Laures, Two japanese christian heroes,  Bridgeway Press, 1959.
  • Otohiko Kaga, Takayama Ukon, Kodansha, 1999
  • Tshuyama Chie, Oda Nobunaga to Takayama Ukon,  Sanichi Shobo, 1992

Ligações externas